O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Política

Investigado por: 05/11/2024

Elon Musk não anunciou abertura de fábricas da Tesla e SpaceX no Brasil

Falso
É falso que Elon Musk tenha anunciado investimentos da Tesla e da SpaceX para geração de 20 mil empregos no Brasil. O perfil que fez a postagem é responsável por uma série de vídeos falsos utilizando a imagem do bilionário para disseminar informações mentirosas. Para isso, o autor utiliza uma dublagem inventada, que finge traduzir as falas de Musk em eventos no exterior.

Conteúdo investigado: Em vídeo, um narrador anônimo diz que Elon Musk esteve no Brasil no dia 23 de outubro para participar de um encontro com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e que, durante a suposta estadia, Musk teria anunciado em uma conferência a abertura de fábricas da Tesla e da SpaceX no Brasil, que seriam responsáveis por gerar 20 mil empregos com salários mínimos de R$ 12 mil.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que Elon Musk esteve no Brasil recentemente, se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e anunciou a construção de fábricas da Tesla e da SpaceX no país, como diz vídeo publicado por perfil no TikTok.

O material reúne diversas informações falsas com o objetivo de enganar os seguidores do perfil, começando pelo encontro de Musk com Bolsonaro, que, segundo o narrador anônimo, aconteceu no dia 23 de outubro. Como o vídeo foi publicado no dia 24 de outubro de 2024, dá a entender que o encontro teria sido neste ano. Porém, conforme verificado anteriormente pelo Comprova, Elon Musk não visitou o Brasil em 2024.

A foto utilizada para a introdução do vídeo, do bilionário ao lado do ex-presidente brasileiro, é na verdade uma montagem. Ao pesquisar os nomes dos dois no buscador do Google Imagens, é possível encontrar a foto original, que foi modificada: é uma foto Musk ao lado do ex-ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. Ela foi publicada no X no dia 20 de maio de 2022, data em que Musk esteve no Brasil. Na ocasião, Bolsonaro se encontrou com o empresário, mas para tratar de um projeto dedicado a beneficiar comunidades no estado do Amazonas, como já foi detalhado pelo Comprova.

O narrador também diz que no evento privado, os dois discutiram sobre “a ameaça comunista que assombra o país”, o que também é falso, já que não há evidência alguma de que esse encontro aconteceu em 2024. O autor da dublagem falsa faz menção, ainda, a outra desinformação divulgada recentemente, no mesmo perfil, de que Musk construiria escolas no Brasil, o que não procede.

| Imagem montada utilizada por vídeo

| Imagem original

Na sequência, o autor diz que após a reunião com Bolsonaro, Musk participou de uma conferência na qual anunciou investimentos no Brasil, que seriam feitos através da construção de fábricas da Tesla e da SpaceX.

Para tentar dar veracidade ao conteúdo fabricado, o responsável pela postagem coloca o trecho da participação de Musk em um podcast, mas se utilizando de uma dublagem falsa, que traduz erroneamente o assunto que está sendo tratado pelo empresário.

O vídeo utilizado não é de uma conferência realizada no Brasil no dia 23 de outubro, mas sim de uma participação de Musk no “The All In Podcast”, um programa que trata de assuntos como negócios, tecnologia e sociedade, que foi transmitido ao vivo no dia 9 de setembro de 2024. O vídeo completo está disponível no canal do podcast no YouTube.

A verificação identificou que o trecho exato utilizado pelo conteúdo falso está entre 10min36s a 11min33s. O professor de inglês Kadu Carvalho, do Colégio Anchieta de Maceió, a pedido do Comprova, conferiu o vídeo e traduziu o que de fato é citado por Musk.

“No começo ele brinca com o nome da plataforma, porque também é o nome do filho dele. Depois fala que se há algo ilegal nos países – aí ele cita Estados Unidos, Brasil e Europa – então a conta [do X] é suspensa e questiona em caso do discurso não for ilegal: ‘o que fazer? Estão implantando tipo um sensor para captar esse discurso ilegal e definir o que pode ou não’”, traduziu Kadu.

Além dos vídeos mencionados acima, que divulgam falsos anúncios de investimento através da construção de fábricas e escolas, o perfil em questão posta diversos outros conteúdos fabricados, a maioria deles envolvendo Musk.

Em postagem mais recente, o narrador anônimo faz parecer que Musk está fazendo críticas à mídia brasileira por não noticiar sua vinda ao Brasil – visita essa que não aconteceu. O material ainda propaga a teorias da conspiração, assim como outros conteúdos publicados pelo autor. O perfil diz divulgar “notícias em tempo real”, mas o Comprova identificou que todos os conteúdos publicados recentemente são distorcidos.

Não há notícias sobre possíveis investimentos da Tesla e da SpaceX no Brasil. Conforme publicado pela Agência Brasil, em abril de 2024, Elon Musk tem ao menos dois negócios no país: um contrato com a mineradora brasileira Vale, anunciado em maio de 2022, para o fornecimento de níquel, e o serviço de banda larga de internet via satélite por meio da Starlink da SpaceX, que já foi pauta no Comprova. A primeira loja da Tesla na América do Sul foi inaugurada no Chile em fevereiro deste ano. Não há previsão de abertura de loja da marca no Brasil.

A reportagem tentou contato com o autor dos vídeos, mas até a publicação deste texto não obteve retorno.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo estava com mais de 27 mil visualizações até o dia 5 de outubro.

Fontes que consultamos: Vídeo original da entrevista do Elon Musk, Google Imagens, notícias sobre atuação das empresas SpaceX e Tesla, e o professor de inglês, Kadu Carvalho, do Colégio Anchieta de Maceió.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova checou conteúdos produzidos de forma semelhante, também utilizando a imagem de Musk com dublagens e traduções falsas com o intuito de desinformar, como por exemplo o vídeo que mentia ao dizer que Musk esteve recentemente no Brasil e decidiu investir 15 milhões de dólares na educação com a construção de escolas; e o também vídeo falso em que Musk teria dito que a suspensão do X no Brasil tinha sido “jogo sujo”.

Política

Investigado por: 05/11/2024

Trump não pode prender Moraes caso seja eleito presidente dos EUA, diferentemente do que afirmou Marcos do Val

Falso
É falso que uma vitória de Donald Trump nas eleições para a presidência dos Estados Unidos daria a ele poderes para prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A alegação foi feita em vídeo pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES), que disse ainda que a prisão estaria nos planos do candidato republicano. A hipótese é considerada “absurda” por especialistas ouvidos pelo Comprova, por não haver meios jurídicos para que isso aconteça. O mesmo se aplica a uma eventual condenação de Moraes pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e pelo Tribunal Penal Internacional (TPI): as atribuições dos órgãos são outras.

Conteúdo investigado: Vídeo que mostra o senador Marcos do Val (Podemos-ES) dizendo que Trump avisou que se ele for eleito presidente dos Estados Unidos, o ministro Alexandre de Moraes vai ser preso por supostas ordens ilegais determinadas em processos no Brasil. O senador também afirma que as duas únicas instituições com autonomia e legitimidade para prender o ministro são a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Tribunal Penal Internacional (TPI).

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que, se eleito presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump possa prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Tampouco procedem as afirmações de que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Tribunal Penal Internacional (TPI) são as duas únicas instituições com autonomia e legitimidade para prender o magistrado. Advogados consultados pelo Comprova rechaçam as alegações, e afirmam que não há meios jurídicos que tornem as hipóteses plausíveis.

O vídeo que vem circulando nas redes sociais é um recorte de live transmitida pelo senador Marcos do Val em seu canal no YouTube, em 20 de agosto. Na ocasião, ele alega que Donald Trump teria dito ao senador americano Marco Rubio, do Partido Republicano, que na primeira semana que assumisse como presidente dos Estados Unidos, a primeira coisa que faria era “colocar o Alexandre de Moraes na cadeia”.

No entanto, não há registro de que Trump tenha, de fato, feito a declaração. Advogados consultados pelo Comprova classificaram a hipótese como “absurda”. Segundo o advogado Marcos Jorge, mestre em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a legislação brasileira veda a possibilidade de expedição por parte de um presidente americano de ordem de prisão de um ministro do STF.

O advogado cita o artigo 33 da Lei Complementar nº 35/79 (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) que diz, no inciso II, que é prerrogativa do magistrado “não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do Órgão Especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável”.

O professor de Direito Internacional Ricardo Macau explica que, por envolver o pressuposto da soberania de Estado, para realizar uma prisão no Brasil expedida por órgão estrangeiro é preciso que haja concordância das autoridades competentes brasileiras. “Nesse caso, teria que haver uma decisão proveniente do Judiciário brasileiro”, pondera.

Ele acrescenta que, na hipótese de um processo criminal nos EUA, seria solicitada a extradição da pessoa alvo do processo, o que, no caso de Moraes, não cabe, já que o ministro é brasileiro nato. “Todo pedido de extradição tem que ser julgado pelo STF”, afirma Macau, que prossegue:

“Então, teríamos, nesse cenário de um processo criminal que começou nos Estados Unidos e culminou num pedido de extradição feito ao Brasil a seguinte situação: o Supremo teria que autorizar a extradição e, em seguida, o Presidente da República, no caso Lula, o que é muito pouco provável. É absurdo que isso aconteça”.

Nilton Cesar Flores, professor de Direitos Fundamentais da Universidade Federal Fluminense (UFF), também afirma não ser possível, em uma ocasião hipotética, que o presidente americano expeça uma ordem de prisão a um ministro da Suprema Corte brasileira.

“A competência seria de um juiz, para determinar a prisão, e teria de estar nos limites da legalidade. A conduta teria de ser considerada crime e teriam de garantir a ampla defesa, ou seja, não se trata de ato arbitrário ou político”, explica.

CIDH pode condenar Estados, não pessoas

Citada no vídeo investigado, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) não pode julgar indivíduos, mas Estados soberanos, apontou Macau. Então, a República Federativa do Brasil seria denunciada e investigada, e não o ministro Alexandre de Moraes.

Além disso, o órgão não tem jurisdição para condenar “ninguém a nada”, disse o professor de Direito Internacional. “[A CIDH] não faz nenhum tipo de condenação penal. Ela faz condenações civis: pagar indenização, realizar investigações”, afirma.

O professor Nilton Flores destaca que a CIDH não se deve confundir com a Corte Interamericana. “Ambos os órgãos integram o sistema interamericano de direitos humanos, sendo a comissão consultiva e a Corte exercendo jurisdição. Mas mesmo a Corte Interamericana poderia condenar o Estado pelo suposto descumprimento de um tratado de direitos humanos, ou adotar medidas cautelares de natureza projetiva, mas não determinar a prisão”, afirma.

Já o Tribunal Penal Internacional, também citado no vídeo, só poderia ser acionado se verificado que um desses quatro crimes tenham sido praticados no Brasil: crime de guerra, crime de genocídio, crime contra a humanidade ou crime de agressão, destacou Macau.

“Ele não pode substituir o Judiciário Nacional. Ele complementa a jurisdição nacional, não substitui. E tem mais um fator para ser considerado, que é a jurisdição complementar do TPI, que apenas seria acionada em caso que verificasse a inaptidão do Judiciário brasileiro para julgar um desses quatro crimes que não foram praticados pelo Alexandre Moraes. Então, não tem fundamento jurídico nenhum”, disse o professor.

Nilton Flores também destaca que o TPI só pode determinar prisão em casos de crimes de guerra, crimes contra a humanidade, genocídio e atos de guerra, o que não se aplica à hipótese levantada no vídeo relacionada a Moraes. “Ou seja, não me parece uma hipótese minimamente séria, considerar a prisão de um Ministro do STF, em decorrência do exercício legítimo e legal, da jurisdição”, acrescenta Nilton Flores.

Contatado pelo Comprova, o senador Marcos do Val afirmou que suas declarações “são baseadas em comunicações que ele tem realizado com membros do governo americano nos últimos dois anos, por meio das quais ele tem feito reiteradas denúncias dos abusos e crimes cometidos pelo ministro Alexandre de Moraes desde os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023”.

Contudo, o parlamentar nega ter feito a alegação de que Moraes estaria envolvido no atentado a Donald Trump, como o vídeo pode dar a entender. “Ela nunca foi feita por mim. É evidente que foi feita uma edição do vídeo que está circulando no TikTok, que tirou de contexto a minha fala no podcast em que ela foi feita”, disse do Val.

Também procurado pelo Comprova, o STF não quis se manifestar. A reportagem tentou contatar o perfil que publicou o vídeo, mas o TikTok não permitiu o envio da mensagem.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação no TikTok alcançou 382,6 mil visualizações até o dia 5 de novembro.

Fontes que consultamos: Assessoria de imprensa do STF e do senador Marcos do Val; professor de Direito Internacional Ricardo Macau; advogado mestre em Direito Administrativo Marcos Jorge e o professor de Direitos Fundamentais Nilton Cesar Flores.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já investigou uma declaração anterior de Marcos do Val, concluindo que o senador enganou ao usar falas antigas de Dráuzio Varella sobre a pandemia. Alexandre de Moraes, por sua vez, é alvo frequente de desinformação. A iniciativa mostrou que o ministro não é mais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não trocou urnas nas eleições municipais de 2024. O TPI também já foi citado em desinformação envolvendo o nome do presidente Lula.

Eleições

Investigado por: 05/11/2024

Vídeo de políticos convocando população para ato em 15 de novembro é de 2023, e não deste ano

Enganoso
A candidata derrotada à Prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB) e outros políticos não convocaram a população para ato no próximo dia 15 de novembro, como mostra vídeo compartilhado nas redes sociais. A publicação reúne recortes de gravações feitas em 2023 e utiliza imagens de manifestações antigas.

Conteúdo investigado: Vídeo exibe políticos, entre eles a candidata derrotada à prefeitura de Curitiba Cristina Graeml (PMB) conclamando a população para um protesto em 15 de novembro.

Onde foi publicado: Kwai e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: Não há registro de que a candidata derrotada à prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml (PMB), tenha divulgado manifestação no dia 15 de novembro de 2024. Vídeo no Kwai engana ao resgatar declarações antigas de Cristina e outras personalidades sobre eventos que ocorreram em 2023. O vídeo foi postado pela primeira vez naquele ano. Desde então, vem sendo replicado sem a data original.

A primeira pessoa que aparece no vídeo é a jornalista e candidata derrotada na disputa pela Prefeitura de Curitiba, Cristina Graeml. Sua fala foi retirada de uma entrevista realizada pela revista Oeste em 14 de setembro de 2023. Nela, Graeml informa que “estão programando uma manifestação para o dia 15 de novembro”, em referência aos atos realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no ano passado.

As imagens da filmagem seguinte, com o desembargador aposentado Sebastião Coelho, foram extraídas de um vídeo publicado no canal do YouTube do portal O Antagonista em 26 de setembro de 2023. Na gravação, Coelho convoca o público para manifestações contra o Supremo Tribunal Federal (STF) para outubro daquele ano.

O terceiro vídeo foi publicado também no dia 26 de setembro de 2023. O trecho utilizado faz parte de uma entrevista coletiva concedida pelo senador Rogério Marinho (PL-RN) sobre um plebiscito a respeito da criminalização do aborto no Brasil. Embora a fala de Marinho seja sobre esse tema, o trecho foi recortado para não mencionar especificamente o plebiscito ou mesmo a palavra “aborto”, podendo ser interpretado como uma fala a respeito de um suposto ato a ser realizado – o que não é o caso.

O vereador Coronel Vargas (PL-RS) aparece por último. O trecho foi retirado de uma sessão realizada na Câmara de Vereadores do município gaúcho de Santa Maria em 12 de setembro de 2023, ocasião na qual o vereador falou sobre uma suposta “cultura do medo” que desmotiva as pessoas a se manifestarem. O político também criticou o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o Exército. O restante das imagens apresentadas são trechos de gravações de diferentes manifestações e atos antigos realizados por apoiadores de Bolsonaro.

O perfil no Kwai não tem opção de receber mensagem e, por isso, o Comprova não conseguiu contato com o autor.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Não há como mensurar o alcance do vídeo no WhatsApp, mas todo conteúdo muito compartilhado é marcado como “encaminhado com frequência”. Os vídeos publicados pelo autor da postagem original têm em média mil visualizações.

Fontes que consultamos: Pesquisa reversa por imagens no Google, o vídeo original publicado no Kwai, e redes sociais das pessoas mencionadas no vídeo.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A checagem do conteúdo enganoso foi realizada também pelo site Aos Fatos e Reuters. Posts com imagens antigas colocadas em outro contexto são frequentemente verificados pelo Comprova. Alguns exemplos: Lewis Hamilton não carregou bandeira do Brasil em apoio a atos golpistas e vídeos antigos são usados para enganar sobre adesão a atos pró-Bolsonaro em 1º de Maio.

Política

Investigado por: 04/11/2024

Governo não tem proposta para taxar imóveis em 25% e herança em 40%, ao contrário do que diz Bolsonaro

Enganoso
O governo federal não definiu que irá cobrar imposto de 40% sobre heranças e 25% sobre imóveis, ao contrário do que afirma o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na realidade, as alíquotas chegam a 8% no caso de heranças e 15,9% no caso de imóveis. A mudança na taxação deve acontecer, mas não com os números apresentados por Bolsonaro e sem antes passar por votação na Câmara e no Senado. A legenda do vídeo, publicado por ele nas redes sociais, também aponta para o fim da propriedade privada no Brasil, o que não é verdade, conforme garante o art 5º da Constituição. Especialistas ouvidos pelo Comprova afirmam que debater sobre o tema é prematuro, antes que leis complementares sejam aprovadas.

Conteúdo investigado: Vídeo em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) diz que o governo federal vai taxar heranças em 40% e venda de imóveis em 25%. O post também tem uma legenda que fala em “fim da propriedade privada”.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: O governo federal não tem projeto para taxar heranças em 40% e a venda de imóveis em 25%, como afirma Bolsonaro. Na realidade, as propostas do governo em pauta atualmente preveem alíquota de no máximo 8% para heranças e de em média 15,9% sobre o lucro de transações imobiliárias.

Em relação à tributação de heranças, o texto-base da segunda fase de regulamentação da reforma tributária, aprovado em agosto na Câmara dos Deputados, determina mudanças no Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens e Direitos (ITCMD), o chamado “imposto de herança”, mas nenhuma delas condiz com a alíquota apontada por Bolsonaro.

Na verdade, uma das alterações diz respeito à alíquota progressiva, que varia conforme o valor da herança, ou seja: quanto maior o bem transmitido, maior a tributação. Esse percentual segue um teto de 8%, e não 40%. De acordo com o presidente da Comissão de Direito Tributário da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio Grande do Norte (OAB-RN), Igor Medeiros, essa progressividade precisa ser instituída por lei pelos Estados.

Já sobre a taxação da compra e venda de imóveis, a alíquota do Imposto sobre Valor Adicionado (IVA) é de 15,9% sobre o lucro, conforme prevê o texto atual da reforma tributária. A tributação incide apenas em operações feitas por imobiliárias e não em compras e vendas feitas por pessoas físicas, as quais não são impactadas pelas novas normas. Assim, as negociações realizadas por elas permanecem sujeitas ao Imposto sobre Transmissão de Bens e Imóveis (ITBI), com alíquotas que variam conforme o município, entre 2% e 3% sobre o valor total do imóvel, não apenas o lucro.

Daniel Pasqualoto, advogado tributarista da OAB-MS, esclareceu que terá sim mudança na taxação, mas que os valores e alíquotas apresentados por Bolsonaro não procedem. Isso porque a reforma tributária, após a emenda constitucional 132/2023, depende de leis complementares que ainda tramitam no Congresso.

“Falar em qualquer mudança de alíquota é prematuro antes que leis complementares sejam aprovadas em ambas as casas do Congresso”, avaliou.

No vídeo publicado pelo ex-presidente, há também uma legenda que aponta “o fim da propriedade privada no campo e nas cidades” e complementa: “Segue o plano da esquerda após praticamente impedir que indivíduos protejam suas residências, sua vida, a de sua família e de outrem. Se for para os meninos tomarem sua cervejinha está liberado e não precisa seguir nenhuma lei”.

No entanto, diferentemente do que diz o ex-presidente, Igor Medeiros explicou que a reforma tributária não extingue a propriedade privada. Ele também ressalta que o direito à propriedade privada está garantido pelo artigo 5º, inciso XXII da Constituição.

“A reforma é focada principalmente na reestruturação dos sistemas de arrecadação e nas alíquotas tributárias aplicáveis aos bens e rendas, mas em nada altera o direito de propriedade assegurado pela Constituição Federal”, disse o presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB-RN.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 4 de novembro, o vídeo publicado por Jair Bolsonaro no X atingiu 609,1 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Consultamos dois advogados especialista em tributação, reportagens sobre a reforma tributária e a legislação vigente.

Reforma Tributária e as mudanças na tributação sobre herança e compra e venda de imóveis

Outra mudança decorrente da reforma tributária no imposto sobre herança incide na competência tributária. A atribuição para cobrança do ITCMD sobre bens móveis, títulos e créditos passou a ser do estado onde o falecido era domiciliado. Desta forma, de acordo com Medeiros, “elimina a possibilidade da escolha do estado para fins de tributação”. Antes da reforma, o imposto era cobrado no estado onde se processava o inventário. A nova norma também define a ampliação da Base de Cálculo na transmissão de participações societárias.

As modificações da taxação na compra e venda de imóveis definem que o contribuinte tem a opção de recolher o ITBI na realização do contrato de negociação de forma antecipada, não apenas quando há a transmissão da propriedade no registro de imóveis. O segundo projeto de lei complementar de regulamentação da reforma tributária, concluído no dia 30 de outubro na Câmara dos Deputados e enviado ao Senado, também determina que a base de cálculo do ITBI seja o valor venal (estimativa de um preço de um bem), e não mais de venda.

“No que tange à base de cálculo do imposto, o projeto de lei define que a base de cálculo será o valor de referência do imóvel ou o valor da transação, prevalecendo o maior entre eles. Desse modo, o valor de referência será fixado anualmente pelo município e, em caso de discordância, o ônus de comprovação do valor correto de mercado caberá ao contribuinte”, disse Medeiros.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova explicou a tributação do imposto sobre herança no Brasil e a diferença da cobrança do imposto nos Estados Unidos. O Aos Fatos desmentiu que a reforma tributária vai taxar em 25% operações de compra e venda de imóveis, assim como o Comprova.

Eleições

Investigado por: 01/11/2024

Ocupações em São Paulo não tiveram relação com resultado das eleições

Enganoso
É enganosa a alegação de que as ações de ocupação promovidas pela Frente de Luta por Moradia (FLM) no último domingo (27), na Grande São Paulo, foram motivadas pela derrota de Guilherme Boulos (PSOL) nas eleições para prefeito da capital paulista. Embora as ações tenham ocorrido no dia da votação, Boulos não tem relação com o coletivo e, nas postagens da FLM, nenhuma menção ao processo eleitoral é feita – todas as ações são justificadas pelo propósito de luta por moradia defendido pelo grupo.

Conteúdo investigado: Vídeo diz que após derrota de Guilherme Boulos, militantes do Movimento Sem Terra (MST) teriam começado uma série de invasões na Grande São Paulo. Ao longo do vídeo, fotos de Boulos e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são exibidas antes da gravação de uma das ações.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Vídeo engana ao relacionar ação de ocupação realizada no último domingo (27) ao Movimento Sem Terra (MST), ao deputado federal e candidato derrotado em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL-SP), e ao resultado das eleições municipais na capital paulista.

O vídeo exibido pelo perfil é, na verdade, referente a uma ação promovida pela Frente de Luta por Moradia (FLM), movimento com o qual Boulos não teve relação. Boulos foi líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A ocupação foi uma de três tentativas, todas realizadas em 27 de outubro, no Centro de São Paulo – uma na Av. Nove de Julho (apresentada no vídeo checado), uma na Rua Major Quedinho (Bela Vista) e uma na Rua São Bento (Sé).

A FLM fez algumas publicações em suas redes sociais a respeito das ações. Em uma delas, o movimento referencia uma reportagem do G1 sobre as operações de retirada de pessoas feitas pela Polícia Militar (PM) nas ocupações; a legenda do post, por sua vez, traz um pronunciamento do coletivo sobre os eventos:

“O poder público não garante moradia para trabalhadores e trabalhadoras sem-teto, mas expulsa mulheres, crianças, homens, idosos e jovens de imóveis que não cumprem a função social da propriedade”, escreveu a FLM. “As pessoas são tratadas com tiro, porrada e bomba. Tudo isso para proteger prédios que estão fora da lei, leia-se o Estatuto da Cidade, a Constituição Federal. As imagens deste domingo retratam a violência do estado contra famílias sem-teto. Ocupação não é caso de polícia!”.

Em nenhuma das publicações relativas às ações do dia 27 é feita qualquer menção ao resultado das eleições municipais, que terminaram com a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). O nome de Boulos também não é mencionado. O advogado da FLM, em entrevista ao portal Metrópoles, negou qualquer relação das ações com a votação, assim como duas pessoas do movimento ouvidas pela Folha de S. Paulo.

O Comprova também consultou portais de notícias parceiros do projeto, bem como as páginas oficiais do MST e do MTST – este último, sim, já liderado por Boulos. Não há nenhum registro de ocupações ou ações dos dois grupos em São Paulo desde o dia 27. Uma nota a respeito das ações da PM foi solicitada à Secretaria de Segurança Pública, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de outubro, o vídeo tinha 159,7 mil reproduções no TikTok, bem como 8,8 mil curtidas.

Fontes que consultamos: Redes sociais da Frente de Luta Por Moradia, do Movimento Sem Terra e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; reportagens da Folha de S.Paulo e do UOL; Secretaria de Segurança Pública.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vários conteúdos falsos e enganosos circularam durante as eleições citando Boulos. O Comprova checou, por exemplo, que vídeo engana ao dizer que ele é líder do MST e responsável por queimar fazendas. Outro episódio que teve repercussão nacional foi o fato do adversário Pablo Marçal ter utilizado documento falso para alegar que o psolista foi internado por uso de drogas.

Eleições

Investigado por: 01/11/2024

Ricardo Nunes não colocou fim ao Bilhete Único em São Paulo, diferentemente do que alega vídeo

Enganoso
Ricardo Nunes (MDB), prefeito reeleito de São Paulo, não colocou fim ao Bilhete Único e nem criou lei recente com um substituto ao cartão, como afirmam conteúdos enganosos que circulam na internet. A última alteração sobre o sistema de bilhetagem eletrônica na capital paulista ocorreu em 2021, e teve como objetivo evitar fraudes na utilização do serviço.

Conteúdo investigado: Vídeo fala em “primeira vitória dos pobres de direita”, se referindo ao suposto fim do Bilhete Único em São Paulo. A postagem traz o texto: “fim de Bilhete Único popular: Ricardo Nunes traz lei nos ônibus e metrôs de SP com substituto”.

Onde foi publicado: Site de notícias e TikTok.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) instituiu o fim do Bilhete Único, cartão que unifica passagens de trens e ônibus e permite aos passageiros fazer até quatro embarques em linhas diferentes, dentro de um período de 3 horas. Conteúdos que circulam na internet descontextualizam uma medida de 2021, no primeiro ano da gestão do emedebista, para insinuar que ele tomou a decisão de substituir o sistema de bilhetagem eletrônica depois de reeleito em outubro de 2024.

A imagem e uma parte do texto que aparece no vídeo foram originalmente publicados em um site na internet no dia 28 de outubro, data seguinte ao segundo turno do pleito que reelegeu Nunes. No texto, o autor fala do “fim do Bilhete Único popular, com decreto do prefeito Ricardo Nunes na SPTrans e que garante substituto no metrô, ônibus e CPTM”.

O conteúdo tira de contexto, fazendo parecer recente uma medida de 2021 que determinou o fim do Bilhete Único sem cadastro associado a um CPF. “O objetivo é reforçar as medidas de combate a fraudes no sistema de transportes e, consequentemente, prejuízos aos cofres públicos e também aos passageiros”, informou a prefeitura na época.

Uma consulta no Diário Oficial de São Paulo mostrou que nenhum decreto sobre o Bilhete Único foi publicado após a reeleição de Nunes, o que significa que o prefeito não adotou nenhuma medida nova após o resultado do pleito.

O Comprova consultou a prefeitura e a SPTrans sobre o caso, que responderam da mesma forma: “A Prefeitura de São Paulo informa que o Bilhete Único segue funcionando normalmente na cidade e qualquer informação diferente disso não condiz com a verdade”.

“Para a prevenção de fraudes, a SPTrans utiliza desde 2021 o cadastro de cartões a partir do CPF do usuário. Informações sobre as modalidades disponíveis estão disponíveis aqui”, afirma trecho da nota.

A reportagem contatou o perfil que publicou o vídeo no TikTok e o autor responsável pelo texto publicado no site de notícias, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O primeiro conteúdo publicado no TikTok com a desinformação foi excluído, portanto não é possível mensurar o alcance. Também não é possível mensurar o alcance do site de notícias que publicou sobre o tema. Já um vídeo no TikTok que reproduziu o primeiro atingiu mais de 1,1 mil visualizações até 31 de outubro.

Fontes que consultamos: Prefeitura de São Paulo, SPTrans e Diário Oficial.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A gestão Nunes já foi alvo de checagens anteriores do Comprova. Recentemente mostramos que o prefeito citou taxa para aterrar fios em 2023 e não em 2024, diferentemente do que alegam posts. Também investigamos 16 ocorrências reunidas em vídeo viral sobre o governo do emedebista.

Comunicados

Investigado por: 01/11/2024

A Desinformação Silenciosa: O que os temas e o volume de pedidos de verificação dizem sobre a democracia em 2024

Relatório
Ao final das Eleições Municipais de 2024, as agências de checagem observam que o período teve menos pedidos de verificação enviados pelo público do que o imaginado. Será isso um sinal de que a desconfiança crescente está afastando os brasileiros da política? Um esforço inédito entre seis veículos e a ONG Meedan busca combater a desinformação e a crise de confiança que ameaça a democracia.

Em um cenário onde a desinformação segue sendo uma das maiores ameaças à integridade democrática, o número de solicitações de checagem durante o período eleitoral de 2024 se manteve bastante similar aos meses anteriores ao início da campanha. Esperava-se um aumento nos pedidos de checagem diante da intensa desinformação vista em anos eleitorais anteriores. No entanto, a manutenção dos números acabou sendo uma surpresa.

Antecipando-se ao que achavam ser um momento eleitoral com nova avalanche desinformativa estabeleceu-se uma ação de colaboração entre as seis maiores agências de checagem do Brasil — AFP, Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa, Projeto Comprova e UOL Confere — que, em parceria com a ONG Meedan, compartilharam dúvidas e conteúdos desinformativos de suas audiências de maneira integrada. O objetivo: compreender o cenário da desinformação que circulou nas redes sociais e em grupos privados durante o período eleitoral e enfrentar, de forma conjunta, um desafio coletivo que ameaça o processo democrático.

Entre 6 de agosto e 27 de outubro — dia do segundo turno eleitoral — as agências de verificação receberam 2.369 envios de seu público para verificar potenciais peças de desinformação sobre os candidatos e a integridade do processo de votação.

Uma perspectiva colaborativa entre agências de notícias sobre a desinformação

Ao unirem esforços, as agências puderam analisar os pedidos de verificação de suas audiências de maneira abrangente, identificando padrões e trocando informações que agilizaram seus processos editoriais. Essa colaboração foi essencial para mapear as principais preocupações da população e identificar os temas mais frequentes que alimentaram a desinformação.

O relatório da Meedan sobre os dados compartilhados mostra que, ao todo, as seis agências receberam 2.369 pedidos de verificação durante as eleições municipais, um número substancial, porém abaixo do que a percepção dos checadores acreditava, dado o momento eleitoral.

 

| Fonte: Relatório Meedan 2024.

A redução significativa nos pedidos de verificação pode estar ligada a uma crescente apatia ou descrença no processo eleitoral e nas instituições democráticas, que foram alvos de uma insistente campanha questionando a integridade das urnas e das instituições. Ao mesmo tempo, o aumento das abstenções nas eleições municipais pode reforçar essa hipótese.

 

| Fonte: Relatório Meedan 2024.

Temas que dominaram os pedidos de verificação

A análise conjunta revelou alguns padrões preocupantes. O Brasil continua com uma produção e distribuição organizada de ataque às instituições democráticas. Isso valida-se ao observar que a maioria dos pedidos de verificação centrou-se em narrativas que reforçam a desconfiança no processo eleitoral. Entre elas, a alegada manipulação de urnas eletrônicas e a suposta interferência do Supremo Tribunal Federal no resultado da eleição, mostrando que velhas peças de desinformação ainda exercem impacto. O ciclo repetitivo dessas narrativas falsas aponta para uma estratégia deliberada de manter antigos discursos vivos, o que sugere que, mesmo em menor volume, a desinformação permanece perigosa por sua persistência.

De acordo com o relatório dos dados das agências de checagem, 44,6% de todos os envios de sugestões de verificação foram relacionadas à integridade do processo eleitoral, sendo que 49,4% desse conteúdo focava especificamente nas urnas eletrônicas​. Isso demonstra a persistência de um cenário já observado nas eleições anteriores, com narrativas que questionam a segurança e o funcionamento das urnas dominando o cenário da desinformação. Além disso, 100 conteúdos enviados foram relacionados à desinformação sobre a legislação eleitoral vigente, o que sugere uma confusão persistente sobre as regras do processo eleitoral​.

 

| Fonte: Relatório Meedan 2024.

Pautas de Costume como instrumento de polarização

Outro ponto de destaque é o uso crescente de temas morais para polarizar o debate público. 13% dos envios que tratavam de moralidade estavam diretamente relacionados à religião​. Questões como a sexualização precoce de crianças (16%), aborto (11%) e Identidade de gênero (14%) somaram quase 40% das questões abordadas sobre moralidade, frequentemente vinculadas a narrativas religiosas para influenciar o eleitorado​.

Esse uso da religião como instrumento político demonstra uma tentativa de engajar grupos específicos de eleitores, aprofundando a divisão ideológica e desviando a atenção de questões políticas mais amplas.

 

| Fonte: Relatório Meedan 2024.

As narrativas que polarizam Bolsonaro vs. Lula persistem

Mesmo durante eleições municipais, a polarização entre apoiadores de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva permaneceu forte. 48 peças de conteúdo partidário destacaram essa divisão, evidenciando como o debate político ainda é amplamente influenciado pelas dinâmicas das eleições federais anteriores​.

Saúde e desinformação: o legado da pandemia

A pandemia de Covid-19 deixou um legado de desinformação sobre saúde pública. 24 peças de conteúdo enviadas às agências de checagem estavam relacionadas a questões de saúde, sendo que 70% delas focavam em vacinas​. Isso mostra que, apesar da diminuição do impacto da pandemia, o tema das vacinas ainda polariza e gera desconfiança no público, o que pode ser reflexo de narrativas anticiência que inundaram o país nos anos anteriores.

IA e deepfakes: muito menos do que o esperado

Com o avanço das tecnologias de inteligência artificial, era esperado um aumento massivo no uso de deepfakes e outros mecanismos de IA para espalhar desinformação. No entanto, o uso da inteligência artificial para este fim não foi como o imaginado. A maior parte das peças de desinformação não foi gerada por IA, e, quando ocorreu, ela teve foco majoritário em candidaturas de mulheres e representantes de grupos LGBTQIAP+. Não se pode afirmar se a regulamentação da Justiça Eleitoral foi um fator que inibiu a prática ou se o acesso às tecnologias de IA ainda é nichado.

Consumo de verificação de fatos concentrada no Sudeste

A concentração de pedidos de verificação de informações na região Sudeste (57%) indica um acesso mais elevado a mecanismos de checagem na região com maior densidade econômica e populacional. Esse fenômeno pode estar relacionado às disparidades regionais de infraestrutura digital e educação, destacando a necessidade de ampliar a cobertura e o acesso à checagem de fatos em outras regiões do país para fortalecer a integridade democrática nacional.

| Fonte: Relatório Meedan 2024.

Rumo à eleição presidencial de 2026

Diante desse cenário, é fundamental destacar o papel do jornalismo e da checagem de fatos como pilares da democracia. Se as narrativas desinformantes continuam as mesmas há dois anos e se a participação dos eleitores está caindo nas grandes cidades brasileiras, o fortalecimento do acesso a conteúdos checados e de qualidade se mostra indispensável para recobrar a confiança da população nos processos democráticos e na política.

Nosso papel neste esforço coletivo, como agências de checagem, é identificar quais serão as narrativas que tentarão confundir a cidadania na eleição presidencial de 2026 e buscar novas maneiras de combater aquelas que, apesar de recicladas, ainda têm algum efeito.

Na preparação para 2026, também será fundamental buscar aliados sem interesses partidários que promovam a educação midiática. Essa aliança entre os principais meios de verificação brasileiros — AFP, Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa, Projeto Comprova e UOL Confere — se concretizou graças ao uso do Meedan como aliado tecnológico e conseguiu chegar exatamente onde os cidadãos estão conectados e comunicados: na mensageria instantânea.

O combate à desinformação, porém, não se resume apenas à verificação de fatos. É preciso fortalecer a confiança da população nas instituições democráticas e nos veículos de mídia de forma colaborativa e integrada para que a sociedade brasileira possa, em 2026, exercer seu direito ao voto de forma plena e informada.

 

Por: AFP, Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa, Projeto Comprova, UOL Confere e Meedan.

Política

Investigado por: 01/11/2024

Teorias da conspiração sobre sósia de Lula voltam a circular nas redes sociais

Falso
Voltaram a circular na internet conteúdos que afirmam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) morreu e foi substituído por sósias. Publicações usam informações falsas ou tiradas de contexto para afirmar que o chefe do Executivo brasileiro teria morrido após procedimento médico realizado em 2022. As postagens usam teorias da conspiração para sugerir a morte de Lula, conforme já foi mostrado pelo Comprova em outras ocasiões.

Conteúdo investigado: Vídeos afirmam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) morreu e foi substituído por sósias. Publicações no X anunciam a morte de Lula e o aniversário do óbito.

Onde foi publicado: Youtube e X.

Conclusão do Comprova: O presidente Lula não morreu, ao contrário do que afirmam duas postagens feitas no X, e nem foi substituído por sósias, conforme apontam dois vídeos publicados no YouTube. Os conteúdos desinformativos reúnem uma série de informações falsas ou tiradas de contexto.

É o caso, por exemplo, de trechos que incluem prints de publicações do X afirmando que Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, teria dito que Lula foi substituído ou cooptado pela CIA, serviço de inteligência estadunidense. Uma checagem do Estadão Verifica mostrou que isso não é verdade.

Em outro trecho, um dos vídeos aponta que o atual vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) coordenou a transição de governo porque Lula estaria morto. A voz que narra o conteúdo falso afirma que é o chefe de Estado quem deve assumir essa responsabilidade, o que também não é verdade. Em outras ocasiões, inclusive, na primeira gestão de Lula, o vice foi quem assumiu o processo de transição.

Em 2018, após eleição de Jair Bolsonaro (PL), o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), foi designado pelo presidente Michel Temer (MDB) para coordenar a transição. Em 2002, o então prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci (sem partido), liderou a transição do mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para o primeiro governo Lula. Portanto, é comum que não seja o presidente eleito o responsável por assumir essa liderança.

Outra afirmação falsa, utilizada como “evidência”, é que o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, teria confirmado a morte do chefe do Executivo brasileiro e identificado a utilização de sósias. No entanto, o Comprova não encontrou qualquer informação a respeito.

O tempo de recuperação de Lula após a cirurgia que fez no quadril, em novembro de 2023, também foi usado para insinuar que o presidente teria sido substituído. De acordo com o vídeo, seria necessário um ano e meio de recuperação após o procedimento. A reabilitação, no entanto, é de cerca de três meses, como explicou o ortopedista e cirurgião do Hospital Albert Einstein Luciano Miller, à CNN Rádio, quando falava especificamente sobre o caso do petista.

Boatos que insinuam morte de Lula são antigos

Os boatos sobre a suposta morte de Lula aumentaram após o presidente ser internado no Hospital Sírio-Libanês em novembro de 2022, quando ele tratou uma lesão na prega vocal esquerda. De acordo com os vídeos investigados, o chefe do Executivo teria morrido e o corpo dele estaria escondido no hospital. Contudo, o político teve alta médica em 21 de novembro daquele ano, no dia seguinte à internação, conforme o boletim médico.

Antes ainda, no início do mês, uma publicação no X anunciou a morte de Lula. Um ano depois, o perfil, que se autointitula o “canal de notícias de Horacio Rodríguez Larreta”, ex-prefeito de Buenos Aires, na Argentina, voltou a postar sobre o assunto, anunciando o aniversário de óbito. O Comprova não conseguiu contato com a página e nem com Horacio Larreta. Essa mesma conta também fez uma publicação em que anuncia a morte do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O magistrado está vivo, como mostra uma fala do ministro no dia 27 de outubro, data do segundo turno das eleições municipais de 2024.

Além disso, um dos vídeos investigados nesta verificação insinua que a vacina contra covid-19 aplicada por Alckmin em Lula em fevereiro do ano passado, foi uma fraude, mas o Comprova já mostrou que essa teoria é mentirosa.

Há também uma menção ao deputado federal Nikolas Ferreiras (PL-MG) em um dos conteúdos investigados. A desinformação aponta que o parlamentar teria pedido exame de DNA de Lula para comprovar a utilização de sósias. A reportagem entrou em contato com a assessoria de Nikolas para questionar se o pedido procede, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Também contatamos a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal para questionar sobre a teoria de que Lula estaria morto. “Luiz Inácio Lula da Silva só tem um. Claro que essas postagens são falsas e delirantes. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República repudia a divulgação de boatos falsos para fins políticos”, respondeu a pasta, por nota.

Vale destacar que ambos os vídeos investigados aqui foram publicados pelo mesmo canal do YouTube. Inicialmente, o perfil se descreve como uma conta de receitas e dicas domésticas, mas compartilha inúmeros conteúdos sensacionalistas sobre política, principalmente sobre a Venezuela e o presidente Lula.

Em resposta ao Comprova sobre a teoria infundada de que Lula estaria morto, o perfil disse que não afirmou nada. “Meu trabalho é apenas levantar as questões que se falam muito nas redes sociais, principalmente o X. Daí deixo as pessoas tirarem suas conclusões”. Em seguida, ele disse: “Infelizmente, assim como vocês jornalistas, não poderei revelar minhas fontes”.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de outubro, os dois vídeos postados no YouTube alcançaram 1,3 milhões e 578 mil visualizações. O post feito no X que apontou a morte de Lula não mostra o número de visualizações. No entanto, a publicação feita pelo mesmo perfil e na mesma rede, apontando um ano do óbito, alcançou 606,5 mil visualizações.

Fontes que consultamos: Secom do governo federal e reportagens linkadas ao longo do texto.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O boato de que Lula morreu e foi substituído por sósias já viralizou e foi checado diversas vezes. Assim como o Estadão Verifica, a Aos Fatos mostrou que Maduro não disse que Lula morreu e foi substituído por sósia. O Fato ou Fake do G1 concluiu que é #FAKE que Lula tenha morrido após acidente doméstico, ocorrido no dia 19 de outubro deste ano. O Comprova também já mostrou antes que, ao contrário do que alega teoria conspiratória, Lula está vivo e não foi substituído por sósia.

Eleições

Investigado por: 30/10/2024

Fortaleza não teve troca de 6 mil urnas nem denúncia de fraudes na eleição municipal

Falso
Fortaleza não teve 6 mil urnas eletrônicas trocadas e nem registrou fraude nas eleições municipais de 2024. Vídeo com o primeiro assunto circulou no Kwai. O segundo repercutiu no X e no WhatsApp. Publicações falsas tiraram de contexto entrevista sobre distribuição de urnas no Ceará e vídeo antigo sobre o pleito de 2022. O TRE-CE confirmou a troca de apenas quatro urnas no segundo turno da capital cearense e afirmou não ter havido fraude no pleito.

Conteúdo investigado: Publicação no Kwai afirma que 6 mil urnas foram trocadas em Fortaleza e que a ação “fez a diferença” no resultado; vídeo no X que mostra comemoração de suposta vitória de André Fernandes (PL) após constatada fraude nas eleições; e áudios no WhatsApp que colocam sob suspeita as urnas ao também mencionarem fraude.

Onde foi publicado: Kwai, X e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: É falso que Fortaleza teve 6 mil urnas trocadas no segundo turno das eleições de 2024. O vídeo utilizado na publicação é o trecho de uma entrevista ao vivo exibida no dia 17 de outubro no CETV, da TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo na capital cearense. O entrevistado foi Caio Guimarães, secretário de eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE).

A pauta foi sobre as 6 mil urnas utilizadas no segundo turno de Fortaleza e em Caucaia, município localizado na região metropolitana da capital. Caio falou sobre a preparação das mídias com os dados dos candidatos, os testes de integridade e a logística de distribuição das urnas nas duas cidades. Em nenhum momento foi informado sobre trocas de urnas, o secretário apenas explicou como é feita a substituição caso ocorra algum problema.

Segundo o TRE-CE, foram distribuídas 6.034 urnas, sendo, 5.274 para Fortaleza e 760 para Caucaia. O Tribunal informou ao Comprova que não há indício de fraude no resultado em Fortaleza e que foram feitas apenas quatro substituições das urnas que apresentaram algum problema técnico. “Elas foram substituídas por urnas de contingência que servem de reserva. A informação difundida como fake news trata-se de uma distorção da realidade”, completou por nota.

Nos áudios que circulam nas redes sociais, há menção à suposta compra de urnas e insinuações de que parte dos equipamentos teriam vindo de Brasília de “última hora”. Questionado, o TRE-CE também negou transporte dos equipamentos da capital federal para o segundo turno no Ceará.

O outro vídeo, publicado no X, mostra uma suposta comemoração de André Fernandes, que foi o candidato do PL à Prefeitura de Fortaleza neste ano. Na verdade, o vídeo foi gravado em 31 de outubro de 2022, no final da apuração de votos do segundo turno, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil e derrotou o então chefe do Executivo brasileiro, Jair Bolsonaro (PL). Na época, alguns boatos sobre uma suposta confirmação de fraude geraram celebrações por parte de apoiadores do agora ex-presidente. As mesmas imagens aparecem em vídeos publicados, no período eleitoral de 2022, pelo jornais O Globo e Estado de Minas. Não há informação de onde o vídeo foi gravado.

Com 716.133 votos (50,38%), Evandro Leitão (PT) foi eleito prefeito de Fortaleza no segundo turno do pleito. Em uma disputa acirrada, Fernandes obteve 705.295 dos votantes, computando 49,62%.

Após o resultado, o candidato derrotado discursou para apoiadores no comitê central de campanha e não mencionou fraude no segundo turno das eleições. Ele, na verdade, avaliou que o resultado “significa uma vitória”. “Saio daqui muito feliz, nenhum jogo de loteamento de espaço público, e esse resultado apertado para a gente significa uma vitória”, disse.

O Comprova tentou contatar os autores dos conteúdos de desinformação, mas não houve retorno até a publicação desta verificação.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de outubro, o vídeo publicado no X teve 27,3 mil visualizações e 800 no Kwai.

Fontes que consultamos: Íntegra da entrevista de Caio Guimarães, secretário de eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), reportagens, TRE-CE e redes sociais de André Fernandes (PL).

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Outras iniciativas também checaram essas publicações e chegaram a mesma conclusão, a exemplo do UOL, Estadão Verifica, AFP e Aos Fatos. As eleições do Brasil, aliás, sempre são alvos de acusações de fraudes. Em 2024, o Comprova verificou os seguintes conteúdos: post usa captura de tela fora de contexto para alegar que houve fraude nas eleições de 2022; é falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno das eleições; vídeo que insinua fraude em votação em Maceió reproduz infográfico com erro.

Política

Investigado por: 30/10/2024

Elon Musk não visitou o Brasil em 2024 nem anunciou a construção de escolas no país

Falso
É falso que Elon Musk visitou o Brasil em 2024 e investiu 15 milhões de dólares na construção de escolas no país. Postagem feita no TikTok utilizou dublagem para manipular fala do empresário. No vídeo original, Musk opina sobre assuntos de inovação e tecnologia, sem mencionar o Brasil ou a construção de escolas no país. A mais recente visita do bilionário ao Brasil foi em 2022, para negociar projetos tecnológicos na Amazônia.

Conteúdo investigado: Post dubla vídeo de Elon Musk, proprietário do X e Starlink, dizendo que ele esteve recentemente no Brasil e decidiu investir 15 milhões de dólares na educação com a construção de escolas. “É Astra Nova, rede de instituições, que vai focar em ensino de verdade, sem viés ideológico. Já estamos construindo escolas por todos os Estados Unidos e agora vou investir do meu próprio bolso para construir colégios nas principais cidades brasileiras”, cita a dublagem.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: Elon Musk não disse que investiria em construções de escolas no Brasil em 2024, ao contrário do que cita post. Na publicação, a fala do empresário é dublada para omitir seu contexto original, em que Musk compartilha opiniões sobre inovações e tecnologia.

Tanto a dublagem quanto a legenda do vídeo foram inventadas. O vídeo é acompanhado de um aviso que diz: “marcado pelo criador como gerado por IA”.

A filmagem utilizada no post investigado foi retirada de uma conversa via Zoom entre Musk e o Instituto Cato – que se descreve como uma “organização de pesquisa de políticas públicas que promove ideias libertárias em debates políticos”. O diálogo ocorreu entre os dias 11 e 12 de junho deste ano, durante uma conferência em Buenos Aires, na Argentina. Musk falou no dia 12.

A conversa foi publicada na íntegra no canal do instituto em 14 de agosto, com 34 minutos e 17 segundos de duração. Nela, foram abordadas as opiniões do empresário sobre inovação e tecnologia. No entanto, em nenhum momento Musk mencionou a situação da educação no Brasil, nem a decisão de investir na construção de escolas no país.

O post falso também diz que, no dia anterior à gravação, Musk teria visitado escolas de regiões periféricas no Brasil. No entanto, o registro mais recente de uma visita do empresário ao país é de 2022, quando ele viajou a Porto Feliz, no interior de São Paulo, para negociar com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) projetos de “conectividade e proteção” na Amazônia. Na ocasião, Musk, proprietário da Starlink, anunciou um projeto da rede para conectar 19 mil escolas em áreas rurais e monitorar a Amazônia.

De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico, de abril de 2024, o projeto está em curso e pretende conectar em rede mais de cinco mil comunidades em áreas protegidas da Amazônia até 2025. O investimento, que usa tecnologia de comunicação da Starlink, é avaliado em 80 milhões de dólares com recursos de entidades filantrópicas. No entanto, o projeto não menciona construção de escolas.

Segundo a Agência Brasil, também em 2022, a Tesla – fabricante de veículos elétricos gerida por Musk – fechou contrato de longo prazo com a mineradora brasileira Vale para o fornecimento de níquel a partir das operações da mineradora no Canadá.

O conteúdo falso ainda afirma que Musk estaria investindo 15 milhões de dólares na construção de escolas no Brasil, como parte do seu projeto de educação “Astra Nova”. Musk não anunciou recentemente investimentos no Brasil de forma pública. Pelo contrário, no dia 31 de agosto de 2024, o empresário disse em sua conta no X que “investir no Brasil sob a administração atual é insano”.

O post foi feito após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinar a suspensão da plataforma no Brasil, em 30 de agosto, e em resposta a uma publicação de outro usuário, que chamou a suspensão do X no país de ilegal, e a definiu como “um caminho rápido para o Brasil se tornar um mercado ininvestível”.

Em 2014, Musk criou uma escola para educar os filhos, a “Ad Astra”. De acordo com uma entrevista que o empresário deu a uma televisão chinesa em 2015, a criação foi motivada pela insatisfação que ele sentia em relação ao ensino nos Estados Unidos. A escola de Musk é oficialmente registrada como uma escola privada ativa em Los Angeles, na Califórnia, desde 20 de julho de 2015, com cursos para crianças de 7 a 14 anos. Segundo a BBC, que visitou “Ad Astra” em 2018, a escola contava com cerca de 40 alunos na época.

Um canal no YouTube e uma página na internet levam o nome de “Astra Nova”, suposto projeto no Brasil ao qual o vídeo falso se refere. Tanto a página quanto o canal citam Elon Musk, mas não falam sobre a criação de escolas no Brasil. Na verdade, a “Astra Nova” se trata de, conforme a própria descrição, “uma escola online experimental para alunos de 10 a 14 anos”. Não há registros, físicos ou virtuais, de escolas criadas por Musk no país.

O Comprova tentou contato com a página responsável por publicar o conteúdo, mas um aviso de erro aparece ao enviar a mensagem, impossibilitando o diálogo.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 29 de outubro, o vídeo contava com mais de 225,1 mil visualizações no TikTok.

Fontes que consultamos: Buscamos no Google por entrevistas com Elon Musk via chamada virtual e encontramos o vídeo original, editado pelo post verificado. Também consultamos reportagens sobre as visitas do empresário ao Brasil e sobre a Ad Astra, escola criada por Musk.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Elon Musk já foi alvo de outras verificações do Comprova. Em abril deste ano, o projeto concluiu que ele não comprou o Grupo Globo, ao contrário do que vídeos satíricos afirmavam e, em setembro, foi verificado que a Starlink, pertencente a ele, não é dona de todos os satélites do Brasil.