O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Contextualizando

Investigado por: 31/01/2025

Posse de Trump: só após 90 dias será possível saber se parlamentares usaram dinheiro público

Contextualizando
O Comprova não encontrou registro de uso de verbas públicas para a viagem aos Estados Unidos de 21 deputados e um senador para a posse de Donald Trump em 20 de janeiro. Os parlamentares têm prazo de 90 dias para solicitar reembolso. Entenda o caso.

Conteúdo investigado: Posts que afirmam que parlamentares bolsonaristas viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump utilizando dinheiro público para pedir sanções contra o Brasil.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: No dia 20 de janeiro de 2025, quando o republicano Donald Trump tomou posse para seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, alguns parlamentares bolsonaristas brasileiros estiveram em Washington para acompanhar a posse. A comitiva contou com pelo menos 21 deputados federais e um senador. Nas redes sociais, publicações alegam que o grupo utilizou dinheiro público para realizar a viagem.

Embora muitos deles tenham usado as redes sociais para negar o uso de verba pública e para afirmar que viajaram utilizando recursos próprios, ainda não é possível dizer que nenhum dinheiro público será usado para custear pelo menos uma parte das viagens: por enquanto, não há registros de compra de passagens, hospedagem ou outros gastos no exterior com cota parlamentar ou viagem em missão oficial em nome de nenhum dos parlamentares que viajaram aos EUA na ocasião.

O Comprova perguntou à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal se foram utilizados recursos públicos nas viagens dos parlamentares aos Estados Unidos. Por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a Câmara disse que deputados podem usar recursos da cota parlamentar para cobrir despesas no exterior, desde que receba autorização prévia do terceiro secretário (para passagens) e do presidente da Casa para as demais despesas reembolsáveis, como hospedagem, alimentação, combustível etc.

Por enquanto, a Câmara não tem registros de despesas referentes à posse de Donald Trump, mas é possível pedir o reembolso em até 90 dias após o gasto – ou seja, até abril. Além disso, se tiverem viajado em missão oficial, têm direito a receber diária de viagem no valor de US$ 428 (leia mais abaixo).

O Senado foi questionado sobre a viagem do senador Jorge Seif (PL-SC), que aparece em imagens e postou nas redes sociais que viajou a Washington para a posse. Em nota, o Senado disse que não foram encontradas na base de dados registros de requerimento do senador para realização de viagem aos Estados Unidos este mês, “seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou pagas diárias internacionais para ele, e não há previsão de reembolso.

O Comprova não conseguiu contato com o autor da publicação.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 31 de janeiro, a publicação alcançou 245 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Foram acessados os portais da Transparência da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, onde buscamos por registros de pagamentos relacionados à cota parlamentar e a viagens oficiais desde a eleição de Donald Trump, em novembro do ano passado, até o dia da posse dele, em 20 de janeiro deste ano.

A Câmara e o Senado também foram procurados diretamente através das assessorias de comunicação – no caso da primeira, foi solicitado ainda o envio de respostas via Lei de Acesso à Informação (LAI). Também foram acessadas as redes sociais dos parlamentares que viajaram a Washington para a posse de Donald Trump, onde foram encontradas publicações que comprovam a ida ao local, e procurados os partidos aos quais eles são filiados.

Quais parlamentares viajaram para a posse de Trump?

Aos menos 21 deputados federais e um senador viajaram aos Estados Unidos para acompanhar a posse de Donald Trump como presidente: os deputados Adilson Barroso (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Capitão Alden (PL-BA), Carla Zambelli (PL-SP), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Coronel Fernanda (PL-MT), Coronel Ulysses (União Brasil-AC), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Giovani Cherini (PL-RS), Joaquim Passarinho (PL-PA), Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), Marcos Pollon (PL-MS), Mário Frias (PL-SP), Maurício do Vôlei (PL-MG), Mauricio Marcon (Podemos-RS), Messias Donato (Republicanos-ES), Nikolas Ferreira (PL-MG), Sargento Gonçalves (PL-RN) e Silvia Waiãpi (PL-AP), além do senador Jorge Seif (PL-SC).

O Comprova encontrou publicações nas redes sociais de todos eles feitas em Washington. Os vídeos e fotos do deputado Nikolas Ferreira foram acessados através das redes sociais da Rádio Itatiaia (1 e 2), de Minas Gerais, estado que ele representa. Uma lista inicial da comitiva contava também com os nomes dos deputados federais Gustavo Gayer (PL-GO) e Sóstenes Cavalcanti, mas não foram encontradas publicações que indiquem que eles estivessem no local.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) não aparece em fotos da posse de Donald Trump, mas esteve presente em outro evento em Washington, quatro dias depois: uma caminhada contra o aborto, no dia 24. O partido Novo informou, por meio da assessoria, que ele custeou a viagem com recursos próprios

As viagens foram pagas com dinheiro público?

Em postagens nas redes sociais, alguns dos parlamentares que viajaram para a posse de Donald Trump negaram o uso de dinheiro público e disseram ter custeado a viagem com recursos próprios, sem uso de verba da Câmara dos Deputados. O Comprova questionou a Câmara sobre o uso de recursos públicos, e pediu uma lista de todos os deputados que viajaram, além dos que receberam autorização para viajar em missão oficial.

A Câmara respondeu, via Lei de Acesso à Informação: “Após consulta aos nossos registros, verificamos que, até o momento, não foram identificadas despesas realizadas com a utilização da CEAP [Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar] relacionadas à referida viagem, em favor dos deputados desta Casa”, mas destacou que eles têm um prazo de 90 dias para pedir reembolso.

Apesar da resposta, não foram informados quais deputados viajaram, nem se eles pediram autorização para seguir em missão oficial. Ao Correio Braziliense, parceiro do Comprova, a Casa disse que 13 deputados receberam autorização para viajar em missão oficial, mas que não arcou com os custos.

Já o Senado foi questionado a respeito da viagem do senador Jorge Seif, e respondeu que “não há registro nas bases de dados do Senado Federal de requerimento de autoria do Senador Jorge Seif para a realização de viagem aos Estados Unidos neste mês de janeiro de 2025, seja com ou sem ônus para o Senado Federal”. Também não foram emitidas passagens ou liberadas diárias internacionais para o senador este ano. Ainda segundo o Senado, “não há previsão normativa para solicitação de ressarcimento de passagens internacionais utilizando cota parlamentar”.

As viagens de deputados federais podem ser pagas com verba pública em duas situações: com o uso de recursos da cota parlamentar ou por meio de diárias pagas para viagens em missão oficial. O valor da cota parlamentar varia de estado para estado porque depende do preço médio das passagens aéreas para Brasília (DF). A maior cota é para os parlamentares do estado de Roraima (R$ 51.406,33). A menor, para os do Distrito Federal (R$ 36.582,46).

Já no caso das viagens oficiais, o deputado tem direito a receber diárias que variam conforme o destino. Segundo o site da Câmara, a diária para viagens nacionais é de R$ 842. Nas internacionais, o parlamentar recebe diária de US$ 391 quando viaja para países da América do Sul e de US$ 428 quando vai para outros países – R$ 2.496,05 na cotação desta sexta-feira, 31.

Os dados disponíveis no site da Câmara referentes a janeiro de 2025 não apontam nenhum gasto da cota parlamentar com passagens ou hospedagem no exterior para os deputados que foram à posse. Também não foram encontrados registros de compra de passagens ou reserva feita ainda nos meses de novembro e dezembro, após o anúncio da vitória do republicano nas eleições dos EUA. Não foi cadastrada nenhuma viagem em missão oficial para os parlamentares citados.

Mas, isso não significa que recursos públicos ainda não possam ser usados. Isso porque, no caso da cota parlamentar, os deputados têm três meses para apresentar recibos e pedir reembolso. “O deputado tem até 90 dias para apresentar a documentação comprobatória do gasto. Os valores das notas fiscais apresentadas dentro desse prazo são debitados da cota do mês a que a despesa se refere”, diz a Câmara. O valor é creditado na conta do deputado, em média, até três dias úteis após a solicitação.

Já no caso das missões oficiais, os deputados têm 15 dias para apresentar relatório sobre as atividades desenvolvidas na viagem. Segundo o site da Câmara, as viagens ao exterior ocorrem “para que deputadas e deputados possam desempenhar missões junto a governos estrangeiros e a entidades internacionais, como a Organização dos Estados Americanos e a Organização das Nações Unidas”.

O Comprova questionou aos partidos políticos aos quais os parlamentares são filiados se eles financiaram a ida dos deputados aos EUA e se houve uso de recursos públicos, como verba do fundo partidário, por exemplo. O Podemos disse que apenas o deputado Maurício Marcon viajou e que ele “foi com recursos próprios”. O mesmo disse o Novo: apenas o deputado Marcel van Hattem viajou e usou verba própria: “Não houve dinheiro público custeando”, disse o partido.

O União Brasil também foi questionado sobre o uso de verba pública, mas respondeu, em nota, que “o partido não disponibilizou essa informação”. O PL e o Republicanos foram procurados: o PL sugeriu que fossem acionadas as equipes de cada parlamentar, e o Republicanos não respondeu.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já mostrou que uma imagem de Donald Trump ao lado de cadeira com o nome de Jair Bolsonaro foi criada com inteligência artificial, que um perfil de humor enganou ao comparar as posses de Lula e Trump com fotos de outros eventos e que um vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi feito com IA.

Notas da comunidade: O X não liberou notas da comunidade para o post investigado até a publicação desta verificação.

Mudanças climáticas

Investigado por: 30/01/2025

Vídeo engana ao afirmar que ministério teria entregue gestão de terras indígenas para empresa

Enganoso
Vídeo de ex-candidato à presidência em 2022 distorce as informações de um protocolo de intenções assinado entre a Ambipar, multinacional brasileira especializada em soluções ambientais, e o Ministério dos Povos Indígenas durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. O autor do conteúdo engana ao dizer que a pasta teria entregue 14% do território nacional, que seriam as terras indígenas demarcadas, para a empresa administrar. Na realidade, o acordo visa fortalecer a gestão territorial indígena por meio de ações focadas no desenvolvimento sustentável e na prevenção de emergências climáticas. A iniciativa irá abranger quase 1 milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, o que representa 14% do território nacional.

Conteúdo investigado: Vídeo gravado pelo monsenhor Kelmon, conhecido como Padre Kelmon, que foi candidato à Presidência da República em 2022 pelo PTB, atualmente filiado ao PL, no qual ele afirma que o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) teria entregado a gestão de 14% do território nacional, onde estão terras indígenas demarcadas, a uma empresa. A suposta concessão ao setor privado teria ocorrido durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Kelmon argumenta que a transferência da administração representaria uma ameaça à soberania nacional, pois mais de um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas passariam a ser controlados por uma empresa privada.

Onde foi publicado: Instagram e Facebook.

Conclusão do Comprova: Não é verdade que a pasta comandada pela ministra Sonia Guajajara tenha transferido a gestão de 14% do território nacional para uma empresa. Padre Kelmon, autor do vídeo verificado, distorce o objetivo de um protocolo de intenções assinado pelo secretário-executivo do MPI, Eloy Terena, com a Ambipar, uma multinacional brasileira especializada em soluções ambientais. O acordo, firmado durante o Fórum Econômico Mundial — realizado nos dias 20 e 24 deste mês, prevê iniciativas para fortalecer a gestão territorial indígena com ações voltadas ao desenvolvimento sustentável e à prevenção a emergências climáticas.

Em nota publicada no domingo, 26, o ministério desmentiu alegações de que o protocolo assinado com a Ambipar seria uma transferência de gestão de terras indígenas para a iniciativa privada. Segundo a pasta, a parceria “estabelece um compromisso preliminar sem transferência de qualquer verba ou de responsabilidade do Poder Público”. A assinatura faz parte da ampliação de diálogos que o órgão se propõe a promover com diferentes setores da sociedade civil voltados para a proteção dos direitos dos povos indígenas para além do poder público.

De acordo com uma postagem da multinacional sobre a parceria, a iniciativa vai beneficiar quase 1 milhão de quilômetros quadrados de terras indígenas. Segundo a Funai, as terras indígenas no Brasil ocupam cerca de 14% do território nacional, o equivalente a 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Para qualificar e fortalecer esses territórios, segundo o MPI, estão previstas as seguintes ações:

  • Projetos de conservação e recuperação ambiental;
  • Promoção da economia circular;
  • Gestão, destinação e disposição de resíduos sólidos;
  • Suporte técnico para prevenção e respostas a eventos extremos, como incêndios e enchentes;
  • Reflorestamento de áreas desmatadas e desenvolvimento de projetos de bioeconomia e serviços ecossistêmicos.

Ao contrário do que é dito na peça aqui verificada, o acordo com a Ambipar não ameaça a soberania do país, uma vez que a Constituição Federal prevê, no parágrafo 4º do artigo 231, que “as terras indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis”, ou seja, não podem ser vendidas e os direitos sobre elas não se perdem com o tempo.

O que é um protocolo de intenções?

Alvo de desinformação nas redes sociais, o protocolo de intenções consiste em um instrumento jurídico que estabelece vínculo cooperativo ou de parceria entre entes públicos com interesses recíprocos. Ao Comprova, o advogado mestre em Direito Administrativo Marcos Jorge explicou que o protocolo pode formalizar essa relação tanto entre entes públicos quanto entre entes públicos e particulares, a fim de realizar um propósito comum.

No caso da Ambipar, Jorge comentou que o protocolo serve para definir quais interesses o ministério e a empresa irão defender em conjunto. “Esses interesses não são interesses da empresa. Sempre que o poder público estiver presente, o que tem que ser atendido é o interesse público”, pontuou. Segundo o advogado, o instrumento resguarda o interesse dos povos indígenas e não tem relação com a concessão de terra pública ou indígena para o setor privado.

“Nesse caso concreto, a gente não tem a concessão, pois não se transfere a terra para a Ambipar administrar, como em uma concessão se transferiria. Apenas define que em um milhão de quilômetros quadrados de territórios indígenas, a Ambipar irá fomentar e apoiar a gestão territorial indígena”, disse Jorge.

O Comprova entrou em contato com o monsenhor Kelmon pelo Instagram, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 30 de janeiro, o vídeo alcançou 584 mil visualizações e obteve mais de 17 mil compartilhamentos no Instagram. No Facebook, o conteúdo recebeu mais de 52 mil curtidas e foi compartilhado mais de nove mil vezes.

Fontes que consultamos: Matérias publicadas pela imprensa sobre a parceria, um advogado mestre em direito administrativo, Constituição Federal e o site do Ministério dos Povos Indígenas.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Notícias sobre territórios indígenas costumam ser alvo de desinformação nas redes sociais. Em diversas situações, o Comprova desmentiu e contextualizou informações equivocadas envolvendo esses territórios, como no caso da Terra Indígena (TI) Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), onde uma ação de desintrusão retirou não indígenas que ocupavam a área irregularmente. Também foi esclarecido que a remoção de agricultores das regiões de Raposa Serra do Sol (RR) e Suiá Missú (MT) não foi uma decisão de Lula. Além disso, foi desmentida a suposta relação entre o aumento do preço do arroz e a demarcação de terra indígena em Roraima, assim como a alegação de que terras indígenas em Rondônia teriam sido vendidas a uma empresa irlandesa. O Aos Fatos concluiu que a alegação de que o governo federal teria transferido a gestão das terras indígenas a uma multinacional é falsa.

Contextualizando

Investigado por: 30/01/2025

Entenda o exercício militar da Venezuela na fronteira com o Brasil e suas implicações

Contextualizando
Vídeo que circula na internet aparentemente mostra a presença de militares venezuelanos armados em território brasileiro. No entanto, o episódio não significa o início de um conflito bélico entre os dois países como sugerem publicações nas redes sociais. No dia 22 de janeiro, o governo venezuelano fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares. A medida durou até a manhã seguinte.

Conteúdo analisado: Vídeo mostra a fronteira entre o Brasil e a Venezuela na cidade de Pacaraima. No lado brasileiro, é possível ver homens armados em caçambas de caminhonetes. O homem que grava o vídeo diz: “Neste momento, aí as tropas… forças especiais da Venezuela estão do lado do Brasil”. Há postagens que repercutem o vídeo com sugestões de que o episódio significa o início de uma guerra entre os dois países ou de uma invasão venezuelana. “Tropas do regime de Maduro cruzam a fronteira com o Brasil armados” e “Brasil sendo invadido pela tropa armada da Venezuela” são algumas das frases em postagens que compartilham o vídeo.

Onde foi publicado: X.

Contextualizando: Reportagens publicadas na imprensa brasileira (CNN Brasil, O Globo) informam que, no dia 22 de janeiro, o governo da Venezuela fechou a fronteira com o Brasil, em Pacaraima, em Roraima, para a realização de exercícios militares na chamada operação “Escudo Bolivariano 2025”. Dois dias antes, o site governo venezuelano publicou pronunciamento do ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, sobre a ação. Segundo ele, o exercício militar teve o objetivo de colocar em prática ações que “garantam a defesa militar e a ordem interna do país” e tornem as fronteiras do país “inexpugnáveis em todo o território nacional”.

A medida durou cerca de 12 horas, com a reabertura na manhã seguinte. Ainda no dia 22, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou nota afirmando que a decisão de fechar a fronteira se deu de forma unilateral pelo governo venezuelano. Ainda segundo o texto, o governo de Nicolás Maduro informou “que o fechamento deve-se a exercícios militares rotineiros e foi feito por medida de segurança”.

Não se trata, portanto, de uma incursão militar para início de um conflito bélico com o Brasil, como sugerem algumas das postagens.

Reportagem da CNN Brasil sobre a reabertura da fronteira, no dia 23, observa que circulam na internet “imagens de viaturas venezuelanas aparentemente cruzando a divisa, entrando em solo brasileiro e retornando logo em seguida”. A descrição coincide com o vídeo analisado neste Contextualizando.

O Comprova buscou contato com o Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o MRE, a Polícia Militar de Roraima, o Governo do Estado de Roraima, a Prefeitura de Pacaraima e o Consulado da Venezuela no Brasil na tentativa de confirmar se militares venezuelanos ingressaram armados em território brasileiro. O governo de Roraima disse que não se pronunciaria sobre o assunto: “Não compete ao Estado vigiar fronteiras, nem comentar políticas diplomáticas, estratégias, ações de defesa nacional ou afins”, diz trecho da nota enviada ao Comprova. Os demais órgãos não responderam.

Apesar de o Comprova não ter obtido confirmação de nenhum órgão oficial sobre a presença de militares da Venezuela armados no lado brasileiro da fronteira, o site Roraima em Rede afirma que as tropas do país adentraram “alguns metros” no território do Brasil durante o exercício militar. A matéria reproduz o mesmo vídeo analisado neste Contextualizando.

A comparação entres as imagens do vídeo e da fronteira via Google Maps (abaixo), permite constatar que se trata do mesmo local. Já os veículos que aparecem no vídeo no lado brasileiro da fronteira se assemelham às caminhonetes utilizadas pela Unidade de Reação Rápida (URRA) do exército venezuelano. A unidade participou da manobra, como consta no pronunciamento do ministro da Defesa venezuelano.

| Imagem do vídeo investigado.

| Captura de tela do Google Maps mostra a fronteira entre Brasil e Venezuela em Pacaraima, em Roraima.

Crise diplomática

Na avaliação do advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, caso os militares venezuelanos tenham de fato ingressado armados em território brasileiro, há uma sinalização, por parte do governo venezuelano, de um interesse em causar um conflito diplomático com o Brasil. “A fronteira física entre dois países é algo ‘sagrado’”, diz Belisário. “Se os militares venezuelanos entraram armados no lado brasileiro, isso é grave, e demonstra um ato de provocação de Nicolás Maduro (presidente da Venezuela) capaz de gerar um conflito diplomático entre os dois países”.

Já sobre a decisão unilateral da Venezuela de fechar a fronteira, para Belisário, embora menos grave, configura uma “ofensa” ao governo brasileiro. O advogado acredita que o episódio não tem potencial para gerar um conflito armado entre os dois países. “Isso me parece mais uma provocação, bem típica do Maduro, mas sem potencial para gerar consequências que extrapolem um conflito diplomático”.

Para a coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista em Franca (Unesp-Franca), Marilia de Souza Pimenta, o treinamento militar venezuelano não fere a soberania nacional brasileira, mas demonstra, no campo político, o afastamento de relações entre os dois países e a imprevisibilidade do governo de Maduro.

“Na prática, o que estamos vendo é o desmantelamento das relações políticas de proximidade que havia entre os dois países no início dos anos 2000, para relações cada vez mais distantes e difíceis para o cálculo político brasileiro, considerando ao menos dois fatos recentes: a questão da Guiana e as eleições de Maduro, cujas atas e documentos não foram formalmente apresentados, culminando no não reconhecimento de seu resultado pelo Brasil e a não presença de Lula em sua posse”, destaca a professora.

Resposta do governo brasileiro

De acordo com matérias da CNN Brasil e do Globo, publicadas nos dias 23 e 24, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, telefonou para o chanceler da Venezuela, Yván Gil, pedindo explicações sobre o episódio. As informações são de bastidores e não foi possível confirmá-las com as fontes oficiais.

Marilia de Souza Pimenta explica que, quando as relações diplomáticas são boas e estão estáveis, não há treinamento militar em região de fronteira ou bloqueio de passagem sem que haja comunicação prévia entre os países. “Ao contrário, na maioria das vezes, os treinamentos inclusive são feitos em conjunto, e a comunicação é feita via Forças Armadas”, diz a professora de Relações Internacionais, acrescentando que o fechamento de fronteira por decisão unilateral de um país demonstra “que há rusgas no campo político”.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. As postagens acumularam mais de 3,5 milhões de visualizações e 17 mil compartilhamentos no X.

Fontes que consultamos: O Comprova consultou notícias na imprensa e os seguintes órgãos: Exército Brasileiro, o Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Polícia Militar de Roraima, o governo do estado e a Prefeitura de Pacaraima. Foi feito contato também com o advogado Belisário dos Santos Jr., membro da comissão Internacional de Juristas em Genebra, na Suíça, e a professora Marília Souza Pimenta, coordenadora do Curso de Relações Internacionais da Unesp-Franca.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Lupa e o Aos Fatos publicaram verificações sobre o exercício militar na fronteira. Em checagens anteriores, O Comprova já mostrou que o Brasil defende solução pacífica entre Venezuela e Guiana em disputa por região petrolífera e que post sobre “fuga de venezuelanos” ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá.

Comunicados

Investigado por: 30/01/2025

Comprova lança canal no WhatsApp e curso para detectar desinformação nas redes sociais

Lançamento
Canal no WhatsApp vai publicar verificações, conteúdos explicativos e um minicurso criado em convênio com o projeto Mediawise, do Instituto Poynter, destinado ao público brasileiro de qualquer idade.

O Comprova, iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e da qual fazem parte 42 organizações de notícias, está lançando nesta quinta-feira, 30, um canal no WhatsApp para publicação de checagens e outros conteúdos produzidos pelo projeto.

O Comprova monitora redes sociais e aplicativos de mensagem para detectar conteúdos virais falsos ou enganosos sobre saúde, políticas públicas, eleições e mudanças climáticas. As verificações são feitas de modo colaborativo por jornalistas de distintos veículos de comunicação e publicadas somente depois de uma revisão feita por ao menos três jornalistas de veículos que não participaram da investigação.

O acesso ao canal é gratuito e pode ser feito por este link ou pelo QR-Code ao lado.

O canal do Comprova no WhatsApp pretende reduzir a distância entre o projeto e o público e aumentar a velocidade de distribuição das verificações. E amplia ainda mais o alcance das checagens que hoje são republicadas pelos 42 veículos que participam do projeto.

“É essencial que as checagens estejam cada vez mais presentes no WhatsApp, perto das pessoas, buscando circular com a maior velocidade possível e nos mesmos espaços em que grassa a desinformação. Com essas iniciativas, o Comprova dá mais um passo importante para se aproximar mais do seu público alvo”, comenta Katia Brembatti, presidente da Abraji.

Os assinantes do canal do Comprova no WhatsApp terão acesso no lançamento ao minicurso Aprenda a identificar boatos nas redes. O curso é gratuito e terá duração de 10 dias. Nesse período, os assinantes do canal receberão lições diárias com dicas para detectar conteúdos enganosos que circulam pelas redes sociais ou por aplicativos de mensagem e assim aumentar a sua capacidade crítica e a resistência para a desinformação.

O curso foi desenvolvido pela MediaWise, iniciativa de letramento midiático do Poynter Institute, com apoio do WhatsApp, e adaptado para o público brasileiro pelo Comprova.

“Estamos entusiasmados com esta parceria com o Comprova para a adaptação brasileira deste curso da MediaWise que será transmitido por 10 dias pelo WhatsApp”, diz Brittani Kollar, vice-diretora da MediaWise. “Em uma era de superabundância de informações, desde postagens incorretas compartilhadas involuntariamente até publicações falsas compartilhadas intencionalmente, é essencial que cada pessoa esteja equipada e confiante para identificar informações falsas e encontrar conteúdos confiáveis ​​por conta própria.

“O canal no WhatsApp é uma ferramenta de transmissão simples e segura que auxiliará o Comprova a alcançar seu público em um aplicativo que já está na palma da mão de quase todos os brasileiros. Acreditamos que essa é uma maneira privada e eficiente para que os seguidores do projeto consigam acompanhar as informações que acharem mais úteis”, afirmou Daniela Scapin, head de políticas públicas para o WhatsApp no Brasil.

Cada lição diária do curso terá duração de 5 a 7 minutos. No final do programa, os participantes estarão aptos a identificar as principais características de conteúdos suspeitos, conseguirão fazer algumas verificações por conta própria e saberão lidar com muito mais discernimento com os conteúdos enganosos ou deliberadamente falsos com os quais se defrontam cotidianamente nas redes sociais.

Sobre o Comprova

O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos criada em 2018 e liderada pela Abraji. O projeto reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. O Comprova é financiado pela Google News Initiative.

Sobre Mediawise

MediaWise é uma iniciativa de letramento midiático para redes sociais do Poynter Institute, uma organização sem fins lucrativos. O programa ensina pessoas de todas as idades e origens a se envolverem responsavelmente com conteúdos online na era de superabundância de informações. O MediaWise foi criado em 2018 para capacitar indivíduos a encontrar fontes confiáveis ​​e dar sentido à vasta quantidade de informações que têm ao alcance das mão.

Sobre WhatsApp

Mais de 2 bilhões de pessoas em mais de 180 países usam o WhatsApp para manter contato com amigos e familiares, a qualquer hora e em qualquer lugar. O WhatsApp é gratuito e oferece mensagens e chamadas simples, seguras e confiáveis, em todo o mundo.

Eleições

Investigado por: 27/01/2025

Vídeo satírico de Lula pedindo votos para Bolsonaro em 2026 foi gerado por IA

Sátira
Criado com inteligência artificial (IA), um vídeo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedindo votos para Jair Bolsonaro (PL) é uma sátira, publicada por um perfil de humor. O uso de IA, além de identificado por uma marca d'água da Infinity AI, serviço de geração digital de imagens, no canto inferior direito da tela, pôde ser verificado pelo Comprova por informações contidas no conteúdo, como distorções no rosto perceptíveis, comuns em imagens sintéticas.

Conteúdo investigado: Vídeo mostra Lula com uma camiseta com a inscrição “Bolsonaro 2026”. No conteúdo, o atual chefe do Executivo pede para que as pessoas votem no ex-presidente nas próximas eleições. A legenda da publicação diz “um vídeo honesto!”.

Onde foi publicado: TikTok.

Conclusão do Comprova: É sátira um vídeo em que o presidente Lula pede votos para Jair Bolsonaro nas eleições de 2026 e usa uma camiseta com o nome do ex-presidente. As cenas foram produzidas por inteligência artificial, o que é possível verificar pela marca d’água “Infinity AI” no canto inferior direito do conteúdo.

I Legenda: É possível ver no vídeo analisado que as imagens foram geradas pela plataforma Infinity AI, que permite a criação de conteúdo digital. I

Além disso, há distorções no rosto de Lula vistas a olho nu, algo que comumente ocorre em imagens geradas digitalmente.

A ferramenta Hive Moderation, que verifica indícios de manipulação por IA, também indicou evidências de manipulação na publicação. Segundo o serviço, não há nenhuma chance de a imagem usada no vídeo ser real; sobre o áudio, a ferramenta aponta haver 72% de chance de ter sido criado sinteticamente, resultando em 72% de probabilidade de o conteúdo ter sido gerado com inteligência artificial ou com uso de deepfake, técnica de IA usada para combinar áudios e vídeos e criar conteúdos falsos, como explicou o Comprova.

 

I Legenda: Análise do Hive Moderation concluiu haver 72% de chance de o vídeo ter sido gerado por IA I

 

Além de todas as evidências de conteúdo gerado por IA, não há declarações de Lula pedindo voto para Bolsonaro, que está inelegível até 2030. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impediu, em 2023, o ex-presidente de concorrer ao pleito durante oito anos por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

O Comprova concluiu tratar-se de uma sátira porque, além de ter sido publicado por um perfil que se define como “de memes e humor”, o post traz hashtags como #lula, #bolsonaro, #direita e #esquerda. Em um dos poucos comentários em que alguém parece acreditar no vídeo, o dono do perfil reforça que é um canal de humor.

Sátira, para o Comprova, é o meme, paródia ou imitação publicada com intuito de fazer humor. O Comprova verifica conteúdos satíricos quando percebe que há pessoas tomando-os por verdadeiros ou quando circulam por outros meios sem a identificação de conteúdo humorístico feita pelo autor.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 64 mil visualizações e 2 mil curtidas até 27 de janeiro.

Fontes que consultamos: Consulta na ferramenta Hive Moderation e busca pelo perfil responsável pela publicação.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Vídeos criando deepfakes de Lula e outros políticos já foram checados outras vezes. O Comprova já verificou, inclusive, um post semelhante ao checado aqui, do petista pedindo votos para Bolsonaro na eleição de 2022. Também já concluiu ser sátira vídeo de mulher com rosto do presidente e delegado parecido com Bolsonaro.

Política

Investigado por: 23/01/2025

Imagem de Trump ao lado de cadeira com nome de Bolsonaro foi criada com IA

Falso
Uma imagem que viralizou do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado de uma cadeira vazia com o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro foi criada por inteligência artificial. A reportagem fez uma busca reversa do conteúdo e encontrou um post com a mesma imagem em que aparece a marca d 'água do Grok, ferramenta de inteligência artificial do X.

Conteúdo investigado: Post mostra uma imagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sentado ao lado de uma cadeira vazia com o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Trump posa ao lado de cadeira vazia com o nome de Bolsonaro”, diz texto inserido acima da imagem.

Onde foi publicado: Instagram.

Conclusão do Comprova: É falsa a foto de Donald Trump ao lado de uma cadeira vazia com o nome de Bolsonaro. O resultado de uma busca reversa da imagem, que permite encontrar outras imagens semelhantes, trouxe outro post em que é possível ver, no canto inferior direito, a marca d´água do Grok, ferramenta de inteligência artificial do X que cria imagens sintéticas a partir de comandos de usuários.

A mão distorcida do presidente recém-eleito e seu rosto mais redondo e jovem são alguns detalhes que evidenciam que a foto não é real, como é possível ver a seguir:

I Imagem usada no post verificado pela reportagem tem indícios de uso de inteligência artificial e edição que podem ser observados a olho nu. Créditos: Reprodução/Instagram e Divulgação/Casa Branca.

I Post publicado dois dias antes da publicação verificada pelo Comprova e encontrado a partir de busca reversa no Google Imagens; a imagem mostra a marca d´água do Grok. Crédito: Reprodução/Instagram.

Mesmo tendo concluído ser uma imagem gerada por IA, o Comprova fez outras buscas e não há nenhum registro nas redes sociais de Trump, de Bolsonaro ou na imprensa de cena semelhante à do post mentiroso.

A publicação sugere que o registro teria sido feito durante a posse do republicano, já que o ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), foi impedido de participar após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar devolução do seu passaporte.

A reportagem tentou contatar o autor do post, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. A publicação teve mais de 8 mil visualizações e 16 mil curtidas até 22 de janeiro.

Fontes que consultamos: Buscas reversas no Google Imagens e pesquisas no Google.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A Agência Lupa e a Reuters também concluíram que a imagem é falsa. Ainda sobre Trump, o Comprova já verificou, por exemplo, que perfil de humor engana ao comparar posses de Trump e Lula (PT) usando fotos de outros eventos e que vídeo com dublagem falsa engana ao dizer que Trump enviou mensagem para Bolsonaro.

Política

Investigado por: 21/01/2025

Perfil de humor engana ao comparar posses de Trump e Lula usando fotos de outros eventos

Enganoso
Post engana ao comparar a recente posse de Donald Trump com a de Lula, em 2023, sugerindo que, na do brasileiro, houve a exibição de dois homens se beijando. A foto usada na publicação é real, mas anterior ao início do terceiro mandato de Lula. Ela é de janeiro de 2018 e mostra ato de artistas e intelectuais em seu apoio, contra sua condenação no caso do triplex do Guarujá. A imagem de Trump também não é de sua posse, ocorrida nesta segunda-feira (20). O clique é de maio de 2015.

Conteúdo investigado: Post com a legenda “Posse do Trump/Posse do Lula” e duas fotos. A da esquerda mostra Donald Trump e sua mulher, Melania. A da direita, Lula em uma plateia sorrindo ao olhar para dois homens se beijando.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que, para comparar as posses do norte-americano Donald Trump e do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, usa uma foto do petista sorrindo ao assistir a um beijo entre dois homens. A imagem é real, mas, como foi possível verificar a partir de uma busca no Google Imagens, é de um evento ocorrido em 18 de janeiro de 2018, e não de janeiro de 2023, quando Lula iniciou seu terceiro mandato, nem nas posses anteriores. Na ocasião da foto, intelectuais e artistas fizeram um ato em São Paulo para apoiar a candidatura de Lula à presidência e contra sua condenação no caso do triplex do Guarujá (SP).

I Captura de tela do site da Folha mostra clique feito pelo fotógrafo Jorge Araujo em ato realizado em apoio a Lula em 2018; foto do mesmo evento foi usada em post enganoso.

A foto usada como sendo da posse de Trump também não é do evento, ocorrido nesta segunda-feira (20) – nem da posse anterior, em 2017. O clique é de maio de 2015 e mostra o republicano com sua mulher, Melania, em uma luta entre os boxeadores Floyd Mayweather Jr. e Manny Pacquiao na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas.

I Captura de tela do site da Getty Images com a foto original que foi usada no post verificado pelo Comprova mostra Trump e Melania em evento em 2015, e não em sua posse.

O post enganoso foi publicado por um perfil que se define como de humor, mas diversos seguidores acreditaram no conteúdo. “Sem comparação” e “que brutal diferença” foram alguns dos comentários deixados. Contatado pela reportagem, o autor do post, que já teve outros conteúdos verificados pelo Comprova, respondeu em tom satírico.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. 

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Este post foi visualizado ao menos 783,1 mil vezes até 21 de janeiro.

Fontes que consultamos: Buscas no Google Imagens e reportagens sobre o ato em apoio a Lula em 2018.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Conteúdos de perfis humorísticos também podem ser verificados pelo Comprova quando há comentários de usuários que demonstram acreditar na veracidade da publicação. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo Trump e Lula, como o post que mentia ao afirmar que o americano teria publicado que não convidaria o brasileiro para sua posse “porque lugar de ladrão é na cadeia” e o que inventava que o republicano teria dito que o petista é o maior presidente do mundo.

Notas da comunidade: Até o momento da publicação, o X não havia acrescentado notas da comunidade ao post verificado. As notas são um instrumento criado pelo X para que usuários da plataforma possam adicionar contexto aos posts de terceiros.

Comunicados

Investigado por: 17/12/2024

Comprova encerra sétima fase com 275 reportagens publicadas

Comprova 2024
O trabalho do Comprova em 2024 reafirmou o compromisso do projeto de enfrentar a desinformação de modo colaborativo e a vocação do consórcio para capacitação de profissionais. Desde o início em 2018, já passaram pelo Comprova 422 jornalistas. O projeto retorna em 20 de janeiro de 2025.

O Projeto Comprova, consórcio liderado pela Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo investigativo e do qual fazem parte 42 organizações jornalísticas, encerrou a sétima fase com 275 reportagens investigativas publicadas pelo site e uma projeção de mais 3,5 mil publicações de veículos parceiros que reproduzem as verificações feitas pelo Comprova.

Dessas reportagens, 81 foram publicadas com os selos Contextualizando e Comprova Explica. As reportagens com essas sinalizações são produzidas em formatos explanatórios, que têm como objetivo oferecer mais contexto a assuntos que estejam sendo explorados por agentes de desinformação. Esses agentes costumam usar técnicas de persuasão sofisticadas para intencionalmente criar ruídos e influenciar a opinião dos cidadãos.

Em 2024, o Comprova também reforçou a produção de vídeos. Foram 73 verificações apresentadas em vídeo e compartilhadas nas plataformas sociais do projeto e dos veículos parceiros.

O Comprova abriu novas frentes de distribuição em 2024.

Em julho, o projeto lançou uma nova versão do aplicativo para celular, incluindo a possibilidade ao usuário de habilitar notificações. O aplicativo foi o vencedor do Best of 2022, prêmio da Google Play Store para o mercado brasileiro, na categoria “Melhores apps do bem“.

Em novembro, o Comprova liberou uma versão de testes para o seu canal no WhatsApp. A publicação da versão final está prevista para janeiro de 2025 com o lançamento de um curso criado com a MediaWise (Poynter) para ajudar as pessoas a elevar sua capacidade crítica para a desinformação.

Colaboração

A colaboração é um dos valores mais importantes do Projeto Comprova. E no ano eleitoral de 2024 o projeto procurou levar o espírito colaborativo para além dos veículos de comunicação que fazem parte do consórcio. Para isso, o Comprova produziu conteúdos especiais como o guia Inteligência Artificial – o básico para jornalistas, abriu um programa de mentorias para que jornalistas de outros veículos pudessem buscar orientações para checagem de conteúdos suspeitos nas eleições municipais e deu acesso a documentos até então de uso interno como a caixa de ferramentas Recursos para Jornalistas, que reúne dezenas de ferramentas úteis para o trabalho investigativo.

O Comprova também colaborou com a Meedan, uma organização internacional sem fins lucrativos que ajuda a desenvolver aplicações para enfrentamento da desinformação. Em 2024, compartilhamos com outras organizações de checagem brasileiras as sugestões de verificação de publicações sobre as eleições que recebemos pelo canal de WhatsApp do Comprova.

O chatbot do Comprova registrou 20 mil conversas via whatsapp com usuários entre janeiro e novembro de 2024.

O Comprova também colaborou com iniciativas como a Jornada Galápagos de Jornalismo, o LatamChequea, o projeto #FaketôFora da Educamídia, o projeto 24h pelo Diabetes e participou com seus representantes de dezenas de eventos, seminários e encontros sobre desinformação em 2024.

Em 2024, o Comprova fechou uma parceria com a Jusbrasil para acesso ao banco de dados de processos da organização e os jornalistas do projeto receberam treinamento para uso da ferramenta.

Capacitação de jornalistas

Um dos pilares do Comprova é a formação de jornalistas para atuarem no enfrentamento à desinformação e capacitá-los para usar métodos e técnicas de checagem no trabalho investigativo. Neste ano, 62 jornalistas trabalharam diretamente nas verificações do Comprova (veja a lista abaixo).

Esses profissionais receberam treinamento e parte deles participou de eventos de capacitação como o ComprovaDay, o LatamChequea e o Programa de Residência no Comprova.

O Comprova também distribuiu 82 bolsas mensais a jornalistas de veículos que necessitaram de apoio para ceder repórteres ao projeto. O custeio total dessas bolsas alcançou 410 mil reais.

Desde seu início, em 2024, já são 422 profissionais de comunicação que participaram do Comprova.

As verificações do Comprova são um ato coletivo. Nelas, dois ou três jornalistas fazem a investigação e ao menos outros três, de veículos diferentes, fazem o cross-checking, um tipo de revisão por pares. E as checagens passam também pela revisão de editores. Por se tratar de um trabalho coletivo, as verificações do Comprova não são assinadas.

Para o devido crédito ao trabalho dos verificadores, publicamos aqui a lista dos profissionais que participaram do Comprova em 2024.

 

Verificador(a)

Veículo

Adriano Soares

Portal Imirante

Alanis Neto

Correio do Estado

Alessandra Monnerat

Estadão

Alexandra Cavalcanti

Correio do Estado

Aline Nunes

A Gazeta

Ariel Freitas

Estadão

Bernardo Costa

Estadão

Bruna Barone

Band News FM

Bruno Vital

Tribuna do Norte

Carlos Iavelberg

UOL

Cecília Sorgine

AFP

Cido Coelho

SBT e SBT News

Clarissa Pacheco

Estadão

Daniel Aloísio

Correio

Davi Vittorazzi

Programa de Residência no Comprova

Felipe Salustino

Tribuna do Norte

Fred Carvalho

AFP

Fred Vidal

O Dia

Gabriel Belic

Estadão

Gabriela Brasil

Portal Norte

Gabriela Braz

Correio Brasiliense

Gabriela Meireles

Estadão

Giovana Frioli

Estadão

Isabela Aleixo

UOL

Izabella Caixeta

Estado de Minas

Julia Salim Monteiro de Castro Paes

Programa de Residência no Comprova

Karla Araújo

O Popular

Leandra Souza

Programa de Residência no Comprova

Luan Souza da Conceição

Programa de Residência no Comprova

Luciana Marschall

Estadão

Luciana Nascimento Araújo

Correio de Carajás

Luisa Alcantara e Silva

Folha de S. Paulo

Ma Leri Silverio da Silva

Programa de Residência no Comprova

Maria Clara Pestre

AFP

Maria Eduarda Nascimento

Estadão

Maria Paula Letti

Canal Meio

Milena Vogado da Silva

Metrópoles

Milka Moura

Estadão

Nathália Moreira

UOL

Pedro Bardini

Nexo

Pedro Prata

Estadão

Raquel Rocha

Programa de Residência no Comprova

Rayane Lopes

Programa de Residência no Comprova

Sabrina Quariniri

NSC

Samantha Stephany do Nascimento Conceição

Programa de Residência no Comprova

Stéphanie Karoline Araújo do Carmo

Programa de Residência no Comprova

 

Talita Burbulhan

Estadão

Thatiany Nascimento

Diário do Nordeste

Thays Araújo

Correio de Carajás

Thays Maria dos Santos Salles

O Povo

Thiago Aquino

Agência Tatu

Valesca Consolaro

Correio do Estado

Vanessa Ortiz

Terra

Victor Aguiar

CNN Brasil

Vinicius Zagoto

A Gazeta

Yasmin Restum

Canal Meio

 

Também fazem parte da equipe os editores David Michelsohn, Helio Miguel Filho, José Antônio Lima e Sérgio Lüdtke.

O Projeto Comprova é financiado pela Google News Initiative e recebeu também recursos da Meta e do WhatsApp em 2024. Saiba mais sobre nossos valores, princípios e financiamento na página de transparência do Comprova.

O Comprova retomará as suas atividades em 20 de janeiro de 2025.

Política

Investigado por: 13/12/2024

Áudio sobre quadro de Lula ser ‘gravíssimo’ é de perfil que posta conteúdos inventados

Enganoso
É enganoso que o estado de saúde do presidente Lula seja gravíssimo, como alega um áudio espalhado nas redes sociais e atribuído a um médico do Hospital Sírio-Libanês. A unidade de saúde informou desconhecer a origem do conteúdo, e o boletim médico mais recente informa que o presidente está lúcido e orientado, alimentando-se normalmente e realizando caminhada pelos corredores do hospital. A Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal informou que Lula tem previsão de alta para o início da próxima semana.

Conteúdo investigado: Áudio em que um homem afirma que o presidente Lula (PT) passou por procedimentos que “não são uma cirurgia simples” e que o estado dele é “gravíssimo”. O autor do conteúdo acrescenta que estão divulgando que o quadro é leve como manobra política, e que não estão falando a verdade. Junto ao post há uma legenda que diz se tratar do áudio de um médico, e o autor questiona: “estão escondendo a verdade de você?”

Onde foi publicado: TikTok, WhatsApp e Instagram.

Conclusão do Comprova: Um post viral engana ao dizer que o estado de saúde do presidente Lula (PT) é “gravíssimo”. O conteúdo traz um áudio em que um homem, que seria um médico do Hospital Sírio-Libanês, onde o petista está internado, faz declarações como “Até quando eu vou ficar falando que está tudo bem com o presidente? Estou cansado de passar vergonha alheia. Eu não tenho nem o que falar pros colegas de profissão” e “Eu não sei a quem interessa ficar passando que o quadro clínico dele é leve”.

A publicação foi feita por um perfil que afirma publicar “fantasias, sátiras, comédia, sem base na realidade”, mas foi compartilhada por diversas outras páginas como se fosse real. Segundo o conteúdo, o autor do áudio é um médico do Sírio, mas, contatado pelo Comprova, o hospital afirmou não ter conhecimento da gravação e enviou os boletins com atualização do quadro de Lula.

Segundo o mais recente deles, da manhã de 13 de dezembro, o presidente “segue lúcido e orientado, alimentou-se normalmente e realizou caminhada pelos corredores”. Ele saiu da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) para cuidados semi-intensivos. Em seu perfil oficial em redes como Instagram e X, Lula publicou vídeo caminhando nos corredores do hospital.

Também ao Comprova, a Secretaria de Comunicação (Secom) do governo federal mencionou o boletim médico e afirmou ser “evidente que o conteúdo é falso”. “A previsão de alta é no início da próxima semana”, disse o órgão.

A pedido da reportagem, o neurocirurgião Wuilker Knoner Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, analisou o áudio e explicou que vários termos citados na gravação sequer são adotados na neurocirurgia. Conforme o médico, existem duas formas de se fazer qualquer procedimento intracraniano, como drenar um hematoma, por exemplo: a trepanação e a craniotomia.

Na primeira, é feito um pequeno orifício, do tamanho de uma moeda de um real, e para drenar o hematoma é colocado um cateter. Já a craniotomia abre uma uma janela óssea maior, que pode variar do tamanho de uma medalha olímpica à metade do crânio, a depender do tamanho da lesão que precisa ser tratada.

No caso de Lula, segundo os boletins médicos divulgados, foi realizada a trepanação, ou seja, um pequeno orifício para drenar o sangue coagulado que estava aprisionado e comprimindo o cérebro, o que é chamado de hematoma subdural crônico. O médico destaca que essa é uma patologia muito frequente na neurocirurgia e, na maioria das vezes, simples de se resolver.

O presidente ainda foi submetido a outro procedimento, a embolização de uma artéria. De acordo com o neurocirurgião, aqui é feito um cateterismo, via artéria femoral, para depositar uma cola que vai fechar uma artéria. “É uma artéria que fica mais externa no cérebro, na capa do cérebro, e quando você fecha essa artéria, você impede que novos sangramentos aconteçam. Então, foi uma cirurgia preventiva para não ressangrar”, explicou.

Knoner Campos informa que a maior parte dos pacientes que passa por esses procedimentos não chega ao estado grave. “A grande maioria do hematoma subdural crônico, que é o problema do presidente Lula, é de pacientes que revertem o déficit que chegou. Normalmente, há uma paralisia de um lado, uma fraqueza, uma dor de cabeça, uma tontura, uma desorientação, mas quando drena, faz uma trepanação, normalmente no dia seguinte já recupera tudo”, disse.

Ele finaliza dizendo que isso explica porque o presidente já está bem, no quarto e comendo, conforme os boletins médicos divulgados. “É uma minoria que fica grave e não há, necessariamente, sequela. A maioria melhora no pós-operatório de hematoma subdural crônico.”

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Publicado em 11 de dezembro, o post verificado aqui foi visualizado mais de 84,6 mil vezes em dois dias.

Fontes que consultamos: Assessoria de imprensa do Sírio-Libanês, Secom, reportagens sobre a internação de Lula e um neurocirurgião.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: A internação de Lula vem gerando uma onda de desinformação nas redes sociais. A Folha publicou, por exemplo, que a “internação de Lula é alvo de desinformadores nas redes sociais”; na mesma linha, o Estadão Verifica afirmou ser falso que o Hospital Sírio-Libanês tenha solicitado certidão de óbito do presidente e o Aos Fatos escreveu que “cirurgia de Lula infla teorias conspiratórias sobre falsa morte”. O Comprova também já investigou post envolvendo a hospitalização e concluiu ser falso que a primeira-dama, Janja, poderia assumir a presidência caso ele seja afastado. Ainda sobre o presidente, o Comprova classificou também como falsos post que afirmava que o governo iria cobrar imposto de donos de pets e conteúdo dizendo que Lula iria reduzir o salário mínimo em 2025.

Mudanças climáticas

Investigado por: 12/12/2024

Vídeo contradiz ciência ao negar importância da Amazônia na regulação do clima

Enganoso
A Amazônia possui papel na regulação do clima do planeta, diferentemente do que disse um pesquisador em evento de ruralistas no Pará. Especialistas consultados pelo Comprova explicaram que é consenso científico a influência da floresta sul-americana para o sistema climático do mundo, como na absorção do carbono lançado para a atmosfera e no controle de chuvas. Impactos no bioma podem ocasionar efeitos negativos no continente e em outros lugares do planeta. A Organização das Nações Unidas (ONU) também evidencia a importância da Amazônia no controle climático.

Conteúdo investigado: Vídeo no qual um homem que se apresenta como pesquisador afirma que a Amazônia representa apenas 1% da superfície global do planeta e, por isso, “não muda, não equilibra, não altera e não faz nada em relação ao clima do mundo”. Em seu discurso, ele defende o uso de recursos naturais da floresta sul-americana.

Onde foi publicado: X.

Conclusão do Comprova: Diferentemente do que afirma post enganoso, a Amazônia contribui, sim, para estabilizar o clima do planeta, segundo especialistas consultados pelo Comprova e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em publicação de outubro deste ano. A gravação analisada foi feita durante o 62º Encontro Ruralista do Pará, chamado de COP30 do Agro, e as declarações são atribuídas a um pesquisador. O discurso se tornou viral e foi publicado, inclusive, nas redes sociais da Associação de Produtores Rurais Independentes da Amazônia (Apria) em 4 de dezembro.

Flávia Regina Capellotto Costa, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explicou que o sistema climático global é complexo e conectado em cadeias, por isso mudanças em uma parte do mundo impactam outros locais. “A afirmação de que a Amazônia não pode ter efeito relevante no clima não é correta”, diz. “Estudos de climatologia mostram que alterações em um local do planeta afetam outras partes. O sistema atmosférico e as águas do oceano estão todos conectados.”

Doutora em ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Kauane Bordin fez considerações semelhantes e citou que as alegações do vídeo analisado não têm base científica e são infundadas. “A floresta sul-americana tem um grande papel na regulação climática global, contribuindo com uma larga parcela da absorção de CO² (gás carbônico) emitido para a atmosfera”, explica. “Ela também atua no regime de chuvas do país como um todo, através dos rios voadores, que trazem umidade para o sul do Brasil.”

De acordo com as pesquisadoras, a floresta amazônica atua como um “sumidouro de carbono” no mundo, absorvendo o elemento da atmosfera e fixando-o nas árvores. “Isso tem consequências para a regulação da temperatura, já que o CO² é um dos principais gases que geram o efeito estufa”, diz Flávia Costa. A Amazônia também tem a função de circulação das águas recebidas dos oceanos (pelas chuvas), garantindo padrões climáticos e de ecossistemas na América do Sul. “A reconfiguração da vegetação deste continente acaba por modificar o clima de todo o globo, já que a atmosfera terrestre é conectada”, explica a pesquisadora.

Pesquisador da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, o doutor em ecologia Bernardo Flores também afirmou ao Comprova que é consenso da comunidade científica global que a floresta amazônica é responsável pela regulação climática do planeta, possuindo o maior reservatório de biodiversidade do mundo. “Atividades econômicas que causam efeitos negativos na Amazônia, a médio e longo prazo, levarão a mudanças catastróficas na qualidade de vida das pessoas em todo o continente”, ressalta. Segundo ele, os danos ao bioma ainda prejudicam a produção agrícola brasileira.

O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), já explicou como a Amazônia regula o clima do planeta, com imagens ilustrativas desse processo, em uma publicação divulgada em 2021 no perfil Pesquisa Fapesp do Facebook.

No vídeo analisado pelo Comprova, ainda são citados dados sobre a proporção da Amazônia em relação ao planeta. A floresta tem cerca 6,92 km² de extensão na América do Sul, sendo 5 milhões de km² no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Já a superfície da Terra é de 510 milhões de km², sendo 149,4 milhões de km² de continentes. Dessa forma, a Amazônia corresponde a 1,3% do total do globo e 4,6% da área continental, aproximadamente.

O Comprova tentou contato com o pesquisador mencionado nas postagens por meio da Universidade Federal do Pará (UFPA), pois consta, em seu perfil do Lattes, que ele é professor aposentado da instituição. Também enviamos uma mensagem para a Apria, que publicou o discurso. A reportagem não recebeu retorno em nenhuma das tentativas. O perfil que fez a publicação viral no X também foi contatado e não respondeu.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 12 de dezembro, a publicação alcançou 104,4 mil visualizações no X.

Fontes que consultamos: Pesquisamos sobre o tema no Google e consultamos o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e os cientistas da área ambiental Flávia Regina Capellotto Costa, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Kauane Bordin, doutora em ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o pesquisador da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, o doutor em ecologia Bernardo Flores. Tentamos contato com a Associação de Produtores Rurais Independentes da Amazônia (Apria), mas não obtivemos retorno.

Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez outras verificações relacionadas à Amazônia como a que explicou o funcionamento do fundo usado para preservação da floresta, que era alvo de desinformação. Recentemente, também esclareceu que o governo federal não vendeu a maior reserva de urânio do Brasil para a China.