O Projeto Comprova é uma iniciativa colaborativa, apartidária e sem fins lucrativos liderada pela Abraji e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação brasileiros para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas que foram compartilhados nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens.
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Eleições

Investigado por: 14/10/2022

Distribuição de material de campanha por Correios é regular, ao contrário do que diz homem em vídeo

Enganoso
É enganoso vídeo em que carteiro é acusado de distribuir material de campanha de forma ilegal. Nas imagens, um funcionário dos Correios é abordado dentro de uma loja por um homem que pergunta se ele pode entregar panfletos do PT com uniforme da empresa, sugerindo que o ato é irregular. A prática, no entanto, é legal quando contratada dentro das regras eleitorais. O empregado da estatal tinha em mãos, entre outras correspondências, material de candidato a deputado estadual por Minas Gerais que contratou serviço dos Correios para distribuição de 40 mil panfletos na modalidade “mala direta não endereçada”.

Conteúdo investigado: Vídeo no Kwai mostra um carteiro sendo interpelado por um cidadão, que o acusa de cometer irregularidades ao distribuir material de campanha do PT. O servidor é chamado de “funcionário lixo” na publicação.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É enganoso post que sugere que, pela lei, o carteiro dos Correios não pode entregar material de campanha eleitoral. Um funcionário dos Correios foi filmado e constrangido por um homem enquanto entregava material encomendado pelo candidato a deputado estadual do PT Chico Simões em Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG). A publicação, que classifica o servidor como “funcionário lixo”, obteve 600 mil visualizações até esta sexta-feira (14).

Os Correios lamentaram, em nota, a abordagem feita ao funcionário e afirmaram que tomaram medidas contra a peça de desinformação compartilhada em redes sociais. De acordo com a estatal, o carteiro hostilizado na publicação fazia a entrega do objeto postal regular conhecido como mala direta. O serviço é disponibilizado a todos os clientes que sejam candidatos a cargos eletivos, bem como a partidos políticos, comitês eleitorais e agências de publicidade, para o envio de propaganda eleitoral e de material relacionado à campanha.

Simões confirmou ao Comprova ter contratado o serviço “mala direta” dos Correios, na modalidade “não endereçada”. Isso quer dizer que o panfleto de propaganda não é enviado a endereços pré-definidos, mas distribuído a residências localizadas em determinada área escolhida pelo contratante. No caso, toda a cidade de Coronel Fabriciano.

Os Correios deveriam entregar 40 mil panfletos contratados pelo candidato a deputado estadual durante o período de campanha. No dia 6 de setembro deste ano, Francisco de Assis Simões pagou a quantia de R$ 9.587,20 à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), agência de Coronel Fabriciano, conforme consta no comprovante de pagamento cuja cópia foi enviada ao Comprova pelo político. A prestação de contas também está disponível no site de divulgação de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Para o Comprova, é enganoso todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 14 de outubro de 2022, o vídeo acumulava 600 mil visualizações no Kwai, 13,6 mil curtidas, 4,2 mil comentários e 1,4 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O autor foi acionado pelas redes sociais, mas não retornou as mensagens até a publicação desta verificação.

Como verificamos: A checagem começou com uma análise dos elementos que aparecem na gravação. A partir das imagens, identificamos o candidato cujo panfleto era distribuído pelo carteiro. Fizemos uma busca no Google pelos termos “Chico Simões” e “13654”. A partir daí, descobrimos o estado e a cidade do político, onde possivelmente teria havido a distribuição do material de campanha.

Entramos em contato por telefone com o político, que confirmou ter contratado o serviço de mala direta dos Correios, na modalidade “não endereçada”, encaminhou cópia do comprovante de pagamento e informou o local da distribuição.

Contatamos, então, a assessoria de imprensa dos Correios e o TSE para apurar se o homem era mesmo funcionário da estatal e para tirar dúvidas sobre a legalidade da prática.

Verificamos ainda a prestação de contas do candidato Chico Simões no site Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do TSE. Também entrevistamos o advogado especialista em Direito Eleitoral e ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) Luciano Hanna.

Por fim, enviamos mensagens pelo Instagram e pelo Facebook ao responsável pela postagem do vídeo no Kwai.

Gravação foi feita em Coronel Fabriciano

A abordagem ao carteiro foi feita em uma loja de departamento em Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG). No vídeo, o homem questiona se o servidor pode entregar panfletos do PT com uniforme dos Correios. O funcionário responde que sim e que está cumprindo seu trabalho.

O homem rebate: “Pode não, pela lei você é funcionário público, você não pode, não”. No entanto, a atividade é regular e disponível aos candidatos e partidos.

Serviço foi contratado por candidato

O político Chico Simões (PT), da cidade de Coronel Fabriciano, no Vale do Rio Doce (MG), foi candidato a deputado estadual pela Federação Brasil da Esperança (PT/PC DO B/PV) no pleito de 2022. Simões não conseguiu se eleger, mas será suplente na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Ao Comprova, ele confirmou ter contratado o serviço “mala direta” dos Correios, na modalidade “não endereçada”. Isso quer dizer que o panfleto de propaganda não é enviado a endereços pré-definidos, mas distribuído a residências localizadas em determinada área escolhida pelo contratante. No caso, toda a cidade de Coronel Fabriciano.

Os Correios deveriam entregar 40 mil panfletos durante o período de campanha. No dia 6 de setembro deste ano, Simões pagou a quantia de R$ 9.587,20 à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), agência de Coronel Fabriciano, conforme consta no comprovante de pagamento cuja cópia foi enviada ao Comprova pelo político:

A informação é a mesma declarada no processo de prestação de contas, disponível no portal do TSE:

Correios afirmam que prática é comum e regular

De acordo com os Correios, o carteiro hostilizado na publicação realizava a entrega do objeto postal regular conhecido como mala direta. O serviço é disponibilizado a todos os clientes que sejam candidatos a cargos eletivos, bem como a partidos políticos, comitês eleitorais e agências de publicidade, para o envio de propaganda eleitoral e de material relacionado à campanha.

A agência esclarece que a modalidade de correspondência é bastante utilizada no envio de mensagem publicitária para a venda de produtos e serviços, na divulgação, promoção de eventos e lançamentos, prospecção e fidelização de clientes. “Trata-se de serviço previsto na Lei nº 6.538/78, acessível a pessoas físicas e jurídicas. A entrega do material – Mala Direta não Endereçada e devidamente chancelada – mostrada no vídeo ocorreu conforme contrato, em total respeito à legislação”, afirma em nota.

O candidato do PT confirma que seu material continha a chancela devida, mas as imagens do vídeo não permitem verificá-la.

Objetos de campanha são identificados na postagem

Os objetos referentes às campanhas eleitorais são obrigatoriamente identificados no ato da postagem nos Correios. Conforme regras estabelecidas pelo TSE, são aceitos os objetos com a respectiva forma de franqueamento (chancela, selo, estampa digital ou etiqueta de registro para carta registrada à vista) e identificadas obrigatoriamente pelo candidato com chancela específica, contendo o seu respectivo CNPJ, com a expressão “Eleições” e, no rodapé da chancela, a expressão “Distribuição Lei nº 6.538/78 Art. 40”.

Além de atender os públicos já listados, os Correios ressaltam que também estão à disposição dos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para prestação dos serviços de transporte de urnas, mídias eletrônicas, material de apoio, convocação e pagamento de mesários.

A mala direta compõe o portfólio de produtos e serviços que são oferecidos aos agentes políticos que buscam facilitar a comunicação com o eleitorado de forma imparcial. Os preços de cada uma das opções estão disponíveis no site dos Correios.

Legislação

O advogado e ex-juiz do TRE-GO Luciano Hanna assistiu, a pedido do Comprova, ao vídeo aqui verificado e disse que as imagens não mostram qualquer irregularidade na atuação do carteiro. De acordo com o especialista, se o encarte da mala direta apresentar os dados obrigatórios e o político responsável declarar a despesa na prestação de contas, o uso deste serviço dos Correios é regular.

A norma está prevista no artigo 21 da Resolução nº 23.610 do TSE, que regulamenta a propaganda eleitoral. O dispositivo trata sobre a campanha por meio de material impresso. Segundo Hanna, a contratação dos Correios para entrega de mala direta é amplamente usada por políticos nas campanhas. “O carteiro não vai verificar qual carta vai entregar. Ele recebeu e é obrigado a entregar”, diz o advogado.

Dados divulgados pelo TSE no portal Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais mostram que a estatal foi a 65ª companhia entre os maiores fornecedores de candidatos na eleição de 2022, recebendo o valor de R$ 3,3 milhões. As informações foram extraídas pela reportagem no dia 14 de outubro. A prestação de contas ainda pode ser atualizada pelos candidatos, ou seja, o valor pode aumentar.

Autor da publicação é do Paraná

Em sua conta no Instagram, Eros Antonio Vargas afirma que é de Piraquara, Paraná. No perfil do Kwai, em que o vídeo foi postado, o autor da publicação se apresenta como porteiro. Tentamos contato com Eros pelas redes sociais, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta verificação. Não é possível confirmar se ele é a mesma pessoa que faz a filmagem.

Por meio de nota, os Correios lamentaram a abordagem feita ao funcionário e afirmam que tomaram medidas contra a peça de desinformação compartilhada em redes sociais. “Demostra total desrespeito com o profissional e o desconhecimento do trabalho realizado pela empresa, que vem sendo amplamente divulgado em seus canais oficiais de comunicação”, diz a agência.

A estatal informa que, assim que tomou conhecimento da exposição indevida da imagem da própria empresa e do carteiro, prestou suporte ao colaborador e tomou providências junto aos canais e perfis que repercutiram o vídeo sem a devida apuração dos fatos.

CUT alerta para ameaças a carteiros

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) publicou, em 28 de setembro deste ano, uma nota em seu site alertando para ameaças sofridas por funcionários dos Correios na entrega de materiais de campanhas políticas.

“É o caso de funcionários e funcionárias dos Correios que vêm sendo ameaçados ao desempenharem suas funções de carteiros ao entregar correspondências relacionadas a campanhas políticas”, diz o texto.

A instituição afirma que “cidadãos desavisados e desinformados vêm distorcendo o propósito do serviço e acusando os funcionários de fazerem propaganda política no exercício da profissão e até mesmo de estarem sendo pagos por fora”.

Na nota, a CUT comentou o caso verificado em Coronel Fabriciano. “O funcionário apenas cumpria com uma das suas atribuições profissionais”, criticou.

Tema já foi alvo de debate nas eleições de 2014

A entrega de material de campanha por carteiros não é uma prática nova e vem sendo alvo de debate ao menos desde 2014. Nas eleições daquele ano, um vídeo de um carteiro que distribuía ‘santinhos’ da campanha da ex-presidente Dilma Rousseff foi usado para atacar o PT e sugerir que a prática era ilegal. À época, os Correios confirmaram que o homem nas imagens era mesmo funcionário da estatal e informaram que o serviço de mala direta havia sido contratado e pago pelo partido, não havendo qualquer irregularidade.

Na ocasião, o Correio Braziliense teve acesso a uma cópia da nota fiscal, que indicava que o valor pago pelas postagens havia sido de R$ 726.151,50. Ao portal de notícias, os Correios informaram que haviam prestado o mesmo serviço para candidatos do PSDB, PMDB, PR, PROS, PTN, PP, PV, DEM, PT do B, PDT, PTN.

Apesar de legal, a panfletagem de material de campanha está condicionada a determinadas exigências, como a obrigatoriedade da estampa, medida que foi descumprida neste caso. No ano seguinte, um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que os Correios haviam cometido uma irregularidade ao distribuir os panfletos sem chancela ou comprovante de postagem. A estampa serve para atestar que a quantidade de material enviado corresponde ao que foi contratado e pago pelos partidos.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. A publicação aqui verificada apresenta conteúdo enganoso envolvendo a campanha eleitoral. O Comprova busca colaborar para que o eleitor tenha acesso a informações confiáveis e que contribuam para um processo democrático de escolha de candidatos.

Outras checagens sobre o tema: Dentro do tema eleições presidenciais, o Comprova mostrou recentemente o caso de um vídeo que engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa e que outro vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno. O projeto também mostrou que são montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem a Lula declarações sobre desarmamento.

Eleições

Investigado por: 14/10/2022

Vídeo de Boletins de Urnas que mostram Bolsonaro com mais votos do que Lula não prova fraude

Falso
É falso que o vídeo em que uma pessoa grava Boletins de Urna (BUs) aleatórios com mais votos registrados para Jair Bolsonaro (PL) do que para Lula (PT) seja indício de fraude na apuração do primeiro turno das eleições de 2022. Os BUs são verdadeiros e mostram que o atual presidente recebeu mais votos do que o petista, mas apenas nas urnas que imprimiram aqueles boletins. A gravação não demonstra que esse deveria ter sido o resultado geral da apuração em todo o Brasil. Além disso, ao contrário do que diz o vídeo, os BUs não são de seções eleitorais de Minas Gerais, e sim do Rio de Janeiro.

Conteúdo investigado: Em vídeo, uma pessoa mostra Boletins de Urnas pendurados na parede e sugere fraude porque os documentos mostrados nas imagens apresentam o presidente Jair Bolsonaro (PL) com mais votos que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Não há prova de fraude no primeiro turno das eleições de 2022 em um vídeo que circula no Kwai mostrando diversos Boletins de Urna (BUs) que apontam mais votos para o candidato à reeleição Jair Bolsonaro do que para Luiz Inácio Lula da Silva. No resultado final do primeiro turno, o candidato petista recebeu 48,43% dos votos válidos, ficando à frente de Bolsonaro, que registrou 43,2%.

Conforme relataram ao Comprova os Tribunais Regionais Eleitorais de Minas Gerais (TRE-MG) e do Rio de Janeiro (TRE-RJ), além de um especialista em direito eleitoral, apesar de os documentos mostrados nas imagens serem verdadeiros, o fato de Bolsonaro ter recebido mais votos do que Lula em determinada urna ou seção eleitoral não pode ser interpretado como indício de fraude nas eleições.

Não foi possível identificar qual o local exato da gravação. O vídeo circula com a indicação de que foi gravado em Minas Gerais, porém, em pelo menos dois dos Boletins de Urnas mostrados, além da votação dos candidatos à presidência, é possível ver os nomes dos candidatos a governador e senador do Rio de Janeiro. Logo no início do vídeo, o autor das imagens fala “olha, as fitas estão aqui ainda nos TREs”.

| Print do momento em que é possível ver os nomes dos candidatos a Governador do Rio de Janeiro no vídeo

Em contato com o Comprova, o TRE-MG afirmou que as imagens não foram feitas no estado. Já o TRE-RJ confirmou que os Boletins de Urna mostrados no vídeo são verdadeiros e correspondem aos BUs emitidos no estado, mas que não é possível identificar o local exato da gravação.

Tanto o TRE de Minas Gerais quanto o do Rio de Janeiro também explicaram que a legislação eleitoral prevê a disponibilização das cópias impressas dos BUs em locais visíveis nas seções eleitorais. Os Boletins de Urna não são utilizados para a contagem oficial do TSE — que acontece por meio de arquivos de mídia acoplados às urnas — mas são disponibilizados aos partidos e à população em geral que, a partir deles, podem conferir os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal. Nessas eleições, os BUs foram impressos com um QR code, que poderia ser escaneado pelos eleitores por meio do aplicativo Boletim na Mão, do TSE.

Falso para o Comprova é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos sobre as eleições presidenciais com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de outubro a postagem no Kwai tinha 120 mil visualizações, 9.561 curtidas e 1.204 comentários.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil que postou o vídeo no Kwai, mas não houve resposta até a publicação desta checagem. A equipe também procurou por perfis da mesma pessoa em outras redes sociais, mas não encontrou resultados.

Como verificamos: Pesquisamos no Google reportagens sobre algum caso de fraude eleitoral em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Também verificamos nos sites da Justiça Eleitoral e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se havia publicações sobre desinformação referente ao conteúdo em análise.

Em seguida, o Comprova analisou todos os boletins que foram gravados no vídeo e procurou as assessorias de imprensa dos TREs de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. O especialista em direito eleitoral Luciano Hanna também foi procurado pela equipe.

Por fim, o Comprova tentou contato com o perfil do Kwai que publicou o vídeo e procurou perfis da mesma pessoa em outras redes sociais, sem retorno.

O que mostram os Boletins de Urna do vídeo

O vídeo analisado mostra uma pessoa circulando por um corredor, onde estão afixados nas paredes diversas cópias de Boletins de Urna (BUs) com resultados apurados no primeiro turno das eleições de 2022 no estado do Rio de Janeiro. Ao caminhar pelo corredor, o autor do vídeo diz que vai “sortear” os Boletins de Urna para mostrar na gravação. Ele registra seis BUs em que é possível ver a votação recebida por cada candidato à presidência. Em todos eles, Bolsonaro recebeu mais votos do que Lula.

O primeiro BU aparece aos 46 segundos do vídeo. Nele, é possível ver que Ciro Gomes (PDT) teve sete votos; Lula, 80 votos; Padre Kelmon (PTB), um voto; Simone Tebet (MDB), 13 votos; Vera Lucia (PSTU), um voto; Jair Bolsonaro, 158 votos; Felipe D’Ávila (Novo), um voto; e Soraya Thronicke (União Brasil), dois votos. Conforme o TSE, candidatos que não receberam votos na urna não aparecem nos Boletins.

No segundo boletim, com 1 minuto e 5 segundos de vídeo, a votação foi: Ciro Gomes, cinco votos; Lula, 73 votos; Padre Kelmon, um voto; Simone Tebet, 11 votos; Sofia Manzano (PCB), um voto; Jair Bolsonaro, 139 votos; Felipe D’Ávila, dois votos; Soraya Thronicke, um voto; e Léo Péricles (UP), um voto.

No terceiro boletim que aparece no vídeo, o autor primeiro enquadra o trecho do documento que mostra a contabilização de votos para governador do Rio de Janeiro. Em seguida, grava a totalização de votos para senador e só depois, a partir de 1 minuto e 27 segundos, é que a contabilização de votos para presidente é mostrada: Ciro Gomes aparece com seis votos; Lula, 74 votos; Simone Tebet, 12 votos; Jair Bolsonaro, 179 votos; e Soraya Thronicke, um voto.

No quarto boletim gravado no vídeo (0:01:40), os resultados foram: Ciro Gomes, dez votos; Lula, 88 votos; Simone Tebet, 14 votos; Jair Bolsonaro, 134 votos e Felipe D’Ávila, um voto. No quinto BU (0:01:57), o registro foi de nove votos para Ciro Gomes; 97 votos para Lula; dois votos para Padre Kelmon; seis votos para Simone Tebet; e 184 votos para Jair Bolsonaro. Por fim, o sexto boletim gravado no vídeo analisado (0:02:14) mostra: Ciro Gomes, com sete votos; Lula, 86 votos; Simone Tebet, 11 votos; Jair Bolsonaro, 189 votos; Soraya Thronicke, quatro votos e Léo Péricles, um voto.

O TRE de Minas Gerais, contatado inicialmente pelo Comprova, informou que o fato de haver divergência entre o resultado de alguns boletins e a totalização não é indício de fraude. “O resultado geral da eleição é definido a partir da totalização de todos os votos registrados em todas as seções eleitorais do país e de zonas eleitorais estabelecidas no exterior”, afirmou o Tribunal em nota ao Comprova.

Em contato com o Comprova, o advogado e especialista em direito eleitoral Luciano Hanna, que já foi juiz membro do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO), reforça que o sistema de QR Code dos Boletins de Urna serve para comprovar a procedência do documento.

No vídeo, no entanto, não é possível escanear o QR Code dos boletins mostrados, devido ao enquadramento e à baixa qualidade das imagens. O especialista afirma que, de qualquer forma, mostrar boletins em um local de votação com um resultado que diverge da totalização dos votos em todo o país não prova irregularidade. “As criptografias e o sistema de segurança não permitem, em nenhum momento, fraude”, diz Hanna.

O que são os Boletins de Urna

Após o encerramento da votação, as urnas eletrônicas imprimem até cinco cópias de Boletins de Urna, onde estão indicados todos os votos registrados naquele equipamento no dia da eleição. Conforme o TSE, todos os Boletins de Urna devem mostrar a data da eleição, identificar o município, a zona e a seção eleitoral em que foram emitidos e mostrar a data e o horário do encerramento da votação, o código de identificação da urna eletrônica que o imprimiu, a quantidade de eleitoras e eleitores aptos, a quantidade de eleitoras e eleitores que compareceram para votar e quantos não puderam ser identificados pela biometria.

Todas as cópias dos BUs impressos possuem um QR Code, que pode ser escaneado com a câmera do celular por qualquer eleitor por meio do aplicativo oficial do TSE Boletim na Mão. Ao ler esse código, é possível confirmar a autenticidade do boletim.

A contagem oficial de votos do TSE, contudo, não se dá a partir dos Boletins de Urna, e sim por meio da leitura dos arquivos de mídia que contabilizam os resultados diretamente das urnas eletrônicas. A mídia de resultado é uma espécie de pen-drive acoplado a toda urna e que possui uma série de travas eletrônicas de segurança para garantir que apenas os programas desenvolvidos pela própria Justiça Eleitoral possam identificar e ler os arquivos com os resultados da votação. Assim, os Boletins de Urna funcionam como uma forma de conferir e comparar os resultados que são fornecidos ao TSE por meio dos arquivos de mídia das urnas.

Em checagem recente sobre o tema, o Comprova demonstrou que, das cinco cópias dos BUs que são impressas, duas são enviadas ao Cartório Eleitoral responsável pela seção, uma cópia é afixada na sala da seção onde ocorreu a votação e as outras duas cópias podem ser entregues aos fiscais dos partidos que acompanham a apuração, à imprensa ou ao Ministério Público. Os mais de 472 mil Boletins de Urna impressos após o primeiro turno das eleições deste ano podem ser consultados no site do TSE ou pelo aplicativo oficial dos resultados eleitorais do Tribunal.

Conforme informaram ao Comprova os TREs de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, a disposição dos BUs impressos na seção eleitoral está de acordo com a legislação eleitoral, conforme prevê o Artigo 107 da Resolução 23.669 do TSE. O texto diz que “ao final dos trabalhos, o(a) presidente da mesa receptora de votos e da mesa receptora de justificativas irá afixar uma cópia do Boletim de Urna (BU) em local visível da seção”.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Logo após o primeiro turno das últimas eleições presidenciais, diversas postagens têm feito insinuações falsas sobre fraudes nas apurações dos votos, posicionamento que também já foi propagado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro em outras oportunidades. Conteúdos falsos, enganosos ou fora de contexto sobre a contagem de votos podem criar suspeitas infundadas sobre o sistema eleitoral, prejudicando as eleições, as instituições e a democracia brasileira.

Outras checagens sobre o tema: A agência de checagem Aos Fatos também investigou Boletins de Urna mostrados em vídeo não são de MG e nem comprovam fraude. Recentemente, o Comprova demonstrou que era falso o vídeo que afirmava que um Boletim de Urna de uma seção eleitoral de Curitiba não teria sido contabilizado na apuração do TSE e que a totalização de votos a cada 12% das urnas apuradas no primeiro turno também não é um indício de fraude.

Eleições

Investigado por: 13/10/2022

Vídeo engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa

Enganoso
É enganoso que o presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) tenha colocado fim à multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que é paga por empresas a trabalhadores demitidos sem justa causa. O tema chegou a ser debatido pela atual gestão, mas esta mudança na legislação trabalhista nunca foi sancionada. A regra que determina o pagamento do direito continua vigente, como redigida em 1997.

Conteúdo investigado: Homem afirma, em vídeo postado no dia 8 de outubro de 2022, que o presidente Jair Bolsonaro colocou fim ao pagamento de multa para trabalhadores demitidos sem justa causa. Aos risos e em tom sarcástico, o autor questiona se ainda vale a pena ter a carteira de trabalho assinada e insinua que o voto em Bolsonaro pode contribuir para que o Brasil volte ao tempo da ditadura e da escravidão.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: Ao contrário do que afirma publicação no Kwai, a regra que determina que empregadores paguem multa de 40% do FGTS para trabalhadores demitidos sem justa causa continua vigente, como redigida em 1997. Um vídeo divulgado na rede social engana ao afirmar que Jair Bolsonaro colocou fim ao direito no dia em que a publicação foi feita, 8 de outubro de 2022.

A possibilidade de extinguir o pagamento do recurso e de diminuir o percentual já chegou a ser estudada pelo governo federal em maio e no final de 2021, como mostram reportagens da Folha e do UOL, respectivamente. No entanto, a gestão Bolsonaro não chegou a dar andamento a nenhuma proposta.

O dever do empregador em pagar multa de 40% do FGTS, em caso de demissão sem justa causa, está prevista no artigo 18 da Lei Federal Nº 8.036, que trata sobre o fundo.

Para o Comprova, enganoso é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 13 de outubro de 2022, o vídeo registrava mais de 223 mil visualizações, com 11,6 mil curtidas e outros 12,7 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor da publicação por meio do recurso de troca de mensagens no Kwai. O perfil, identificado como “Noronha Jornalista Sem Faculdade”, não respondeu até a publicação desta checagem.

Como verificamos: A checagem do conteúdo começou com uma busca no Google com o uso de palavras-chave como “Bolsonaro”, “multa”, “demissão”, “justa causa” e “reforma trabalhista”, que retornou com conteúdos relacionados a debates que já ocorreram em âmbito federal sobre a multa e críticas que Bolsonaro já fez ao benefício. Entre os veículos que já abordaram o tema estão UOL, Agência Brasil, G1 e TV Record.

Para saber o posicionamento do governo federal sobre o assunto, o Comprova entrou em contato com os ministérios da Economia e do Trabalho e Previdência. O primeiro não respondeu. A reportagem ainda consultou a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) sobre eventual suspensão do benefício.

Por fim, também analisamos o plano de governo de Bolsonaro para eventual segundo mandato, como apresentado à Justiça Eleitoral para a formalização de sua candidatura nas eleições deste ano.

Estudo para o fim da multa

Em dezembro de 2021, um estudo encomendado pelo governo Bolsonaro foi apresentado para o Ministério do Trabalho e Previdência e, entre as propostas, estava o fim do pagamento da multa de 40% do FGTS para os trabalhadores demitidos sem justa causa e a criação de um fundo unificado composto por recursos de seguro-desemprego e FGTS. O documento completo tem 262 páginas e está disponível no site do ministério. A proposta relacionada ao fim da multa de FGTS para trabalhadores consta na página 31.

Essa e outras mudanças foram sugeridas pelo Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), formado por economistas, juristas e acadêmicos em 2019. A iniciativa para que o grupo fosse criado foi do ministro da Economia, Paulo Guedes. A equipe discutia propostas para embasar novas alterações na legislação trabalhista.

O Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) criticou a proposta, em nota técnica publicada em 10 de janeiro de 2022. O Dieese apontou, entre outros problemas, o fato de não ter havido debate sobre o assunto para que o documento refletisse a visão dos trabalhadores.

O plano não chegou a ser implantado e o pagamento da multa continua em vigor. Em nota ao Comprova, o Ministério do Trabalho e Previdência informou que o relatório do Gaet diz que “os documentos não contam, necessariamente, com a concordância, integral ou parcial, deste Ministério do Trabalho e Previdência ou mesmo do governo federal. Ou seja, os relatórios dos Grupos de Estudos Temáticos são de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores.”

A pasta também ressaltou que, segundo o documento, “a atuação do governo federal será calçada e construída por meio de diálogo com a sociedade, sua representação no parlamento e nas necessidades econômicas e sociais do país.”

Em maio deste ano, a Folha de S.Paulo mostrou que a gestão de Bolsonaro estudava flexibilizar as regras do FGTS com a justificativa de diminuir o custo dos empresários na contratação de novos funcionários. De acordo com o jornal, o Ministério da Economia preparou minutas de medidas provisórias que, entre outras mudanças, tinham a sugestão de reduzir a multa paga em caso de demissão sem justa causa de 40% para 20%.

Na época, a pasta disse à Folha que a proposta sobre alteração no FGTS tinha sido debatida havia mais de um ano e não recebeu aval para prosseguimento. O Comprova entrou em contato com o Ministério da Economia, mas não houve retorno.

Câmara tem projeto para redução da multa

Além dos estudos apresentados pela equipe do governo, há outras discussões relacionadas ao pagamento do benefício. Na Câmara dos Deputados tramita, desde 30 de junho de 2021, o projeto de lei 2383/21, de autoria do deputado Nereu Crispim (PSD-RS), que visa à redução da multa a ser depositada pelo empregador na conta vinculada do empregado no FGTS em caso de demissão sem justa causa e por culpa recíproca ou força maior.

O texto traz uma alteração na Lei do FGTS para baixar a multa da rescisão contratual de 40% para 25%. E, em caso de culpa recíproca (quando ambas as partes, empregado e empregador, dão causa à demissão) ou força maior (acontecimento inevitável à vontade do empregador), reduz dos atuais 20% para 10%. Atualmente, o projeto está na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara dos Deputados. Após cinco sessões para apresentação de emendas ao projeto, entre 16 de dezembro a 12 de maio de 2022, não foram apresentadas emendas.

O texto aguarda parecer do relator, deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), para prosseguir nas demais comissões parlamentares. Somente depois disso, se passar pela avaliação das comissões pertinentes, o projeto poderá ser avaliado pelo plenário da Câmara e, mesmo se aprovado, precisará passar pelo Senado para ir à sanção do presidente da República.

Plano de governo de Bolsonaro não trata do tema

O plano de governo de Jair Bolsonaro não lista mudanças específicas nas regras de pagamento de multas rescisórias. O documento, também, não traz alterações nos artigos da atual legislação trabalhista.

“A nova legislação trabalhista aprovada [ainda no governo do então presidente Michel Temer (MDB), em 2017] será mantida com segurança jurídica, ajudando a combater abusos empresariais e de sindicatos que também não podem ter a capacidade de agir como monopólios”, aponta o documento. Além disso, o plano indica que, numa eventual reeleição, o governo federal continuará “defendendo que os trabalhadores devem ser livres para realizar trocas entre si, livres de coerção”.

A proposta do governo Bolsonaro é que o mercado de trabalho seja livre, seguro e flexível, “para que o emprego no país alcance níveis internacionalmente competitivos, gerando renda e prosperidade aos brasileiros”.

Pagamento é devido para demissão sem justa causa

Questionada sobre eventual suspensão da multa, a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho reforçou que o benefício está vigente e explicou que o pagamento é devido ao empregado quando ele é dispensado pelo empregador sem justa causa — categoria de desligamento em que o trabalhador é demitido sem motivo legal e, por essa razão, a empresa deve recompensá-lo com os benefícios previstos em lei.

Nessas condições, acrescentou a entidade em nota, o trabalhador tem direito a receber uma indenização no percentual de 40% sobre o valor de seus depósitos do FGTS, também chamada de multa de 40% do FGTS, conforme previsto no artigo 10, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A publicação aqui verificada traz conteúdo enganoso sobre o governo de Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição. É fundamental para a democracia que o eleitor tome a decisão sobre o voto com base em informações verdadeiras sobre os candidatos.

Outras checagens sobre o tema: O tema eleições é predominante nos conteúdos de desinformação. Nesta semana, o Comprova já demonstrou que são montagens as reproduções de páginas do Twitter e do G1 atribuindo a Lula declarações sobre desarmamento e que também é montagem o post que afirma que Bolsonaro vai acabar com o feriado de 12 de outubro.

Neste período também têm sido recorrentes as postagens que tentam tirar a credibilidade do processo eleitoral. Somente no segundo turno, o Comprova mostrou que é falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno, que post inventou dados sobre cidades para insinuar fraude a favor de Lula e que é enganoso o vídeo que insinua fraude em votação em Maceió ao reproduzir um infográfico com erro.

Sobre benefícios como o pagamento de multa, o Comprova mostrou ser enganoso que valores do PIS/Pasep vão custear benefícios a caminhoneiros e motoristas.

Eleições

Investigado por: 13/10/2022

Vídeo foi editado para mostrar Bolsonaro à frente na pesquisa Ipec sobre segundo turno

Falso
É falso que o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), apareça à frente, com 51% das intenções de voto, na pesquisa eleitoral realizada pelo Instituto em Pesquisa e Consultoria (Ipec) e divulgada no Jornal Nacional em 5 de outubro. O vídeo que circula no Kwai foi editado e inverteu os resultados do levantamento. Na realidade, Bolsonaro teve 43% da intenção de voto dos eleitores, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 51%.

Conteúdo investigado: Vídeo divulgado no Kwai com imagens do Jornal Nacional, da TV Globo, mostra os apresentadores Renata Vasconcellos e William Bonner narrando o resultado da primeira pesquisa eleitoral divulgada pelo Ipec, no dia 5 de outubro, após o primeiro turno das eleições. No vídeo veiculado, o candidato à presidência Jair Bolsonaro aparece na liderança com 51% das intenções de voto, enquanto Lula tem 43%.

Onde foi publicado: Kwai.

Conclusão do Comprova: É falso o vídeo que mostra Bolsonaro à frente das intenções de votos para o 2º turno das Eleições 2022. O conteúdo é uma montagem feita a partir da informação veiculada pelo Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 5 de outubro. A peça de desinformação faz referência à pesquisa eleitoral realizada pelo Ipec entre os dias 3 e 5 de outubro. O vídeo foi editado e inverteu os resultados do levantamento. Na realidade, Bolsonaro tem 43% da intenção de voto dos eleitores, enquanto o ex-presidente Lula tem 51%.

O material manipula o áudio e o vídeo no momento em que é divulgado o resultado da pesquisa. Na montagem, é atribuído a Bolsonaro o percentual de 51% e para Lula, 43%, o que não é verdade. A imagem que retrata os gráficos é semelhante à que foi apresentada no jornal, mas também foi editada para colocar Bolsonaro à frente de Lula.

É possível perceber o momento em que a voz de Renata é alterada. O mesmo ocorre com a fala de William Bonner, ao informar os dados da pesquisa considerando apenas os votos válidos. No original, o apresentador informa que Bolsonaro tem 45% das intenções de voto, com margem de 43% a 47%. No conteúdo falso, esses números são atribuídos a Lula. Os dados reais mostram o petista com 55% dos votos válidos, com margem de 53% a 57%.

Em nota, a Rede Globo confirmou que a mídia é falsa e que foi manipulada: “Sim, o vídeo é falso e tem manipulação de dados, de imagens e de áudio dos apresentadores”.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova verifica conteúdos com grande alcance nas redes sociais. Até o dia 13 de outubro, a publicação no Kwai tinha 75,4 mil visualizações, 3,4 mil curtidas, 875 comentários e 4,5 mil compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do post por meio de mensagens no Kwai e no Instagram. Não houve retorno até a publicação desta verificação.

Como verificamos: Uma busca no Google pelas palavras-chave “pesquisa Ipec Jornal Nacional” direcionou para a versão original do Jornal Nacional, disponível no Globoplay, do dia 5 de outubro de 2022. Nossa equipe recorreu também ao site do instituto de pesquisa e ao site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para checar os resultados do levantamento.

O Comprova encontrou também verificações do Estadão Verifica, do Yahoo, do Fato ou Fake, da Reuters e da Agência Lupa que desmentem os números do conteúdo checado.

Procurada, a Rede Globo confirmou que o vídeo é falso e tem manipulação de dados, de imagens e de áudio dos apresentadores.

Pesquisa mostra Lula com 51% dos votos

Ao contrário do que alega o vídeo verificado, a pesquisa Ipec (íntegra) sobre o segundo turno da eleição presidencial mostra Lula à frente com 51% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 43% das menções.

Os eleitores que pretendem votar em branco ou anular seu voto totalizam 4% e os indecisos somam 2%.

O levantamento foi realizado presencialmente entre os dias 3 e 5 de outubro. Foram entrevistados 2 mil eleitores em 129 municípios do Brasil. A margem de erro estimada da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela Globo Comunicação e Participações S/A. e está registrada no TSE sob o número BR-02736/2022.

| Registro da pesquisa Ipec de 5 de outubro no site do TSE.

Além da pergunta “Se o segundo turno da eleição para presidente da República fosse hoje e os candidatos fossem estes [Bolsonaro e Lula], em quem o(a) sr(a) votaria?”, o levantamento também abordou a intenção de voto espontânea (sem a apresentação dos nomes dos candidatos), expectativa de vitória (independentemente da intenção de voto), potencial de voto e rejeição para presidente e avaliação da administração atual.

Jornal Nacional mostrou dados corretos da pesquisa

O trecho do vídeo investigado foi retirado da edição do dia 5 de outubro do Jornal Nacional, que está disponível no Globoplay (entre 00:00 e 01:13).

O conteúdo investigado, além de inverter os dados das intenções de voto, omite um trecho da fala da apresentadora Renata Vasconcellos, que diz: “Lula lidera por uma vantagem inicial de 8 pontos percentuais considerando os votos totais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.”

| Captura de tela da intenção de voto para segundo turno da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da intenção de voto considerando os votos válidos para segundo turno da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da avaliação da gestão Bolsonaro da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

| Captura de tela da aprovação da administração Bolsonaro da reportagem exibida pelo Jornal Nacional em 5 de outubro.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais. Durante a campanha para o segundo turno das eleições, são frequentes os conteúdos de desinformação a respeito das pesquisas eleitorais. Publicações como esta verificada pelo Comprova, que induzem a uma conclusão falsa a partir da manipulação dos números apontados em uma pesquisa de intenção de voto, podem influenciar na decisão de eleitores brasileiros. A população deve escolher seus candidatos com base em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O Fato ou Fake, do G1, publicou uma verificação apontando o conteúdo como falso. O material divulgado já foi desmentido também pelo Estadão Verifica, pela Reuters e pela Agência Lupa.

O Comprova também verificou outros conteúdos falsos que mostravam Bolsonaro à frente em pesquisas Ipec dos dias 12 de setembro e 15 de agosto deste ano.

Eleições

Investigado por: 11/10/2022

São montagens as reproduções do Twitter e do G1 que atribuem a Lula declarações sobre desarmamento

Falso
São montagens as supostas capturas de tela atribuindo ao ex-presidente e candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarações sobre desarmamento. Elas são falsas e reproduzem a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e do portal de notícias G1. As publicações nunca foram feitas, como afirmam as equipes do petista e do site vinculado à Globo e como se pode constatar em consultas sobre o teor das falsas declarações na internet.

Conteúdo investigado: Imagens de supostos tuítes e reportagem do G1 com declarações atribuídas a Lula sobre desarmamento no país. As montagens, com a mesma aparência da conta de Lula no Twitter, destacam as seguintes frases: “o povo entregará suas armas voluntariamente” e “a polícia não precisará de fuzil de assalto ou de arma curta fora de serviço”. Já a suposta matéria do G1 apresenta o título “Daremos um prazo razoável para que todos possam entregar suas armas de forma espontânea sem punição” e o subtítulo “Depois desse período vamos buscar via mandado de busca e apreensão estabelecidos pelo decreto lei em vigor”.

Onde foi publicado: Facebook, Instagram e WhatsApp.

Conclusão do Comprova: São falsas as imagens de tela com supostas declarações de Lula relacionadas a armamento. Os conteúdos imitam a aparência da conta oficial de Lula no Twitter e da página do site G1. A manipulação do material foi confirmada pela equipe de Lula e do G1.

Buscas pelas frases repercutidas nos falsos prints não retornam nenhum resultado que ateste a veracidade do conteúdo. Mas sim verificações de agências de checagem que o desmentem, como UOL Confere e Boatos.org, além do texto publicado no site de Lula, já mencionado.

O plano de governo da chapa de Lula e de seu candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), está disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não inclui nenhuma das propostas que aparecem nas mensagens falsas. Também não foram encontrados na conta oficial de Lula no Twitter os posts reproduzidos nas peças de desinformação.

Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: No Instagram, a publicação com o conteúdo falso tinha 2.046 curtidas e 223 comentários até o dia 11 de outubro de 2022. Ela foi marcada como informação falsa pela plataforma. No Facebook, outra postagem, com o mesmo teor, tinha 198 curtidas, 13 comentários e 65 compartilhamentos no mesmo período. Já no aplicativo de mensagens WhatsApp, aparece a mensagem: “Encaminhada com frequência”.

O que diz o autor da publicação: O autor da publicação com a matéria falsa do G1 foi procurado através de mensagens no Instagram. O responsável pelo perfil afirmou que o objetivo foi “alertar os mais desinformados quanto às reais intenções” de Lula. Ele cita que existem vídeos em que o político diz que irá desarmar a população. Quando questionado sobre as supostas gravações, o usuário não respondeu.

Posteriormente, a conta fez uma nova publicação na qual reconheceu que a matéria do G1 era falsa, mas expressou que as “intenções [de Lula] são reais”.

Um dos perfis no Instagram que compartilhou os tuítes falsos de Lula utiliza a categoria “organização governamental” e se associa à Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP). A conta é citada no esclarecimento feito pela assessoria de imprensa do ex-presidente. Ao Comprova, a PMESP explicou que o perfil analisado não é uma página oficial da corporação e, portanto, não expressa as opiniões institucionais.

“Vale dizer que a referida conta foi denunciada ao Instagram por violar os termos de utilização, em especial por denominar-se ‘organização governamental’, estando em análise a denúncia”, informou a Polícia Militar. A reportagem tentou entrar em contato com o perfil, mas não recebeu retorno.

Também entramos em contato com outro usuário que postou o conteúdo falso em suas redes sociais. O homem foi candidato a deputado estadual em São Paulo nas eleições deste ano pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), mas não foi eleito. Ele respondeu que também foi enganado e fez um novo post reconhecendo que o conteúdo é falso.

Como verificamos: O Comprova consultou a conta oficial de Lula no Twitter e fez buscas na internet pelas frases atribuídas ao ex-presidente e atual candidato à Presidência da República. Também fez contato com a assessoria de imprensa do PT e do portal G1, e consultou a proposta de governo da candidatura no site do TSE.

Prints são falsos; tuítes não foram postados por Lula

As imagens falsas trazem data e horário dos supostos tuítes: às 8h4 e às 8h7 do dia 10 de outubro de 2022. Eles não constam na página oficial de Lula no Twitter. Já nos horários específicos que aparecem nos prints falsos, as mensagens publicadas pelo ex-presidente são outras: 8h4 (1, 2) e 8h7 (1).

No início da noite desta segunda-feira, 10, o site oficial de Lula publicou texto afirmando que o ex-presidente jamais disse ou escreveu as afirmações falsamente atribuídas a ele.

O Comprova ainda realizou buscas no Google com o teor dessas afirmações e não encontrou qualquer resultado; confira: “o povo entregará suas armas voluntariamente” e “vamos reduzir o armamento das polícias e dos militares e substituir por inteligência”. As páginas foram gravadas com auxílio do site Web Archive, para preservar os resultados que apareceram no momento em que a consulta foi feita, no dia 10.

O plano de governo da candidatura Lula/Alckmin 2023-2026 não contém nenhuma menção ao alegado nas postagens verificadas. As diretrizes podem ser acessadas na página da candidatura no site do TSE.

G1 informa que nunca publicou o conteúdo

Por meio da busca pelo título da suposta reportagem no Google, não foi encontrado nenhum resultado correspondente. Na página do G1, também não consta tal publicação nem nada similar. A partir da constatação, o Comprova entrou em contato com a assessoria do portal, via e-mail, questionando-a sobre a existência do conteúdo e se o portal pretendia tomar alguma medida diante da escalada de casos em que a imagem do veículo vem sendo utilizada em peças de desinformação.

Em resposta, o portal informou que “esse conteúdo nunca foi publicado pelo G1” e reforçou que não há “nenhum Paulo Canuto na equipe do portal”, em referência à assinatura de um suposto repórter que aparece no print alvo desta checagem.

Vale ressaltar ainda que o G1 disponibiliza uma relação com os nomes dos profissionais que fazem parte da equipe em todo o Brasil. O veículo não respondeu se pretende tomar medidas legais para identificar os responsáveis pela falsificação.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. A poucas semanas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, conteúdos falsos que envolvem candidatos à Presidência da República, como a postagem checada, podem influenciar a decisão do eleitor, que deve se basear em informações verdadeiras e confiáveis para definir o seu voto.

Outras checagens sobre o tema: Recentemente, o Comprova verificou outros conteúdos que simulavam páginas de veículos jornalísticos. No início deste mês, o Comprova mostrou que o G1 não publicou matéria na qual Lula afirma que “nem Deus tira essa eleição da gente”. O Comprova também mostrou que era falsa uma suposta postagem do portal GE (Globo Esporte), que afirmava que a marca Puma teria aumentado o patrocínio do jogador Neymar Jr após ele declarar apoio a Bolsonaro. Em setembro, mostramos ser falsa uma montagem de suposta publicação do G1 na qual Lula teria dito que a Venezuela “não precisa de críticas”, mas de “financiamento e empréstimos”.

Eleições

Investigado por: 11/10/2022

É montagem post dizendo que Bolsonaro acabará com feriado de 12 de outubro

Falso
É falso que o presidente da República e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), tenha feito uma publicação no Facebook com a proposta de acabar com o feriado de 12 de outubro, em que é celebrado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Nas redes do presidente, não há qualquer menção ao assunto.

Conteúdo investigado: Tuíte exibe captura de tela do que seria uma postagem feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no Facebook. Nela, o presidente diz reconhecer e respeitar a fé católica, mas pondera que o Brasil tem se tornado um país cada vez mais evangélico e cita um suposto clamor desses fiéis para retirar a alcunha de “Nossa Senhora Aparecida Rainha do Brasil”, passando a denominá-la “Santa Aparecida, Rainha dos Católicos”. A publicação assinala em vermelho um trecho em que Bolsonaro teria apontado a formação de um grupo de trabalho para elaboração de um projeto de lei acabando com o feriado de 12 de outubro, a partir de 2023.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É falso que Jair Bolsonaro tenha feito um post no Facebook dizendo que vai acabar com o feriado de 12 de outubro, em que é celebrado o dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Não há qualquer publicação a respeito do assunto nas redes sociais oficiais de Bolsonaro, assim como não há indícios de que a postagem tenha sido feita em algum momento e apagada posteriormente. Também não há registros na imprensa de que o presidente, que afirma ser católico, tenha mencionado a possibilidade de vetar a celebração à Nossa Senhora Aparecida ou que ele tiraria o título de “padroeira do Brasil” da santa.

A última publicação no Facebook do presidente com menção à data ocorreu em 12 de outubro do ano passado, justamente para celebrar o dia.

No Twitter, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, classificou o conteúdo como desinformação.

Também não existe um projeto de lei relacionado à data cuja finalidade seja extinguir o feriado religioso. Nas buscas, foi constatado uma proposta arquivada em agosto de 2008, que tiraria de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, entretanto, caso o Projeto de Lei 2623/07 fosse aprovado, o feriado seria mantido.

Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga conteúdos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 11 de outubro, a publicação aqui analisada passava de 16,9 mil curtidas e já havia sido repostada mais de 4,2 mil vezes.

O que diz o autor da publicação: A conta responsável pela publicação no Twitter não permite envio de mensagem direta. O Comprova buscou perfil semelhante em outras redes e localizou uma conta no Instagram. Foi encaminhado questionamento por mensagem, mas não houve resposta até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Iniciamos as buscas no Google com as palavras “Bolsonaro” e “feriado 12 de outubro”, que retornou a checagens já realizadas por Boatos.org e pelo portal UOL. Foi possível localizar, ainda, uma matéria do Estadão que trata de conteúdos de desinformação relacionados aos dois candidatos que disputam o segundo turno da eleição presidencial.

A própria checagem do UOL Confere traz a informação de que, a partir de uma busca avançada na plataforma CrowdTangle, é possível verificar que as menções mais recentes a “Aparecida” no Twitter e no Facebook de Bolsonaro foram em outubro de 2021, quando ele celebrou o feriado.

O Comprova também fez buscas nas redes sociais de filhos do presidente e localizou um tuíte de Flávio Bolsonaro apontando que a postagem alvo desta checagem é falsa.

O Comprova também pesquisou por projetos de lei relacionados ao dia 12 de outubro e foi encontrado apenas um projeto, já arquivado, que tentava retirar de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, tornando-a padroeira apenas dos católicos.

Também buscamos o autor da publicação, mas não houve retorno até a publicação desta checagem.

Bolsonaro não fez post propondo fim do feriado

Ao contrário do que aponta a publicação, não há nas redes sociais oficiais do presidente qualquer publicação sobre alterar a alcunha de Nossa Senhora Aparecida e acabar com o feriado dedicado à santa. No Twitter, a menção mais recente com a palavra “Aparecida” foi feita em outubro do ano passado, quando o presidente celebrou o feriado. Na ocasião, ele inclusive participou das festividades da padroeira do Brasil no Santuário de Aparecida, em São Paulo. Agora, em 2022, o presidente já confirmou nova visita ao Santuário. Bolsonaro deve participar de uma das sete missas previstas para a data.

Após o conteúdo viralizar nas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro fez uma publicação no Twitter classificando como desinformação a ideia de que o pai iria acabar com o feriado religioso. “Bolsonaro nunca acabaria com um feriado religioso. Nós somos os verdadeiros cristãos”, declarou o filho do presidente.

Um projeto de lei com teor semelhante ao da postagem analisada chegou a ser proposto pelo então deputado federal Victório Galli, à época filiado ao PMDB, no ano de 2008. À época, o parlamentar tentava retirar de Nossa Senhora o título de padroeira do Brasil, tornando-a apenas “padroeira dos brasileiros católicos apostólicos romanos”. Entretanto, mesmo com uma eventual aprovação da proposta, o feriado religioso seria mantido. O texto acabou arquivado pela Câmara dos Deputados em 22 de agosto daquele ano.

O feriado foi instituído em 1980

Nossa Senhora Aparecida foi definida no catolicismo como padroeira do Brasil em 1930, pelo Papa Pio XI. Em 1953, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu o dia 12 de outubro como data festiva.

A data passou a ser feriado nacional após visita do Papa João Paulo II ao Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, em 30 de junho de 1980.

À época, o Brasil vivia sob a ditadura militar. Coube ao então presidente, general João Batista Figueiredo, a sanção da lei que declarava a data como feriado nacional.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizam nas redes sociais. Publicações falsas ou enganosas envolvendo candidatos à Presidência, como a peça aqui verificada, podem induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: A publicação alvo desta checagem também já foi apurada e classificada como falsa pelo Boatos.Org , pelo Correio Braziliense, Gazeta do Povo e UOL Confere. Em verificações anteriores que citam Jair Bolsonaro, o Comprova mostrou que posts enganam ao associar Bolsonaro e maçonaria ao satanismo; que é enganoso vídeo que mostra Bolsonaro oferecendo capim a eleitores de Lula e também mostrou que não há comprovação de que urna impediu voto em Bolsonaro no Pará.

Eleições

Investigado por: 11/10/2022

Edição de vídeo distorce declaração de Bolsonaro sobre ministério para Collor e confisco de aposentadoria

Enganoso
É enganoso que, em entrevista ao podcast Pilhado, no domingo (9), o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha afirmado que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) seria seu ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo iria “confiscar a aposentadoria dos aposentados”. Bolsonaro estava, na verdade, sendo sarcástico e listando acusações infundadas feitas contra ele. O presidente negou qualquer convite a Collor, e não foi encontrada nenhuma evidência concreta e pública que o desminta.

Conteúdo investigado: Tuíte que compartilha trecho de uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL), no qual ele diz que o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB) será ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo vai “confiscar a aposentadoria dos aposentados”. A postagem é complementada por um segundo tuíte, no qual o autor pede aos seus seguidores que “chequem antes de baixar e repassar”.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: É enganoso que, em entrevista ao podcast Pilhado, no domingo (9), o presidente Jair Bolsonaro tenha afirmado que o ex-presidente Fernando Collor de Mello seria seu ministro, em um eventual segundo mandato, e que o governo iria “confiscar a aposentadoria dos aposentados”.

A peça de desinformação foi publicada no Twitter pelo deputado André Janones (Avante-MG), que integra a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele pegou um trecho descontextualizado de uma entrevista concedida por Bolsonaro ao podcast Pilhado e transmitida ao vivo no domingo (9).

Bolsonaro estava, na verdade, sendo sarcástico e listando acusações infundadas feitas contra ele, dentre as quais uma segundo a qual ele seria canibal. O presidente negou qualquer convite a Collor ao final da entrevista. O Comprova não encontrou nenhuma evidência concreta e pública que o desminta.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O tuíte original recebeu mais de 41,5 mil interações, entre retuítes, curtidas e tuítes com comentários até a tarde de segunda-feira (10), quando ele foi excluído pelo próprio Janones, após o Comprova tentar contactá-lo. O tuíte complementar, em que o autor insiste em não se responsabilizar pela precisão do conteúdo, recebeu apenas 11,9 mil interações no mesmo período.

O que diz o autor da publicação: O Comprova entrou em contato com o autor do tuíte verificado, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria pelo Whatsapp, mas não obteve retorno até a publicação desta checagem.

Como verificamos: Ao pesquisar, no Twitter, pelas palavras-chave “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”, encontramos uma versão ampliada do vídeo compartilhado pelo tuíte verificado. Ela foi publicada pelo ex-secretário de Cultura e deputado eleito por São Paulo Mário Frias (PL). Também identificamos a versão completa do vídeo em questão no Youtube.

Ainda buscamos indícios do eventual convite que Bolsonaro teria feito a Collor ao pesquisar, no Google, pelas palavras-chave, “Bolsonaro”, “Collor” e “ministro”. Para refinar a pesquisa, procuramos apenas conteúdos que precedessem a entrevista, ou seja, publicados até 8 de outubro.

Também buscamos contato com o autor da publicação, o deputado André Janones, por meio de sua assessoria de imprensa pelo Whatsapp.

Trecho descontextualiza sarcasmo de Bolsonaro

A publicação de Janones, aqui verificada, distorceu um comentário sarcástico de Bolsonaro, no início da entrevista ao podcast Pilhado. Como mostra o contexto da fala, na versão original da entrevista, entre 3:26 e 4:15, o presidente estava, na verdade, listando acusações infundadas feitas contra ele.

“A esquerda faz muito bem esse trabalho. Agora estão falando duas coisas aí. Primeiro, que eu sou canibal. Pô, é f…, né? Aguentar um trem desse aí. E a outra é que o Collor vai ser ministro e nós vamos confiscar as aposentadorias dos aposentados. E jogam. É o tempo todo assim”, disse Bolsonaro.

Ao final da entrevista, um dos apresentadores, o influenciador Paulo Figueiredo, neto do último ditador do regime militar brasileiro, João Figueiredo, expôs o tuíte de Janones – o parlamentar publicou a peça de desinformação enquanto a entrevista ainda estava ocorrendo. Ao denunciar o deputado, Figueiredo pediu a Bolsonaro para desmentir a alegação.

“Não existe convite ao senhor Collor de Mello para ser ministro. Não existe convite, não existe. Iria convidá-lo para ser ministro, segundo o Janones, para confiscar o salário dos caras, para deixar os velhinhos sem aposentadoria, a senhorinha sem pensão. Que loucura é essa? Meu Deus do céu. Que loucura é essa?”, disse Bolsonaro.

Essa parte final da entrevista se passa entre 3:51:00 e 3:53:05 da versão original do vídeo, como publicada no canal do Pilhado no Youtube.

Ainda nesta segunda-feira (10), após o Comprova tentar contactá-lo via assessoria de imprensa, Janones deletou o tuíte verificado.

Não foi encontrada nenhuma evidência do suposto convite

Bolsonaro é aliado de Collor e a própria legenda do presidente, o PL, compôs a chapa do petebista ao governo de Alagoas, que acabou derrotada no primeiro turno, no dia 2 de outubro. Mesmo assim, Bolsonaro nunca deu nenhuma declaração, em registro público, afirmando que o convidou para compor seu governo em um eventual segundo mandato.

Plano de governo de Bolsonaro não prevê confisco

O plano de governo apresentado à Justiça Eleitoral pela campanha de reeleição de Bolsonaro não lista nenhuma mudança ou reforma na estrutura da previdência brasileira. O documento apenas afirma que, em eventual segundo mandato, o governo Bolsonaro “continuará e fortalecerá o aprimoramento do sistema previdenciário, com o objetivo de garantir a sustentabilidade financeira e a justiça social”.

Janones associa Bolsonaro a Collor e o confisco desde, pelo menos, 7 de outubro

Esta não é a primeira vez que Janones associa o presidente a Collor e ao confisco de pensões. Apenas no perfil dele no Twitter, o deputado publicou, pelo menos, sete tuítes com a peça de desinformação. O conteúdo mais antigo encontrado data de sexta-feira (7). Por meio da ferramenta de registro de conteúdos na internet Wayback Machine, o Comprova arquivou os tuítes para preservar a evidência caso Janones os delete de sua conta.

Em um desses tuítes, publicado no sábado (8), Janones compartilhou o print de uma suposta matéria jornalística com o título “Bolsonaro confirma que ex-presidente Collor será seu ministro em caso de vitória”. Neste caso, Janones usa do mesmo estratagema de sua postagem que distorce a entrevista de Bolsonaro ao Pilhado. Ele afirma estar repassando conteúdo cuja veracidade não seria conhecida: “Alguém sabe se isso aqui é verdade?”.

O print mostra uma página diagramada aos moldes do site de notícias G1, da Globo. A agência de checagem de fatos Lupa desmentiu que o G1 tivesse publicado tal matéria.

O Comprova também encontrou um vídeo publicado no canal oficial de Janones, ainda no sábado (8), com o título “URGENTE AO VIVO: AUXÍLIO BRASIL, APOSENTADORIAS E PENSÕES PODEM SER CONFISCADAS!! ENTENDA:”. Nele, o deputado afirma: “O ex-presidente Fernando Collor de Mello, o Collor, tá voltando, como ministro da Previdência, muito provavelmente. E os benefícios que o povo brasileiro conquistou com tanta luta, como o Auxílio Brasil e talvez até mesmo as aposentadorias, as pensões, começam a correr risco, já que o Collor tem essa longa história de confiscar o dinheiro do povo brasileiro.”

O Comprova arquivou, por meio do Wayback Machine, esse vídeo também.

Quem é André Janones

Janones, de 38 anos, é deputado federal por Minas Gerais desde 2019, após se eleger ao Congresso, pela primeira vez, no ano anterior. Ele foi o terceiro candidato mais votado no estado, obtendo 178.660, ou 1,77%, dos votos válidos. Janones é conhecido por sua influência nas redes sociais – ele tem 7,9 milhões no Facebook. Assim, em sua reeleição neste ano, conseguiu 238.967, ou 2,13% dos votos válidos, sendo o segundo candidato à Câmara mais votado em Minas Gerais. Ele obteve 30.000 votos a mais que o terceiro colocado e só ficou atrás de Nikolas Ferreira (PL), que teve a maior votação da história do estado.

Antes de concorrer à reeleição, porém, Janones foi o candidato do seu partido, o Avante, à Presidência da República. A própria legenda oficializou a candidatura em 23 de julho. Na pesquisa Datafolha do final daquele mês, Janones tinha 1% das intenções de voto. O deputado desistiu da candidatura menos de duas semanas depois, em troca de apoiar Lula (PT) e integrar a campanha do ex-presidente nas redes sociais. Como descreveu a revista piauí, “ele atua com autonomia, mas também executa demandas da campanha petista”.

Sua atuação nas redes pela eleição de Lula já foi descrita por veículos de imprensa como “serviço sujo” (O Estado de S. Paulo) e “agressiva e ‘zoeira’” (G1). Ele também é comparado ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho 02 de Jair Bolsonaro e infame por disseminar desinformação e atacar rivais nas redes sociais. Nos bastidores do debate presidencial de 28 de agosto, nos estúdios da Band, em São Paulo, Janones provocou aliados de Bolsonaro e protagonizou uma briga com o ex-ministro bolsonarista e agora deputado eleito por São Paulo Ricardo Salles (PL).

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado atribui enganosamente o confisco de aposentadorias em caso da reeleição de Jair Bolsonaro. A desinformação é uma prática nociva à democracia, porque a população tem direito de fazer suas escolhas baseadas em conteúdos confiáveis.

Outras checagens sobre o tema: O site de notícias O Antagonista também desmentiu a publicação de Janones aqui verificada, enquanto que a agência de checagem de fatos Lupa denunciou outra peça de desinformação, citada aqui e compartilhada pelo deputado, que atribui ao G1 uma matéria associando Bolsonaro a Collor e ao confisco de pensões.

O Comprova já verificou conteúdos de desinformação que imputaram ao PT e ao candidato derrotado Ciro Gomes (PDT) o confisco de bens. Um vídeo falso afirmava que o confisco estaria previsto “no estatuto do PT”. Outra verificação apurou que são falsas as mensagens que circulam no WhatsApp dizendo que o PT tem um projeto de confisco da poupança e que ele será automaticamente aprovado caso o candidato do partido, Fernando Haddad (PT), ou mesmo Ciro, vencesse a eleição.

Eleições

Investigado por: 11/10/2022

É falso que totalização de votos a cada 12% indique fraude no 1º turno das eleições

Falso
São falsos os conteúdos que circulam na internet com afirmações de que um algoritmo teria fraudado as urnas em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na totalização dos votos do primeiro turno das eleições. Um tuíte afirma que a cada 12% das urnas eletrônicas totalizadas, Lula subiu 1% e o presidente Jair Bolsonaro (PL) desceu 0,5%, enquanto um conteúdo em vídeo faz a mesma demonstração falsa a partir de um gráfico produzido no Excel. Porém, os números usados nos conteúdos não correspondem aos da apuração dos votos em tempo real do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Especialistas ouvidos pelo Comprova, além de reportagens já publicadas sobre o tema, demonstram que a contagem de votos independe de regras de estatística e está condicionada à ordem de chegada dos votos e divulgação de cada seção eleitoral apurada.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula nas mídias sociais diz que um gráfico elaborado no Excel prova a existência de um algoritmo que fraudou as urnas, favorecendo Lula em detrimento de Bolsonaro no 1º turno das eleições.

Onde foi publicado: O conteúdo circulou no Whatsapp e informações extraídas dele foram compartilhadas por usuários do Twitter, Instagram e TikTok.

Conclusão do Comprova: É falso que os percentuais de votos dos candidatos Jair Messias Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) variaram de forma programada à medida em que os resultados das urnas foram sendo totalizados no primeiro turno.

Em nota enviada para a equipe do Comprova, a área técnica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável pelo sistema de totalização, explicou que todos os Boletins de Urna (BUs) – documento que traz o resultado impresso da votação de cada seção eleitoral – foram processados à medida em que os dados chegaram à sede do tribunal, em Brasília. Os BUs foram colocados em fila e sua computação ocorreu conforme a ordem de chegada.

“Não há, portanto, nenhum algoritmo programado para ditar a percentagem atingida por cada candidatura ao longo do processo de soma dos votos”, destaca a nota. Especialistas ouvidos pelo Comprova também refutaram a possibilidade de fraude.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: Uma das plataformas em que o vídeo circulou foi o Whatsapp, que não permite dimensionar o alcance do conteúdo. Já um dos tuítes que compartilhou informações falsas contidas no vídeo checado foi publicado no dia 3 de outubro e, até o dia 11, obteve 1.137 curtidas, 27 comentários e 378 retuítes. De acordo com o portal UOL, um post publicado no perfil da ex-secretária de Cultura Regina Duarte com os mesmo argumentos do vídeo checado teve 923 mil visualizações em menos de 24 horas.

O que diz o autor da publicação: A pessoa que apresenta o vídeo se autodenomina Flávio Peres. Ela não foi encontrada pela equipe do Comprova para prestar informações sobre o conteúdo.

Como verificamos: Uma busca na internet pelo termo “Flavio Peres” retornou o perfil do vice-prefeito do município de Garça (SP), que ainda não respondeu o contato do Comprova, e de um coach, que alegou não ser o autor do vídeo: “Não tenho nada a ver com esse vídeo. Por infeliz coincidência essa pessoa tem o mesmo nome que eu”.

Uma usuária do Twitter, que compartilhou o vídeo, escreveu que Flávio Peres seria um major, membro da área técnica do setor de inteligência do Exército. A equipe do Comprova tentou falar com ela, mas o perfil não permite o envio de mensagens privadas. Mandamos e-mail para o Exército para checar se o autor do vídeo faz parte do quadro da instituição, mas, até o momento, não tivemos resposta.

Outro perfil do Twitter que compartilhou a publicação disse não ter o contato de Flávio Peres e explicou que recebeu o vídeo por um grupo do Whatsapp.

Cabe destacar que o conteúdo do vídeo circulou em outros formatos. Capturas de tela de uma conversa em um aplicativo de mensagens, sobre a suposta fraude na apuração das eleições, apresentam os mesmo argumentos do autor do vídeo, mas a análise dos dados é atribuída a uma outra pessoa chamada Hebérbio.

A equipe do Comprova procurou matérias jornalísticas de cobertura das eleições e vídeos que transmitiram o resultado do pleito em tempo real para comparar com os números apresentados no vídeo alvo da checagem.

Nessa busca, usamos como fonte uma matéria publicada no G1, no dia 2 de outubro de 2022, às 20h49, e uma transmissão ao vivo do resultado das eleições feita pelo canal do Youtube Prof Silvester Geografia. Ambos utilizaram dados disponibilizados, em tempo real, pelo TSE no dia da eleição.

Entramos em contato com o TSE, órgão responsável pelas eleições no país, para solicitar dados e questionar sobre a suposta existência de um algoritmo que teria programado a totalização dos votos.

O Comprova ainda conversou com o professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcos Prates, com o estatístico da escola ASN Rocks Carlos Miranda e com o professor doutor no Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP) Bruno de Carvalho Albertini.

Falta de rigor no tratamento dos números

A partir de conversas com especialistas e consulta à bibliografia sobre visualização de dados, o Comprova constatou que alguns requisitos de rigor e de método científico necessários para o trabalho com dados numéricos não tiveram a devida atenção do autor da publicação. Ausência da fonte de dados, arredondamentos de valores decimais para inteiros e recorte da série temporal são aspectos que colocam em xeque o teor do vídeo.

De acordo com o autor da publicação alvo dessa checagem, “o período de apuração sofreu alteração a cada 12% de votos apurados”. Vale destacar aqui que ele confunde os conceitos de apuração e totalização. Lucas Lago, pesquisador no CEST-USP, explicou a diferença em checagem sobre o mesmo conteúdo feita pela AFP. Apuração é a etapa que ocorre dentro das urnas no encerramento da votação da seção eleitoral e gera como resultado o Boletim de Urna. Totalização é a soma dos Boletins de Urna divulgada pelo TSE.

Para provar seu ponto de vista, o autor cria uma tabela que mostra a evolução percentual dos candidatos Bolsonaro e Lula quando 12%, 24%, 36%, 48%, 60%, 72%, 84% e 96% das urnas haviam sido totalizadas.

Ao comparar a performance dos presidenciáveis em cada um desses momentos, o autor alega ter notado um movimento “programado” para cada candidato. Bolsonaro diminui linearmente 0,5% a cada período, enquanto Lula cresceu 1%. Para o autor do vídeo, essa seria a prova de que haveria um algoritmo que beneficiou Lula.

No entanto, o autor não aponta as fontes dos dados utilizados na análise e eles não condizem com informações de fontes oficiais. Apesar de o TSE ainda não ter disponibilizado a planilha da totalização minuto a minuto do 1º turno, foi possível contestar os dados do vídeo com o da apuração feita pelo G1 e por transmissão ao vivo do YouTube. Ambos utilizaram dados disponibilizados, em tempo real, pelo TSE no dia da eleição.

 

O que chama a atenção ao comparar a primeira tabela com a segunda e com a terceira é o fato da primeira apresentar dados arredondados. “Mudar números que variam na escala de decimais para inteiros gera uma distorção enorme”, explica o professor do Departamento de Estatística da UFMG Marcos Prates.

Em momento algum, Lula obteve 49% dos votos, como sugere o vídeo desinformativo. O percentual máximo atingido pelo candidato petista foi 48,43%. “Eu imagino que no meio do caminho ele [autor do vídeo] fez isso [arredondou os valores] várias vezes de acordo com a conveniência”, avalia Prates.

Mesmo que os números do vídeo alvo da checagem estivessem corretos, o professor não vê indício de fraude em uma oscilação linear. “O fato de observar um crescimento linear ou um decaimento linear num sistema de apuração, a meu ver, não determina que existe um algoritmo por trás”.

No livro How Charts Lie (Como gráficos mentem, em tradução livre), o jornalista e professor da Universidade de Miami (EUA) Alberto Cairo descreve diferentes maneiras de enganar, propositalmente ou não, com números. Uma delas é mostrar apenas uma parte do todo e assumir a parte como a realidade dos fatos.

O autor do vídeo checado faz um recorte dos dados. Ele toma como ponto de partida para sua análise o momento em que 12% das urnas haviam sido apuradas e não o início da apuração em si. Isso faz com que não se percebam nuances no comportamento dos números.

Ao olhar para a apuração dos votos a partir de uma perspectiva mais ampla, tendo como ponto de partida 0,09% das urnas apuradas, percebe-se que os dados oscilaram de diferentes maneiras e não só de forma linear como o autor do vídeo argumenta.

O portal G1 fez um gráfico, com dados do TSE, que permite visualizar a oscilação dos candidatos Bolsonaro e Lula ao longo do tempo.

| Fonte: Captura de tela de matéria publicada pelo G1

Logo no início, quando apenas 0,09% do total de urnas tinham sido apuradas, Lula estava à frente na disputa presidencial. O petista tinha 51,18% e Bolsonaro 36.73%. Imediatamente, antes mesmo de se atingir o percentual de 1% da apuração, Lula foi ultrapassado por Bolsonaro, que se manteve na primeira posição até o percentual de 70% da totalização.

Estatística

De acordo com o estatístico Carlos Miranda, que atua em empresa privada de tecnologia, o vídeo ou teoria não produzem embasamento estatístico algum.

Ele diz que o fato de o TSE realizar a apuração de forma não sequencial em relação às urnas acaba levando a esse tipo de pensamento para determinados grupos do Brasil.

Muitas vezes a contagem das urnas já começa em 3%, 5%. Depois, a apuração aparece em 12% ou 14%. Tudo isso é bem comum, segundo Miranda.

Para ele, trata-se apenas de uma contagem simples de votos em urnas de diferentes localidades e que ditam o ritmo de contagem de votação recebida por cada candidato. Sendo que, no final, a apuração é concluída com o número de votos determinado pelos eleitores para cada candidato.

“Devemos sempre atentar sobre qual urna está sendo contada primeiro. No final, não importa quem estava na frente ou atrás. O resultado acontece a partir do total de votos já registrados antes pelo eleitor. Não há movimento de votos a partir de regras estatísticas”.

Outro exemplo citado por ele é no caso de a totalização envolver, hipoteticamente, apenas duas cidades: “Se a contagem inicia com os votos da primeira cidade e nela todos os eleitores votam em apenas um candidato, só aí já vai estar 100 a 0”, exemplifica.

Tecnologia e apuração

Para o professor Bruno de Carvalho Albertini, da EPUSP, o vídeo em questão é falacioso.

Ele chama atenção para a ordem de totalização do Registro Digital do Voto (RDV), que pode contar com celeridade ou não de envio, bem como congestionamento das redes que o TSE usa.

“Assim que o RDV chega no servidor é processado e mostrado na totalização. Sendo assim, não faz sentido alegar fraude baseando-se na ordem ou evolução da totalização. De fato, qualquer pessoa pode fotografar os Boletins de Urnas físicos impressos pela urna e totalizar por meios próprios, ou pegar os BUs online do TSE e fazer o mesmo”, explica Albertini.

Apuração e geografia

Uma apuração do Comprova em julho cita uma reportagem do TSE em que o tribunal também aborda o andamento da totalização dos votos de acordo com a posição geográfica das cidades. Em 2021, o órgão desmentiu o boato de que as urnas eletrônicas teriam sido fraudadas nas eleições de 2014. A situação daquela época pode servir de exemplo no cenário atual, uma vez que, na apuração de votos do 1º turno deste ano, o candidato Bolsonaro ficou à frente de Lula até 70% do total de urnas apuradas. Há oito anos, Dilma ultrapassou Aécio quando a totalização chegou a 88,9%.

Conforme divulgou o TSE na reportagem, naquele ano, técnicos do PSDB e do tribunal analisaram a curva de desempenho dos candidatos Aécio e Dilma ao longo da apuração e constataram que ela demonstrava a concorrência acirrada na eleição de 2014, em que durante muito tempo os votos eram disputados um a um.

Enquanto os votos apurados vinham predominantemente dos estados das regiões Sul e Sudeste, onde Aécio Neves venceu, a apuração indicava a vitória parcial do candidato tucano. Mas, à medida em que começaram a ser computados os votos dos estados do Norte e do Nordeste, onde Dilma Rousseff obteve ampla vitória, esse placar foi mudando até que se consolidou numa vitória apertada da petista, com uma diferença de apenas 3,28 pontos percentuais.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Conteúdos falsos ou enganosos que também envolvem o sistema de votação e de totalização podem influenciar na compreensão da realidade e segurança do sistema.

O Comprova busca colaborar para que o eleitor tenha acesso a conceitos fiéis à verdade e que contribuem para um correto entendimento a respeito do processo de escolha de candidatos e a apuração de votos.

Outras checagens sobre o tema: A AFP, o UOL e o site boatos.org verificaram que é falso o conteúdo atribuindo favorecimento a Lula na totalização dos votos nas eleições do 1º turno no Brasil. A Justiça Eleitoral também desmentiu o boato.

Em verificações anteriores que citam o candidato Lula, o Comprova mostrou ser falso conteúdo que afirmava que eleitores de Lula teriam dia diferente para votação; que não há registro de Lula ter dito que ‘enfermeiros só servem para servir sopa’. Também apurou e concluiu como enganoso vídeo dizendo que Lula pode perder candidatura por conta da Lava Jato.

Eleições

Investigado por: 10/10/2022

Vídeo que insinua fraude em votação em Maceió reproduz infográfico com erro

Enganoso
É enganosa a insinuação de fraude envolvendo a contagem de votos na capital de Alagoas, Maceió, apontada em vídeo postado no Twitter. A suposta artimanha "denunciada" pelo autor do conteúdo buscaria prejudicar o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Para expor dados da eleição naquela capital, o vídeo mostra informações publicadas pelo sistema do jornal O Globo, que apresentou erros - o que já foi identificado pelo veículo. A totalização de votos é feita oficialmente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujo sistema manteve a integridade durante todo o processo eleitoral realizado no dia 2 de outubro.

Conteúdo investigado: Vídeo que circula no Twitter mostra divergência dos percentuais de voto de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro nas zonas eleitorais de Maceió em relação ao resultado geral da eleição no município. Bolsonaro fica à frente em cada uma das cinco zonas, mas aparece em 2º lugar quando o autor seleciona a opção “todas as zonas eleitorais”. O responsável sugere que essa diferença representa indício de fraude na eleição. A gravação tem como plano de fundo uma camisa da Seleção Brasileira de futebol.

Onde foi publicado: Twitter.

Conclusão do Comprova: Um erro no infográfico desenvolvido pelo jornal O Globo para divulgação dos resultados do primeiro turno da eleição presidencial provocou confusão na interpretação dos dados e foi usado como base de vídeo enganoso que insinua fraude no pleito em Maceió. No entanto, o problema no sistema do jornal não tem ligação com a totalização dos votos, de responsabilidade do TSE, ou seja, não há indício de fraude.

No vídeo aqui verificado, o autor consulta o resultado da votação por zona eleitoral de Maceió no Mapa da Votação e constata que Bolsonaro teve percentuais maiores do que Lula nas cinco regiões. Contudo, quando seleciona a opção “todas as zonas eleitorais”, que deveria mostrar o resultado geral no município, o sistema do jornal exibe o petista à frente, com 56,5% dos votos. Em seguida, está Bolsonaro, com 36,05%. Diante disso, o autor sugere que houve fraude a favor de Lula.

Por um erro no sistema, a opção “todas as zonas eleitorais” puxou os dados do resultado da votação em todo o estado de Alagoas, onde, de fato, Lula ficou à frente, com o percentual de 56,5%. Em nota, O Globo explicou o problema e informou que o erro ocorreu no sistema do próprio veículo, na distribuição de votos totais nas 63 cidades em que era possível consultar a votação por zona eleitoral. O site do TSE apresenta os dados corretos.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: Até o dia 10 de outubro, o tuíte obteve 13,9 mil visualizações, 342 curtidas e 216 compartilhamentos.

O que diz o autor da publicação: A conta responsável pela publicação no Twitter não permite envio de mensagem direta. O Comprova buscou perfil semelhante em outras redes, mas não obteve sucesso. No início do vídeo, o autor se identifica com um nome, mas não identificamos seu perfil nas redes sociais.

Como verificamos: Após ter acesso ao conteúdo investigado, a equipe fez buscas no Google, tendo como retorno uma publicação de O Globo, na qual o jornal reconhece a falha em seu mapa de apuração.

A busca também encontrou uma publicação da Justiça Eleitoral, que classificou a insinuação de fraude como “boato” e apontou a ocorrência de equívoco na divulgação feita pelo jornal.

Por fim, a equipe acessou os dados oficiais do TSE relativos ao resultado das eleições no estado de Alagoas e comparou com os números do conteúdo verificado.

Portal do TSE tem dados corretos sobre votação em Maceió

No vídeo aqui verificado, o autor filma a tela de um celular com dados da votação para presidente em Maceió, capital de Alagoas. O vídeo mostra a página do Mapa de Votação do jornal O Globo, informação confirmada pela identidade visual e pelo endereço “infograficos.oglobo.globo.com” na tela do aparelho. Além disso, O Globo publicou nota informando que seu sistema de divulgação de dados da votação do primeiro turno apresentou erro que corresponde ao conteúdo apresentado no vídeo.

Os dados do TSE mostram que, em Alagoas, Lula recebeu 974.156 votos, o que representa 56,5%. Já Bolsonaro teve 621.515 votos, 36,05%. Em Maceió, Bolsonaro recebeu o maior percentual de votos, 49,59%, ante 40,43% do petista.

No vídeo, o autor pesquisa no site de O Globo os percentuais de votos dos candidatos à Presidência em cada uma das zonas eleitorais de Maceió. O Comprova confrontou as informações mostradas na publicação com os dados divulgados pelo TSE e constatou que os percentuais das zonas estão corretos, com Bolsonaro à frente de Lula em todos os casos (apesar disso, o nome de Lula aparece primeiro no sistema do tribunal porque ele ficou à frente no resultado geral, considerando todo o estado de Alagoas):

Zona 0001:

Lula: 39,13% (34.346 votos)

Bolsonaro: 50,45% (44.285 votos)

Zona 0002:

Lula: 39,92% (51.420 votos)

Bolsonaro: 49,74% (64.064 votos)

Zona 003:

Lula: 41,57% (38.308 votos)

Bolsonaro: 48,95% (45.114 votos)

Zona 033:

Lula: 41,01% (30.249 votos)

Bolsonaro: 49,11% (36.226 votos)

Zona 054:

Lula: 40,75% (41.391 votos)

Bolsonaro: 49,58% (50.364 votos)

No entanto, por causa do erro no sistema de O Globo, quando o autor do vídeo pesquisa no site do jornal pelo resultado geral da votação em Maceió (na opção “todas as zonas eleitorais”), o portal apresenta Lula à frente. Isso ocorre, segundo O Globo, porque o sistema puxa o resultado do estado de Alagoas (Lula com 56,5% e Bolsonaro com 36,05%). De fato, os percentuais apresentados de forma errada no sistema, como se fossem de Maceió, correspondem ao resultado que os presidenciáveis tiveram no estado.

A inconsistência no sistema de O Globo não tem relação com a apuração e divulgação oficial dos dados, feitas pelo TSE, ou seja, o problema não é indício de fraude, como sugere o autor do vídeo. O tribunal divulgou corretamente o resultado da eleição em Maceió, conforme mostra a captura de tela abaixo:

| Portal do TSE mostra informações corretas sobre a votação para presidente em Maceió (AL)

Site do jornal O Globo também apresentou erro em outros estados

Apesar de o vídeo viral ter como foco o problema nos dados em Alagoas, o jornal informou que captou em seu mapa erro na agregação automática dos resultados feita por seu sistema nas 63 cidades para as quais estava disponível a opção de visualizar os dados por zonas eleitorais.

O jornal destacou que o percentual de votos de cada candidato em cada zona eleitoral está correto na apresentação numérica de dados e no mapa de cor. Entretanto, quando o usuário selecionava a opção “todas as zonas eleitorais”, que deveria levar para o resultado geral no município, o sistema apresentava os percentuais do Estado em questão.

Na nota publicada, o Globo ressaltou que não há erro em dados captados da base de informações do TSE e que o problema em seu sistema não tem relação com a totalização de votos feita pelo tribunal. A consulta por zona eleitoral foi desativada pelo site até que o erro seja corrigido. O jornal não informou por quanto tempo o problema persistiu.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam na internet relacionados às eleições presidenciais de 2022, à pandemia e a políticas públicas do governo federal. O conteúdo aqui investigado sugere falsamente a existência de fraude eleitoral, reforçando a ideia de insegurança nas urnas eletrônicas e no sistema eleitoral brasileiro. A totalização de votos no Brasil é feita exclusivamente pelo TSE.

Outras checagens sobre o tema: Sobre insinuações de fraude eleitoral, recentemente, o Comprova também investigou que post inventou dados para insinuar fraude eleitoral a favor de Lula, que o Exército não interferiu na apuração de votos e que não há comprovação de que urna tenha impedido voto em Bolsonaro no Pará.

Comprova Explica

Investigado por: 07/10/2022

Lula não tem relação com luciferianismo nem com satanismo; entenda o contexto das postagens sobre o tema

Comprova Explica
Influenciador digital que se autodenomina “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon” Vicky Vanilla diz em vídeo que “está decretada” a vitória do ex-presidente e atual candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, realizado no dia 02 de outubro – o que não ocorreu. Nas imagens, é possível vê-lo em frente a uma bandeira do petista, falando sobre a união de diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao ocultismo para garantir a vitória do ex-presidente. O vídeo viralizou e foi usado para associar Lula ao satanismo. Vanilla, no entanto, diz que o petista não faz parte da sua igreja e também que não é bolsonarista.

Comprova Explica: Autointitulado líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o influenciador Vicky Vanilla fez uma live na semana passada no TikTok usando uma camiseta vermelha e exibindo uma toalha com o rosto do ex-presidente e candidato Lula (PT) ao fundo. Em um trecho da live, que viralizou em outras redes, Vanilla afirma que diferentes religiões e entidades ligadas ao satanismo e ao luciferianismo tinham se unido para garantir a vitória do petista já no primeiro turno.

O vídeo foi disseminado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que usaram o material para associar o petista ao satanismo. A campanha de Lula negou qualquer ligação com as doutrinas ou com a entidade liderada por Vicky Vanilla. Enquanto isso, apoiadores de Lula passaram a espalhar um vídeo com um trecho de uma entrevista do líder luciferiano em que ele criticava Lula. A intenção dessas postagens era desvincular Vanilla da imagem do ex-presidente e dizer que, na verdade, ele seria um bolsonarista disposto a prejudicar a imagem do petista.

A repercussão fez com que Vicky Vanilla publicasse outros dois vídeos – um desmentindo a ligação de Lula com a igreja dele, com o luciferianismo e com o satanismo, e outro em que negava ser bolsonarista ou cabo eleitoral de Bolsonaro. Os vídeos foram retirados do ar por uma ordem judicial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Os luciferianistas não são contrários ao cristianismo, nem deixam de acreditar em Deus – para eles, contudo, Lúcifer não é um anjo caído, e sim um portador de luz”. Especialistas apontam que nem mesmo entre os cultos a Lúcifer e Satã há unidade e que não há sequer relações estruturais entre os cultos citados por Vicky Vanilla no vídeo da live.

Com a viralização de conteúdos sobre o caso, o Comprova resolveu explicar qual o contexto das postagens, quem é Vicky Vanilla e o que são religiões luciferianas e satanistas, uma vez que o conteúdo envolve um candidato à Presidência de um país cuja maioria da população se identifica como cristã.

Como verificamos: O Comprova assistiu ao vídeo verificado aqui e as demais gravações relacionadas ao conteúdo. Também foi visto o vídeo da entrevista de Vanilla ao podcast Supersônico Cast em que ele critica Lula e Bolsonaro.

Foram entrevistados dois pesquisadores sobre o tema do luciferianismo e suas relações com o cristianismo: o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões, e o professor Johnni Langer, PhD em História e professor do curso de Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O Comprova também acessou o posicionamento oficial da campanha do candidato Lula sobre o assunto e a decisão do TSE sobre uma representação feita pelos advogados do petista a respeito dos vídeos. O Comprova procurou, por fim, o ator do vídeo que viralizou, Vicky Vanilla.

O contexto das publicações

Na segunda-feira após o primeiro turno das eleições (3 de outubro), perfis de apoiadores de Bolsonaro começaram a compartilhar trechos de um vídeo em que um homem vestido de camiseta vermelha e com uma bandeira de Lula ao fundo afirma, entre outras coisas, que diversas seitas e religiões de matriz africana, ocultistas, de doutrina luciferiana e/ou satanista haviam se unido para garantir a vitória do petista contra o atual presidente.

O vídeo era o trecho de uma live no TikTok publicada por um perfil chamado Vicky Vanilla, que se identifica como “mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon”. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a live foi feita em 30 de setembro. O material não está mais disponível nas redes sociais e não foi possível assistir ao conteúdo na íntegra. No trecho que foi compartilhado por apoiadores do atual presidente, Vanilla diz que os bolsonaristas iriam “comer o pão que o diabo amassou” e que “amanhã não tem para ninguém, já está decretado”.

“Nós nos unimos, esse tempo todo que eu tive que disfarçar, ficar quieto, disfarçar, falar de outras coisas nas redes sociais. Nós nos unimos esse tempo todo: os terreiros de Quimbanda, os terreiros de Axé, as irmandades luciferianas do país, os segmentos satanistas, os satanistas ateístas, os satanistas gnósticos, os luciferianos ateístas, luciferianos gnósticos, nós nos unimos esse tempo todo”. Em seguida, ele profere ofensas aos apoiadores de Bolsonaro e diz que “eles não vão conseguir vencer o poder e o tamanho de uma egrégora que é a nossa. Amanhã já está decretado, vocês estão arruinados (…). Porque vocês nesses últimos quatro anos apoiaram um ditador, um facínora, um vagabundo safado”.

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF) foi uma das apoiadoras do presidente que compartilhou o vídeo, com a legenda “A guerra é espiritual”. Já um perfil no Twitter que apoia Bolsonaro escreveu: “Satanistas declaram apoio a Lula. Pronunciamento de um adepto do satanismo e bruxaria sobre as eleições. É esse candidato que você quer para o Brasil?”.

Após a repercussão do material, Vanilla publicou um vídeo em suas redes sociais em, 4 de outubro, dizendo que as publicações dos apoiadores do presidente eram “fake news” e que suas falas durante a live haviam sido retiradas de contexto. “Esse corte faz parte de todo um pronunciamento que eu fiz na última live e está sendo colocado totalmente fora de contexto por pessoas que querem que você não saiba a verdade. O vídeo está sendo espalhado como uma fake news, tanto a meu respeito, quanto a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual. Ele está sendo divulgado como uma artimanha dos pseudocristãos, dos fariseus instalados na política que não querem que você se aproxime da verdade de Cristo”, afirmou.

Como o vídeo da live não está mais disponível, o Comprova procurou Vicky Vanilla para explicar qual era o intuito e o contexto das falas em que ele se refere à “união” entre as seitas citadas no trecho do vídeo e a eleição de Lula, mas não houve resposta até o fechamento deste Comprova Explica.

Enquanto trechos do vídeo seguiam viralizando nas redes sociais, alguns apoiadores do ex-presidente Lula começaram a publicar que Vanilla, na verdade, era apoiador do presidente Bolsonaro e havia feito a live para prejudicar a imagem do PT. Essas postagens compartilhavam um trecho em vídeo da participação de Vanilla no podcast Supersônico Cast, que foi publicado em 14 de maio de 2022.

No trecho compartilhado, Vanilla fazia críticas ao PT e a Lula. A fala em tom crítico aconteceu momentos após os convidados do podcast conversarem sobre assuntos como criminalidade e pena de morte. Vanilla afirma: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí? É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Em seguida, os outros participantes do podcast mencionam uma suposta proposta do ex-presidente Lula que buscaria “regular a mídia”, o que, na interpretação de um dos convidados, significaria “regular a internet,” e que a medida poderia “acabar com isso aqui [o podcast]”. Vanilla então, comenta: “Nazismo, o nazismo começou assim também”.

O trecho compartilhado, contudo, não mostrava a fala completa de Vicky Vanilla quando criticou Lula. Antes, ele havia criticado Jair Bolsonaro e dito que detestava o atual presidente (a partir de 1:46:03): “Todo mundo sabe que eu não tenho nenhum tipo de apreço pelo Bolsonaro, cara, eu detesto, mas o Lula me soltar… eu detesto Bolsonaro, para mim é escrotidão pura, até um vira-lata amarelo, se você votar no vira-lata caramelo vai ser melhor para você, vai fazer melhor para o país”, disse. Em seguida, ele fala sobre o petista: “Agora, o Lula também me soltar que o cara roubou, um ‘é só um celularzinho para ir tomar uma cervejinha’. Você viu isso aí?. É, é uma política de bosta, o cara vem falar ‘é só um celularzinho, companheiros, só pra tomar uma cervejinha’. Ah, vem roubar o meu, pra ver o berro na sua cara”.

Apesar de a fala de Vicky Vanilla ter sido descontextualizada, ele também engana ao citar a suposta declaração de Lula sobre “roubar celular para comprar uma cervejinha”. Não há qualquer registro que comprove que o ex-presidente tenha dito isso, conforme demonstraram Reuters, AFP Checamos, e Migalhas.

Após a repercussão dessas novas postagens, Vanilla novamente usou suas redes para declarar que sua entrevista ao podcast havia sido distorcida e que ele não possui nenhum alinhamento com Bolsonaro. Em um vídeo publicado em seu perfil no TikTok, ele disse: “Mais uma vez a minha fala e o meu posicionamento estão sendo colocados de uma forma totalmente desviada das minhas intenções originais (…). Falar que eu sou eleitor, cabo eleitoral do Bolsonaro, isso foi demais. Em todas as minhas lives e meus posicionamentos públicos eu jamais manifestei qualquer tipo de apoio à ideologia fascista do Bolsonaro, que não reflete em absoluto qualquer um dos ideais luciferianos de evolução, fraternidade e consciência política. Isso é um nítido caso de intolerância religiosa, a mesma intolerância religiosa que a esquerda diz combater assiduamente e que no momento está fazendo o contrário me colocando como cabo eleitoral do Bolsonaro, por causa de algumas entrevistas que eu dei no passado”.

Quem é Vicky Vanilla

Ele se apresenta no TikTok como “sacerdote, mago e palestrante”. Em seu site, diz ser “mestre e líder da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon”. Ele afirma que foi iniciado e desenvolveu sua mediunidade em religiões de matrizes africanas (umbanda e quimbanda), praticou o xamanismo ancestral brasileiro, estudou psicanálise e simbologia e já “lecionou as artes oraculares em famosas escolas esotéricas de São Paulo”.

Ainda segundo o site, a “síntese de tudo que Vanilla já aprendeu” é o luciferianismo gnóstico e a Alta Magia da Mão Esquerda. Além do perfil do TikTok com mais de 1 milhão de seguidores, Vanilla mantém uma conta ativa no Instagram e um canal no YouTube. Nas redes sociais ele publica conteúdos sobre seu cotidiano, explica conceitos do satanismo e do luciferianismo e também grava vídeos opinativos ou interagindo com seguidores.

O que é o luciferianismo e o que é satanismo?

Luciferianismo e satanismo são correntes diferentes. O primeiro é uma corrente filosófica, muito inspirada no Iluminismo, que enxerga Lúcifer não como um anjo caído, mas como um “portador de luz”. Ao contrário do que pensa o senso comum, os seguidores do luciferianismo não se opõem ao cristianismo, não pregam contra a Bíblia e nem deixam de acreditar em Deus.

“O luciferianismo tem um pensamento filosófico de Lúcifer pelo sentido da palavra, mesmo, o portador de luz. A ideia do luciferianismo é o culto ao próprio ser humano, aquela ideia de que você é a própria divindade. Ele é muito baseado na questão cristã europeia, de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Logo, o ser humano também é divino”, explica o historiador Elias Pereira, que é pós-graduado em História das Religiões.

Pereira aponta que os luciferianistas não seguem a Bíblia, mas não pregam contra ela. “Eles não são nem um pouco contra Deus. Acreditam em Deus, só que, para eles, Deus está dentro do ser humano”, diz.

Na entrevista ao podcast Supersônico Cast, o próprio Vanilla afirmou que “tudo é Deus” e que “Deus é o aqui e o agora”. “Se Ele [Deus] é o todo, eu não sou parte dele, porque parte significaria fragmento, fragmento indicaria separação. Então, eu sou Deus, vestindo uma experiência humana e temporária para que possa viver os seus sonhos. A vida é um sonho de Deus”, afirmou.

Há duas correntes principais do luciferismo: o clássico e o neoluciferianismo, muito mais presente hoje na sociedade. A principal diferença entre eles é que, no luciferianismo clássico, os seguidores enxergam Lúcifer como um ser físico, mas ainda assim como um mestre, e não como um demônio. Já o neoluciferianismo é uma corrente mais filosófica que acredita que, através de alguns ritos como meditações e orações, é possível despertar o divino dentro das pessoas.

Enquanto isso, o satanismo é diferente das duas correntes do luciferianismo. “O satanismo crê, por exemplo, que o diabo também está dentro do ser humano e isso é visto nas atitudes negativas, como os impulsos mais animalescos, a questão do instinto de sobrevivência, e isso faz com que o diabo dentro de cada um desperte”, aponta o especialista.

Professor do curso de Ciências das Religiões da UFPB, Johnni Langer, que é doutor em História e coordenador do NEVE (Nucleus of Vikings and Scandinavian Studies), comenta que os satanistas são mais filiados a correntes norte-americanas, enquanto os luciferianos seguem uma linha mais europeia. Ele destaca que não há unidade nesses grupos e há, inclusive, muitas mesclas e influências.

“Nem mesmo cultos em torno do diabo possuem qualquer tipo de união, congregação ou filiação de interesses, seja na esfera puramente religiosa ou política, em nosso país”, diz. Ele aponta, ainda, que os diversos cultos citados no primeiro vídeo de Vicky Vanilla não têm relações estruturais entre si.

“Historicamente e socialmente, são grupos que não possuem relação estrutural entre si, como as religiões afro-brasileiras, a Wicca e as vertentes do satanismo/luciferianismo. O que elas todas têm em comum é que, do ponto de vista imaginário, representam o mal absoluto para os grupos evangélicos, que formam uma das bases eleitorais do Bolsonaro”, explica Johnni Langer.

É verdade que algumas correntes do luciferianismo sofreram influência de outros grupos religiosos e filosóficos, mas isso não significa que atuem juntas. “Os luciferianistas acreditam em várias concepções que mesclam elementos do cristianismo com ocultismo”, diz Langer. Elias Pereira aponta que entre as referências está a quimbanda, de matriz africana, mas que está muito mais ligada à corrente clássica do que ao neoluciferianismo.

Atualmente, não é possível dizer, numericamente, quantos adeptos do luciferianismo existem no Brasil – essa doutrina não é citada nominalmente no censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Johnni Langer, a maioria das vertentes do luciferianismo não sobreviveu ao século XX, enquanto muitas outras surgiram no mesmo período. “Existem igrejas luciferianas no Brasil, mas são difíceis de serem contadas e quase sempre têm um caráter marginal e semi-secreto”, aponta.

Lula não é luciferianista, nem satanista, e sim católico

Além de Vanilla ter dito mais de uma vez que Lula não tem qualquer ligação com o grupo espiritual que ele lidera, a igreja de Lúcifer do Novo Aeon, o petista também desmentiu qualquer relação com luciferianismo ou satanismo. “A verdade, como já repetimos antes, é que Lula é cristão, católico, crismado, casado e frequentador da Igreja Católica. Não existe relação entre Lula e o satanismo”, diz nota divulgada pelo PT.

Lula se casou pela terceira vez no dia 18 de maio deste ano com a socióloga Rosângela Silva, a Janja. O casamento foi celebrado por um sacerdote católico, o bispo emérito de Blumenau (SC), dom Angélico Sândalo Bernardino.

Vanilla já apoiou Lula, mas avalia se manter neutro no 2º turno

Havia pelo menos dois vídeos no perfil de Vicky Vanilla no TikTok de apoio ao ex-presidente Lula, mas eles foram apagados. Em um vídeo gravado em 6 de outubro, Vanilla disse que o material foi retirado do ar por ordem do TSE. Ele criticou a decisão, apontou que foi vítima de intolerância religiosa e que está avaliando se manterá o apoio a Lula no segundo turno ou se ficará neutro. De qualquer forma, antes da derrubada do material, Vanilla tinha afirmado que o apoio dele a Lula não era institucional nem religioso, e sim pessoal, como cidadão.

“Eu me posicionei democraticamente a favor do Lula, não religiosamente. O Lula não tem qualquer vínculo com o luciferianismo ou com o satanismo. Eu, na minha qualidade de cidadão, é que manifestei a minha intenção política”, disse, em um vídeo postado na rede no dia 5 de outubro de 2022. No mesmo vídeo, o influenciador negou que seja eleitor de Bolsonaro. Há, no perfil de Vanilla, mais de um vídeo com críticas a Bolsonaro pelo menos desde maio deste ano.

A suspensão do conteúdo de apoio a Lula foi, realmente, determinada pelo TSE. A Coligação Brasil da Esperança, do petista, entrou com uma representação no dia 4 de outubro de 2022 contra o responsável pelo perfil de Vicky Vanilla no TikTok e contra bolsonaristas que espalharam o vídeo que viralizou nas redes.

No pedido, a coligação, os advogados disseram que “o que se observa é um indivíduo, que conta com quase um milhão de seguidores apenas na mencionada rede social, afirmando ser seguidor do satanás, entidade bíblica que sabidamente representa o mal na Terra, fazendo vídeos de apoio à candidatura de Lula. Com isso, tal tema se difunde nas redes sociais e aplicativos de mensagens eletrônicas de tal sorte que, em pouco tempo, emite-se a nociva mensagem que os adoradores do demônio apoiam Lula”. A defesa do candidato petista disse ainda que “os apoiadores do candidato Jair Bolsonaro não perderam a oportunidade de propagar, com base nas publicações do usuário @vicky_vanilla_official, a mentirosa associação do candidato Lula a Lúcifer, espalhando desinformação na Internet“.

Na decisão, tomada em 5 de outubro, o ministro do TSE Paulo de Tarso Vieira Sanseverino mandou que TikTok, Twitter, YouTube, Instagram, Facebook e Gettr removessem as publicações no prazo de 24 horas, sob pena de incidência da multa diária no valor de R$ 50 mil, em caso de descumprimento. Ao acatar o pedido da defesa de Lula, o ministro destacou que a livre manifestação do pensamento do eleitor na internet só é passível de limitação quando ofende a imagem de candidatos, partidos, federações ou coligações, ou quando são divulgados fatos sabidamente inverídicos.

“Contata-se que o perfil @vicky_vanilla_official contém aproximadamente um milhão de seguidores, na rede social TikTok, e o seu responsável e administrador se apresenta como sacerdote, mago e palestrante. O referido perfil divulga conteúdos relacionados a ideologias ou crenças relacionadas ao satanismo, de modo a promover admiração a personagens religiosos como Satanás e outras figuras similares como Belzebu e Lúcifer. Ocorre que o responsável pelo perfil – sob o argumento do exercício legítimo do direito à liberdade de opinião ou expressão – divulga conteúdos manifestando suposto apoio político a Luiz Inácio Lula da Silva, o que acaba por associar indevidamente a imagem do candidato a ideologias e crenças satânicas. O resultado é que as publicações produzidas e divulgadas pelo perfil @vicky_vanilla_official estão sendo disseminadas nas redes sociais por diversos outros usuários, gerando desinformação com o nome e a imagem do candidato da coligação representante. É forçoso reconhecer que a propagação desses conteúdos, sem nenhum consentimento do candidato ofendido, tem o potencial de interferir negativamente na vontade do eleitor”, diz o texto da decisão, que tem caráter liminar.

Por que explicamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia, eleições presidenciais e políticas públicas do governo federal que circulam nas redes sociais. A seção Comprova Explica é utilizada para a divulgação de informações a partir de conteúdos que viralizam e estão causando confusão, como o vídeo postado pelo mestre e líder da igreja de Lúcifer do Novo Aeon, Vicky Vanilla, em favor da vitória do candidato à presidência Lula da Silva no 1º turno, que acabou não se concretizando.

Outras checagens sobre o tema: O Comprova já fez diversas checagens envolvendo falsas associações entre o candidato à presidência Lula e a religião, como a de um vídeo que foi editado para sugerir falsamente que o petista defende o fechamento de igrejas. Antes do primeiro turno das eleições, a seção Comprova Explica também demonstrou quem era o Padre Kelmon, candidato à presidência pelo PTB que ganhou destaque, principalmente, a partir de sua participação em debates na televisão e seus ataques ao ex-presidente Lula e ao PT.